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Está tão frio no saguão quanto lá fora. A mesa de registro tem um buraco do tamanho de uma bota nela. Atrás dela, um velho está sentado com um pente ruim na cabeça e óculos grossos, lendo o jornal. A pequena TV presa na parede tem uma imagem irregular e sem som. Um maltratado telefone público está montado sobre uma prateleira com alguns desbotados folhetos turísticos para Canobie Lake Park, Robert Frost Farm, e o Museu de Motoneve de Nova Hampshire. Em uma porta está marcado PRIVADO e em outra diz BANHEIRO - APENAS CONVIDADOS.

Eu não deveria estar aqui. Eu deveria estar em Trigonometria. Não, em História. Eu deveria voltar para o carro e dirigir até a escola, diminuindo nas faixas de pedestres e parando nos sinais amarelos. Obedecendo todos os limites de velocidade.

— Sim? — o homem olha para mim e aperta os olhos. —Você quer um quarto?

Eu balanço a cabeça. —Não, senhor.

—Bem, então o que você quer? — sua voz está molhada com alcatrão. — Veio ver onde ela morreu? — não é a voz da secretária eletrônica.

Eu dou um minúsculo aceno de cabeça.

— Dez dólares para dar uma espiada, — ele estende a mão e vira os dedos em direção a sua palma.

Eu abro minha carteira. —Só tenho uns cinco.

— Isso vai dar. — Depois que eu entrego as notas, ele grita — Lie-juh!"

A porta do banheiro se abre. O cara que sai parece um par de anos mais velho que eu, e é quase 30 cm mais alto, com espesso cabelo preto que cai sobre seus ombros e óculos de aro preto. Sua pele é açúcar branco e, sobre uma fina barba, seu rosto está quebrado como um campo de lava. Ele está usando botas com pontas de aço, largas calças pretas de trabalho, e uma camisa dos Patriots com um rasgo na gola. Seus olhos são da cor de fumaça e estão rodeados com delineador grosso. Um alargador de madeira marrom preenche o lóbulo de sua orelha esquerda.

Ele balança a chave prata em suas mãos e sorri. — Você tocou, seu Slimeship?

Essa é a voz.

— Ela quer ver, — diz o homem mais velho, fixando meu dinheiro em seu bolso. — Mostre-lhe.

A atitude arrogante é drenada, e seu sorriso desaparece. Ele coloca a chave no balcão e murmura, —Siga-me.

Quando eu saio, o velho grita: —Não roube nada. Tudo isto é propriedade do motel.

Passamos por portas de metal, 103, 105, 107. Está faltando a maçaneta da 109. A 111 está pichada com tinta spray preta, mas não consigo entender o que está escrito.

O cara para tão de repente em frente à porta 113 que eu bato em suas costas.

—Desculpe.

Sem problemas. — Ele desprende um pesado molho de chaves de seu cinto, balançando a cabeça. —Você está aqui em uma aposta?

— Perdão?

— Um garoto veio aqui uma hora atrás, — ele mantém os olhos em suas mãos, procurando entre as chaves. — Seus amigos o desafiaram.

Ele pega uma chave entre o polegar e o dedo indicador deixando as outras deslizarem pelo molho. —Ele queria ver se havia sangue.

Folhas marrons passam correndo por nós. O vento sopra meus cabelos na minha cara. Eu os ponho atrás das orelhas. —Você estava aqui... ?

Ele enfia a chave na fechadura, de costas para mim, a voz estável como a de um guia de museus. —Eu tive a noite de folga. Assisti basquete em um bar no centro, depois fui para a casa de um cara jogar pôquer. Ganhei oitenta dólares. Deu-me um inferno de um álibi. — A porta range enquanto ele a abre. —Já descobriram o que a matou?

Eu balanço a cabeça. —Acho que não.

Há rajadas de vento novamente. —Espero que tenha sido rápido.

O cômodo atrás dele está cheio de escuridão. Eu tremo. Essa é a última porta que Cassie atravessou. Ela entrou viva e saiu morta.

Eu não devia ter vindo aqui.

Você tem um nome? — ele pergunta.

—O quê? Eu? — eu tremo tanto que meus dentes chocalham. Eu não conheço esse cara e eu não sei por que ele quer falar comigo. —Sim, hmm, eu sou Emma.

Você?

Elijah.

Eu envolvo meus braços ao meu redor. — Ela estava chateada quando se registrou?

Ele balança a cabeça. — Não a vi até que fosse muito tarde. Eu moro no 115. Quando voltei depois do jogo de pôquer, encontrei a porta aberta e as luzes ligadas.

Encontrei-a.

Eu me movo para longe dele, apertando os olhos fechados. Tudo em meu corpo dói, como se eu estivesse gripada, ou como se o ar que corre para fora do 113 estivesse me infectando com alguma coisa. Meu coração bate contra sua gaiola de osso, mais e mais, sangue escorre para baixo até as rachaduras no chão.

— Eu verifiquei o pulso, — continua. — E chamei o 911.

— Pare, — eu sussurro.

Ele regurgita sua história mastigada para mim, outro cliente pagando para se banquetear sobre a loira morta. Caminhe em direção ao show de aberração, faça um vídeo com seu telefone, publique o sangue. Aperte o laço de arame escondido debaixo de sua clavícula.

Eu abro meus olhos e olho ao redor. Ele está dentro, nas sombras, alcançando a luz sobre a cômoda.

— Eu disse para parar, — eu digo em voz alta. —Eu não quero ver mais nada. — Eu me afasto, as pernas tremendo. —Eu tenho que ir agora.

— Ei, — ele chama depois de mim. —Volte.

Eu zumbo para mim mesma para abafar a voz dele.

— Ei!, — ele grita. —Você conhece uma garota chamada Lia?

Eu paro, a mão na porta do carro. —O quê?

Ele corre até mim, parando alguns passos a frente do pássaro morto. —Eu estou procurando por alguém chamada Lia. Ela pode ir para a mesma escola que você.

— Por quê?

Ele cruza os braços sobre o peito e treme uma vez. O vento mudou para o norte. —Eu só estou tentando encontrá-la.

O pássaro agita suas asas, ossos chocalhando como dados.

— Desculpe, — eu digo. — Nunca ouvi falar dela.

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Obs: Onde tiver essa marcação ["----"] em negrito significa que a personagem esta apenas pensando e não falando.

A garota de vidroOnde histórias criam vida. Descubra agora