O cinema está vazio, exceto por mim na fila de trás e três babás mães com crianças pegajosas na frente. A luz projetora pega uma galáxia de espiralados flocos de pele e cascas de pipoca no ar. Animes mutantes combatem caras maus na tela, uma barata matinê de Japanimação.
Eu abro a sacola da farmácia.
Duas das ["babás"] mães conversam entre si, enquanto a terceira fala ao celular. As crianças pulam para cima e para baixo em seus assentos. Acima deles, monstros robôs destroem uma aldeia. Os heróis de olhos grandes se transformam em pessoas-raposas que disparam fogo de suas patas.
Eu pego a caixa de lâminas de barbear para fora da sacola.
:: Estúpida/ feia/estúpida/ vadia/ estúpida/ gorda/ estúpida/ bebê/ estúpida/ idiota/ estúpida/ perdedora/ estúpida/ perdida ::
Um monstro robô roxo joga um caminhão em um cara- raposa. Os alto falantes vibram como ecos de trovões quando o caminhão cai no chão. As crianças na platéia não estão nem mesmo assistindo. Elas estão brigando sobre sua pipoca e doce, e se lamentando sobre ir ao pinico.
A caixa se abre e as lâminas deslizam para fora, doce sussurro. Aquele costumava ser meu corpo inteiro, era meu quadro - cortes quentes lambendo minhas costelas, degraus subindo em meus braços, grossos oficiais-de-sala jogando talos em minhas pernas. Quando eu me mudei para Jenniferland, meu pai deu uma condição. Uma filha que esquece como comer, bem, era ruim, mas tinha sido apenas uma fase e eu já tinha superado. Mas, uma filha que abre sua própria pele, querendo deixar sua casca cair até o chão então ela poderia dançar? Isso era apenas doentio. Sem cortes, Lia Marrigan Overbrook. Não sob o teto de papai. Linha de fundo. Trato desfeito.
Os heróis-raposas na telona transformaram seus olhos em raios. Eles rangeram os dentes e estremeceram quando os monstros os jogaram contra a montanha, mas eles sempre, sempre voltavam, tocavam seus lenços vermelhos e riam.
Toda a maldade fervia em minha pele, avaras bolhas de gingerale{10} lutando para respirar. Eu desabotoo meus jeans, abrindo um dente do zíper de cada vez. Eu me viro para a direita e puxo para baixo o elástico da minha calcinha. Arqueio meu quadril esquerdo para cima, brilhando azul à luz do filme.
:: Estúpida/ feia/estúpida/ vadia/ estúpida/ gorda/ estúpida/ bebê/ estúpida/ perdedora/ estúpida/ perdida ::
Eu escrevo três linhas, silêncio silêncio silêncio, em minha pele. Fantasmas pingam para fora. Os mutantes entram em vários jatos e seguem os monstros para um asteróide. Uma babá mãe arrasta a criança que tem que fazer xixi até o saguão. Os mutantes entram em vários jatos e seguem os monstros.
Eu coloco a lâmina de volta na caixa, e coloco a caixa de volta na sacola e pressiono minha mão contra os cortes molhados até que os créditos apareçam. Pouco antes das luzes acenderem, eu ponho meus dedos em minha boca.
Eu tenho gosto de bairros sujos.
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Obs: Onde tiver essa marcação ["----"] em negrito significa que a personagem esta apenas pensando e não falando.
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A garota de vidro
RandomEssa é uma historia pulicada de verdade por uma editora. Como eu, muitas pessoas nunca conseguiram encontrar o livro para comprar. Então consegui uma copia online e vou postar a historia. Sei que o que estou fazendo é errado, mas é para o deleite de...