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— Acorde, Lia! — Emma grita no meu ouvido. — Você vai se atrasar! Você vai ficar em apuros.

Estou embaixo do edredom tingido de Emma, minha cabeça no elefante. O quarto dela cheira a lençóis secos e gatos.

— Não vá voltar a dormir!

— Que dia é hoje? — eu pergunto.

— Você sabe, — diz ela.

Hoje é a quarta feira do velório.

A aula de História é uma palestra sobre genocídio, terminando com dez minutos de fotografias de crianças polonesas mortas pelos alemães na Segunda Guerra Mundial. Um par de meninas chora e os caras que usualmente fazem espertas observações bestas olham pelas janelas. Nosso professor de Trigonometria está profundamente, profundamente decepcionado com os últimos resultados de nosso teste. Temos outro cochilo filme em Física: Uma Introdução a Impulso e Colisão. Meu professor de Inglês enlouquece por que o governo está exigindo que façamos outro teste para avaliar nossas habilidades de leitura, por que somos alunos do último ano e muito em breve nós teremos que ler ou algo do tipo.

Eu como em meu carro: refrigerante diet (0) + alface (15) + 8 colheres de sopa de salsa (40) + ovo branco cozido (16) = almoço (71).

Dois minutos antes de a campainha soar para nos libertar no final do dia, os alto falantes me ordenam a ir ver a conselheira, a Srta. Rostoff, na sala de conferências. A maioria das garotas do time de futebol feminino está lá também, junto com amigos de Cassie da equipe de teatro e um par de garotas do musical. Mira, minha parceira de estudo de espanhol do segundo ano, acena para mim quando eu entro. Ela estava em nossa tropa Girl Scout quando éramos pequenas.

Nós estamos aqui para compartilhar nossos sentimentos e discutir um memorial à memória de Cassie, — assim seu espírito viverá. — A sala está congelando.

A Srta. Rostoff tem caixas de tecidos decoradas com gatos alinhadas sobre a mesa. Dois galões de ponche vermelho da loja de desconto e pequenos copos de papel estão dispostos em uma linda exposição próximos ao prato de biscoitos genéricos preto-e-branco. A Srta. Rostoff acredita no poder de cura da comida. Ela me ama mais do que ninguém por que eu sou como uma bagunça, eu tenho que ver um psicólogo de verdade no mundo de verdade, e eu tenho que ir para a faculdade em que meu pai ensina, então me aconselhar levou apenas dois minutos.

As garotas do teatro sobem no sofá surrado e no tapete em frente a ele. O time de futebol rodeia em estranhas cadeiras da sala de conferência. Eu me sento no chão, perto da porta, minhas costas contra a saída do aquecedor.

Enquanto esperamos por retardatários, o time de futebol reclama sobre como não possuem tempo bastante na sala de musculação, as garotas do teatro reclamam sobre a nova diretora, uma prima donna que tem confundido nossa escola com a Broadway. Eu meço-me; eu não posso atuar ou jogar futebol, e a maioria delas tem notas melhores que as minhas. Mas, eu sou a menina mais magra na sala, mãos para baixo.

Há uma pausa estranha entre as histórias e a sala fica muito quieta. Alguém peida baixinho. O calor entra.

Eu não sei como fazem isso. Eu não sei como alguém faz isso, acordar todas as manhãs e comer e se mover do ônibus para a linha de montagem, onde professores robôs nos injetam com Assunto A e Assunto B, e passam cada teste que eles nos dão. Nossos pais fornecem a lista de ingredientes e nos lembram de fazer escolhas saudáveis: um esporte, dois clubes, um objetivo artístico, serviço comunitário, sem notas abaixo de um B, por que realmente, ninguém é comum, não por aqui. É uma dança com complicados jogos de pés e mudança de tempo.

Eu sou a garota que tropeça na pista de dança e não consegue encontrar o caminho para a saída. Todos os olhos em mim.

A Srta. Rostoff olha para o seu relógio. Ele mostra melhor a hora que o relógio na parede. — Tudo bem, garotas.

Uma garota do teatro levanta a mão - IMC 20. Talvez 19.5. Seus tênis estão pintados, um com um incrivelmente pequeno xadrez de mil cores, o outro com amarelos rostos felizes alternando com caveiras pretas. — Srta. Rostoff? Podemos ter um momento de silêncio?

A Srta. Rostoff calcula. Será que nossos pais reclamarão na diretoria da escola se ela permitir um ritual religioso em seu escritório? Ou eles gritarão se ela nos negar nossa liberdade de expressão religiosa?

— Todo mundo está de acordo?

Nós acenamos, as cordas ligadas à nossas cabeças se movimentando.

— Ok então. — Ela olha para o relógio novamente. — Um momento para Cassie.

As garotas do teatro e as jogadoras de futebol abaixam as cabeças. O faço, também. Devo rezar, eu acho. Eu nunca posso falar com momentos de silêncio. Eles são tão... silenciosos. Vazio.

Alguém funga e puxa um lenço da caixa. Eu espio através de meus cílios. Os olhos de Mira estão fechados apertados e seus lábios estão se movendo. Uma garota que eu nunca tinha visto antes enxuga o rosto com um lenço de papel Kleenex sujo do bolso. Uma jogadora de futebol pega seu telefone para ler um texto. A Srta. Rostoff esfrega suas unhas artificiais contra o polegar, e em seguida olha o relógio novamente.

— Obrigada, todo mundo. Ela proclama as regras estabelece os parâmetros de nossa discussão. Nós não falaremos sobre como Cassie morreu, ou por que, ou onde, ou quem nesta sala poderia ter feito algo para detê-la ou pelo menos retardarla. Estamos aqui para celebrar a vida dela.

trinta e três chamadas.

A Srta. Rostoff já arranjou uma página memorial no anuário, e ela escreveu um obituário para o jornal da escola. O time de futebol diz que elas estão dedicando o resto da temporada para Cassie, as duas semanas. As garotas do teatro querem um momento antes de o musical começar, quando as luzes da platéia apagarem e o palco estiver escuro, para acender uma única rosa em um vaso no centro do palco enquanto o coro canta — Amazing Grace, — e então a estrela da peça lerá um poema sobre a tragédia que é morrer cedo.

A ideia é reduzida à rosa em foco por um minuto e uma menção no boletim da peça.

— E você Lia? — Mira se inclina para frente para me ver melhor. — Você quer fazer algo especial? Vocês garotas, foram melhores amigas.

Fomos.

— Estas são grandes ideias, todas elas, — meus lábios dizem.

— Mas, eu acho que a Srta. Rostoff deve conversar com os pais de Cassie. Conseguir a opinião deles.

Desvio de sucesso. A conselheira fala sobre a perda da família e como nós podemos apoiá-los e como devemos estar lá uns para os outros e como sua porta está sempre aberta e as caixas de lenços sempre cheias. Antes de irmos, a capitã do time de futebol lembra o time de usar o uniforme no velório hoje à noite. Mira diz que todos do teatro irão de preto.

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Obs: Onde tiver essa marcação ["----"] em negrito significa que a personagem esta apenas pensando e não falando.

A garota de vidroOnde histórias criam vida. Descubra agora