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Emma está sentada no banco de trás assistindo a um filme no DVD player em seu colo, comendo batata frita e bebendo Mountain Dew descongelada.

— Não diga a Jennifer, — eu digo.

—Uh-huh.

— Sério. Ela vai gritar.

— Eu ouvi. Não diga ou ela vai gritar. — Os olhos de Emma estão colados na tela, levando batatas uma a uma à boca em um recipiente rosa.

Estamos perdidas. De novo. Meu pai não quer me dar um GPS por que ele diz que eu tenho que aprender a me locomover por mim mesma. Como posso descobrir aonde vou se estou sempre perdida? Pedirei à Jennifer. O Natal está chegando.

Passamos por um celeiro aos pedaços com o telhado quebrado, e um colchão manchado empurrado contra o sinal de limite de velocidade. Você não perceberia se um colchão caísse de seu carro? Talvez estivesse na traseira de um caminhão carregado com todas as coisas de uma garota, levando-a a algum garoto que ela conheceu on line. Ela prometeu-lhe seu corpo e alma. Ele a prometeu três refeições por dia e uma casa, mas disse que o lugar precisaria de mais móveis. Ele não parou quando o colchão caiu. Uma esposa nova merece uma cama limpa, é o que ele sempre disse.

Talvez alguma garota motociclista usando couro, machona e forte, está descendo a estrada em 1 km e meio, ou esteja atrás de mim. A qualquer minuto, algum idiota entrará na frente dela e ela desviará e a moto capotará e a fará gritar porque ela esqueceu suas asas novamente e a gravidade nunca perdoa e então ela vai bater naquele colchão desagradável. E sim, ela vai acabar com três costelas quebradas, um fêmur fraturado, e um pescoço deslocado, mas os motoristas da ambulância nunca mencionarão isso. Eles sempre falarão sobre como o colchão velho na beira da estrada salvou a vida da garota. O cheiro da batata frita de Emma está fazendo isso com meu cérebro.

No momento em que acho o campo Richland Park, o treino já começou. Emma quer ficar no carro até o fim do filme.

—Você precisa ir para lá, — eu digo.

Ela geme e fecha o player. —Odeio futebol.

— Então fale para eles que você quer parar.

— Mamãe diz que a temporada está quase no fim e eu não estou autorizada.

— Então vá lá e jogue. Divirta-se.

Ela olha meus olhos pelo espelho retrovisor. — Ninguém chuta a bola para mim.

Emma é um colchão que caiu para fora do caminhão quando seus pais se separaram. Não consigo me lembrar da última vez que seu pai telefonou para ela. Jennifer está determinada a torná-la a perfeita-garotinha que se tornará a perfeita-senhorita-adolescente cujos grandes feitos provarão ao mundo que Jennifer é uma mãe absolutamente perfeita.

Não é como se você pudesse culpar um colchão quando as pessoas não o amarram forte o bastante. Abro minha porta. —Vamos lá. Eu vou chutar a bola para você.

Ela fecha o player e o joga no banco. —Não, você disse que tem lição de casa.— De repente ela não pode sair rápido o bastante. —Tchau, Lia. Dirija com cuidado.

Levo um par de batimentos cardíacos para perceber o que acabou de acontecer. Um. Dois. Três. Os cheiros estão mexendo com meus neurônios novamente.

Eu abaixo a janela. —Emma. Espere.

Ela caminha lentamente de volta ao carro, abraçando apertadamente a bola de futebol. —Que é?

—Mudei de idéia. Quero ver você treinar. Onde devo me sentar?

Seus olhos se abrem. — Não, você não pode.

—Por que não? Outras pessoas estão assistindo. Você pode assistir do carro. É mais quente. —Um, é só... , — ela olha para suas chuteiras e murmura. —

Há gritos no campo, crianças de nove anos se preparando para a matança. Uma partida de futebol é intensa.

— Emma, olhe para mim. —Como é que a voz de Jennifer saiu da minha garganta? — Por que você não quer que eu saia do carro?

Ela chuta o cascalho. Pequenas pedras saltam para cima e batem na porta do carro.

— O técnico me perguntou se era verdade que você tinha câncer. — Ela chuta novamente. —Por que ele ouviu que você estava no hospital e... você sabe. Eu disse que sim. — Apitos são assoprados no campo. — Desculpe-me. Eu não sabia o que dizer.

— Está tudo bem, — eu digo. —Eu entendo. Não se preocupe com isso.

A bola desliza para fora de suas mãos e rola em direção ao campo. — Você não está brava comigo?

— Eu nunca poderia ficar brava com você, boba.

Ela finalmente olha para cima. — Obrigada, Lia.

— E você está certa, eu tenho uma tonelada de dever de casa. — Eu ligo o motor. — Meus professores adorarão você por me fazer trabalhar neles. Te vejo mais tarde?

Ela sorri. — Ok. Acho que sobrou batata, se você estiver com fome.

Eu fecho a janela.

Euqueimarei no inferno por isso, mas é verdade.

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Obs: Onde tiver essa marcação ["----"] em negrito significa que a personagem esta apenas pensando e não falando.

A garota de vidroOnde histórias criam vida. Descubra agora