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— Acorde, Lia!, — Emma sacode meu ombro.

Eu gemo e me enterro mais profundamente no casulo quente.

— Acorde!, — ela acende a luz. — Você vai se atrasar. Eu abro meus olhos e levanto a mão para bloquear o clarão. Eu ainda estou vestindo as minhas roupas. Está escuro lá fora. — Que horas são?

— Duh, — Emma diz. —Depois das seis e meia.

Meu quarto cheira a roupa suja e a velas velhas, não a especiarias ou açúcar queimado. Eu enfio minha cara no travesseiro. — Mais cinco minutos.

— ela puxa o edredom

— Você tem que se levantar agora, para longe de mim. —Mamãe disse.

— Ei! Está frio.

— Não grite; mamãe está com uma enxaqueca. Tentei te acordar de forma agradável, mas você não se moveu.

Eu balanço minhas pernas para um lado da cama e me sento. Não há teias de aranhas à vista, sem pétalas de rosa no carpete. Cassie está no necrotério, uma fenda na barriga e drenada como um peixe recém capturado. Não aconteceu.

Eu tremo, puxo o cobertor para cima, e o envolvo em torno de meus ombros. —Onde está o meu pai?

É Terça Feira, boba. Dia de squash{9}. Por que a abobrinha é o único vegetal que tem um jogo com seu nome?

Merda. Terça Feira.

—Onde Jennifer está?

— Secando o cabelo. Aonde você vai?

É Terça Feira.

Eu desço as escadas correndo até a lavanderia, o mais longe dos ouvidos de Jennifer que eu posso ir. Eu abro a torneira, magra em cima da pia, e bebo até que minha barriga seja um grande balão de água. Eu velejo pela maré em direção a cozinha, muito pesada com o lastro, ondas salpicando.

Quando Jennifer aparece com o cabelo seco e delineador desleixado, eu estou na primeira xícara de café do dia. Preto. Eu tenho o prato sujo de meu pai em frente a mim, então parece que eu comi torradas e geléia.

— Enxaqueca? — eu pergunto.

Ela acena com a cabeça uma vez, estremece, e coloca uma caneca de água no micro-ondas.

Minha pequena não-irmã empurra uma caixa de sapatos diorama através da mesa para mim. — É um coliseu na Grécia, — ela diz. —Onde torturaram pessoas e os deram de comida para os tigres.

—Parece com o ensino médio, — eu digo. —Isso não é engraçado, — Jennifer diz. — E é o Coliseu Romano, em Roma, não na Grécia. Pare de tocá-lo, Emma. A cola ainda não secou. — O micro-ondas bipa. Ela pega a caneca, estatela um saco de chá que cheira como limões, olha para o relógio e diz, — Venha, Lia. Lá em cima.

A segunda vez que me deixaram sair da ["prisão New Seasons"] clínica, seis meses atrás, eu me divorciei da ["minha mãe"] Dra. Marrigan e me mudei para Jenniferland.

Uma vez passado o choque, papai gostou da idéia. Seria um novo começo, ele disse. Com uma rotina previsível e alguém que sabia cozinhar. Em cada manhã de verão eu fiz à boa-filha confusa na cozinha e me sentava à mesa do café com meu pai (dos papéis de licença: — as refeições familiares devem ser leves e agradáveis"). Ele me deu uma palestra sobre sua mais recente pesquisa sobre a vida entediante de algum cara morto enquanto eu comia pequenas garfadas de omelete de cogumelos e mordiscava o bagel de canela com manteiga.

A garota de vidroOnde histórias criam vida. Descubra agora