confie e acredite

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Pov Hugo

Olhava fixamente a parede branca a minha frente, piscava rapidamente tentando absorver as palavras do médico

“As chances são mínimas”

Perguntava-me se poderia ser uma pessoa amaldiçoada, um homem que não pudesse ser feliz, eu não poderia passar por isso uma segunda vez, Caroline estava em uma cesárea de emergência, mesmo ainda estando em seus sete meses, ela passaria por uma cirurgia longa e complicada, minha filha ficaria em uma encubadora por ser prematura ainda, antes de fazerem a cesárea um ultrassom foi feito, Lavinnea estava com peso e tamanho adequados para sete meses, escutei um choro baixinho quase mínimo vir da porta ao lado, nem o parto de minha filha pude assistir, pelo estado que Carol se encontrava, segundo os médicos, os minutos se passaram e vi uma enfermeira saindo com a minha filha nos braços.

-Me acompanhe pai, temos uns minutos antes da cirurgia de sua esposa começar.

Respirei fundo olhando a porta ao lado e sentindo minhas bochechas molharem, nunca fui uma pessoa devota, mas naquele momento implorava a qualquer entidade superior que me entregasse mãe e filha bem, estava feliz com nascimento de minha filha mesclado com a dor de poder perder Caroline, não aceitaria, eu não era uma pessoa ruim a ponto de perder mais uma mulher que amei, Caroline custou quebrar as muralhas que havia erguido em meu coração e agora ela iria partir e me fazer sofrer?

Não, tinha que confiar, Caroline era tão teimosa a ponto de brigar com a morte que insistia em levá-la.

Olhei a pequena que estava sendo vestida nesse momento apenas com uma fralda, seus olhinhos estavam fechados, suas mãos fechadinhas e toda encolhidinha, havia poucos resquícios de fios de cabelos ali, pareciam ser loiros escuros, uma mistura do meu com a da Carol, uma mantinha foi colocada sobre ela e a mesma foi para meus braços, a olhei, parecia estar em um sono tranquilo, dei um beijo em sua testa sentindo me acalmar um pouco, logo ela foi arrancada de meus braços, senti uma dor ao vê-la sendo colocada na encubadora, aquele bercinho todo fechado e de vidro, Deus ajuda que ela não seja claustrofóbica como eu.

-Ela não sentirá frio? Você a deixou somente de fralda

-Não se preocupe pai, a encubadora é uma espécie de barriga da mãe, é aquecida igualmente e o oxigênio que corre ali é como se fosse o mesmo que ela respirava com a mãe, ela está toda encolhida assim porque pensa estar ainda na bolsa amniótica, sua filha é extremamente saudável, ela só precisa se desenvolver um pouco mais na encubadora, daremos toda assistência, qual o nome dela?

Lavinnea o nome que Carol havia escolhido, porém ainda não havíamos completado o nome

-Lavinnea Vitória Bertolazzi

-Lindo nome

Fiquei do lado da sala olhando minha filha dormir tranquilamente, até sentir um abraço, as mãos apertaram meu quadril e uma cabeça repousar um pouco mais abaixo do meu peito. Julieta

-Minha irmã Hugo, como ela está, ela está viva não está?

Olhei para baixo vendo dois olhos infantis e curiosos me observando totalmente vermelhos, sabia como essas duas eram apegadas, olhei mais a frente e dona Ana me olhava aflita e ao mesmo tempo com ódio

-Isso tudo é sua culpa, se ela não tivesse conhecido você, ela não teria um próprio carro, ela não teria se envolvido em um acidente.

Fechei os olhos, sabia o que ela falava era totalmente insano, mas se modificássemos um pouco as palavras, seria sim o culpado, se não a tivesse a forçado se casar comigo, ela provavelmente não teria esse destino pois eu sou um imã para tragédias, mas sempre envolvendo pessoas que amo e não a mim mesmo.

- Não fale besteira mamãe, Hugo não é culpado, sabe que foi um acidente, e sabe também que o ônibus que Caroline usava diara mente também se envolveu e se ela estivesse indo trabalhar naquela hora?

Não sabia que também havia envolvido um ônibus, mas quando recebi a ligação do hospital, não quis saber nada além dela, ela havia se calado.

- Como está Carol e minha neta?

- Ela vai entrar em cirurgia e foi feita uma cesárea de emergência Lavinnea passa bem

Apontei para onde ela estava e as duas se viraram e um sorriso mínimo abriu no rosto das duas, voltei para o corredor de onde tinha vindo e me sentei, as horas passaram lentamente, todos estavam como eu esperando por uma mísera notícia, meus pais, dona Ana e Julieta, as vezes ia ate o grande vidro ver minha filha, ela estava bem, como sempre dormindo, acordava tomava o leite que o hospital oferecia e dormia novamente, estava muito novinha para se manter acordada.

Fechei os olhos ao lembrar a enfermeira me contando que Carol chegou desacordada e um único nome saía de sua boca, Hugo, e como ela sempre andava com documentos não foi difícil me localizar, coloquei as duas mãos em meu rosto, sentindo meu ombro chocalhar, tremendo levemente, estava chorando, as chances dela não eram mínimas, não aceitaria isso que o médico disse, se existisse um Deus no céu ele não permitiria, médicos não são Deus, eles não sabem nada, NADA

-Calma meu amor, ela ficará bem, só confie e acredite- Minha mãe disse afagando meus cabelos

-Estou tentando mamãe.

Olhei para frente e Ana me olhava, sua feição era de completa dor, mesmo assim me encarava a todo instante, talvez pensando que deveria ser eu no lugar de sua filha, e ela estava certa, se para mim estava difícil suportar toda essa dor, para ela deveria ser pior, era a mãe dela, ela estava perdendo parte de sua alma, pois era isso que minha mãe me dizia que eu era um pedaço de sua alma, tudo o que sentia, ela sentia também, estávamos ligados.

Meu pai havia levado Julieta para comer algo, ali não era lugar para uma criança de onze anos, onde a cada minuto chegava mais e mais pessoas feridas e outras choravam porque um ente querido não havia resistido.

Exatamente seis horas, seis horas sentado esperando por uma notícia, uma direção, uma luz, quando um médico saiu da sala de cirurgia, com uma expressão cansada e abatida, todos nós levantamos de uma vez.

- Foi uma cirurgia complicada, a paciente teve duas hemorragias durante o processo.

Juro que senti meu coração parar de bater por um segundo e depois acelerar e ficar tão alto que todos poderiam ouvir as batidas, minha mãe segurou minha mão firmemente.

- A batida na cabeça foi muito forte e se formou um coágulo, removemos boa parte dele, o restante não poderíamos mexer, é uma área delicada, pois a paciente corria o risco de ficar cega ou perder movimentos do corpo.

Gelei, Caroline não merecia isso

- E como ela está?

Olhei para minha sogra que olhava o médico aflita

-Sinto muito, a mesma se encontra em coma, agora nos resta esperar e confiar

Foi naquele momento que meu mundo desabou.

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