Aconteça o que acontecer

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Pov Hugo

Meus olhos ardiam, segurava as lagrimas que insistiam em querer vir, agora entendia perfeitamente o significado a frase que dizia qual é o peso de uma lágrima, não queria mostrar o quanto estava fragilizado pela morte do meu pai, aperto os olhos quando vejo que não conseguiria conter a maldita lágrima que insistia em querer cair, seis meses havia passado e ainda não me conformava como ele partira tão subitamente, nem me dando a chance de me despedir, ele não tinha o direito de esconder que estava doente, que recusou o tratamento porque não queria ficar debilitado, preferiu viver os últimos dias, ou melhor os dois últimos anos com força e vigor, era bem o modo de Raul Bertolazzi pensar, suspiro profundamente, olhando minha pequena Lavinnea brincar no chão da sala com seus blocos educativos, estava com seus oito meses, ao lembrar que me casei por ambição, por um contrato, para ser herdeiro do império Bertolazzi, hoje vejo que dinheiro não é tudo, ser o playboy que quer cada mulher por uma noite, tudo são futilidades, e do modo difícil fui percebendo e aprendendo que as pessoas mais felizes são aquelas que chegam em casa fedendo no final do dia depois de um longo dia de trabalho e lá encontram a sua família a esperando com um sorriso no rosto, então porque muitos pensam inclusive eu pensava que o dinheiro trás felicidade? É uma ilusão, você pode ter conforto, comodidade, mas a felicidade plena, essa não, muitos se aproximam de você por interesse por esperar algo em troca.

Eu sou um homem sou feliz? Sim, tudo que pensava agora foi o que vi e aprendi, fui abençoado por ter encontrado Caroline, naquele dia que considerava na época maldito por ter chegado as seis e meia da manhã em casa e meu pai havia me convocado para uma reunião onde recebi a notícia que deveria me casar ou me deserdava, e nem isso tive temo de agradecer, foi sua imposição que me fez renascer , me fez ter uma esposa e uma filha, olhei para Lavinnea que colocava a mãozinha dentro da boca e tentava algo como pulo, tentava levantar e caia sentada com seu bumbum recheado pela frauda onde estava sentada olhando a televisão que passava um desenho de uma menina que se achava a médica de brinquedos, algo como doutora brinquedo, não sei ao certo.

-Não pode Lavinnea- Falei um pouco mais alto quando percebi que tentava tirar sua fralda, era uma briga a manter com ela, e ela aproveitando que estava com vestido, tentava puxar o pouco do plástico que a calcinha não escondia, ela me olhou e fez um careta, aquela que os olhos dela lacrimejavam e um beicinho se formava, choro, quem sempre a reprendia era Carol, então quando impunha minha autoridade como pai, ela logo me fazia derreter, me levantei rapidamente a pegando no colo, vendo seu cabelinhos loiros em uma maria chiquinha balançarem quando a levei de encontro ao peito.

-Não chore Lala, mamãe vai ficar brava se você tirar essa coisa que dá um trabalho de colocar e não deu certo da última vez, papai colocou ao contrário, lembra?

Rir comigo mesmo, até parece que uma criança de oito meses entenderia o que estava falando, ela sempre fora curiosa, seus enormes olhos castanhos me observavam e as vezes ria em ver meus lábios se mover, a coloquei no chão novamente, a vendo levar um bloco para boquinha, tudo consequência de seus dentes estarem saindo, voltei para a mesa de jantar que fica perto da sala, tinha que terminar uns gráficos mensais da empresa, tinha o Rodrigo para me ajudar, porém ele estava de férias com sua esposa pelos seus cinco anos de casados, percebi minha caneta sobre o chão, quando abaixei para pegar algo me chamou atenção, um envelope branco estava preso debaixo da mesa o puxei vendo meu nome com a caligrafia do meu pai sobre ela, me sentei rapidamente, rasguei aquele papel, mesmo sendo homem meu pai sempre tivera uma letra perfeita, fina e muito bem desenhada, passei meus olhos sobre a carta e olhei Lavinnea que continuava distraída com seus brinquedos espalhados pelo chão e resolvi ler naquele momento

" Querido Filho

Sei que é um golpe de sorte como guardei essa carta, não sei se um dia encontrará, não podia correr o risco de alguém encontrar antes de ter partido, sim, sempre soube que estava doente, minha doença estava em fase terminal, tinha escolha de tentar o tratamento, porém o oncologista me garantiu que minha chance de sobrevivência com o tratamento era 10%, sei que neste momento deve estar se perguntando porque não tentei se havia essa chance, veja bem Hugo, sabe que nunca fui um homem pessimista, mas temos que ser realista, tinha 90% chance contra, sim, poderia haver um milagre, sou um jogador Hugo e todo bom jogador sabe quando é hora de parar, por isso optei por viver o quanto me fosse permitido, comendo bem, fazendo tudo o que tinha vontade, te vi apaixonando, me vi sendo avô e sou grato por isso.

Hugo, quando te chamei para lhe intimar a se casar, sabia que você não pouparia esforços para não perder seu berço de ouro sou seu pai e sei que é ambicioso como eu, e como já sabia que estava doente a um tempo, queria te fazer um homem de família, um homem sério, não podia simplesmente contar o que se passava comigo e você fazer tudo por mim, você tinha que fazer por você, quando chamei Caroline para nos servir o café fiz intencionalmente, sempre a vi como nora e sabia tudo sobre a família dela, e não sei como, mas você viu nela a oportunidade de me enganar, na verdade eu que te enganei, como disse sou um bom jogador.

Chorava e sorria ao mesmo tempo, tudo isso era mesmo o modo como meu pai me passava a perna, caia como um coelho em suas armadilhas desde criança, voltei a ler.

Mas como todo jogador as vezes temos que arriscar, Caroline era minha última carta, e nesse meu passe podemos dizer que que foi sorte, você se interessou nela, sabia que a história como conheceram era fachada, sabia do contrato, mas deixei você fazer as coisas ao seu modo, e tive certeza de o deixar continuar na noite que apresentou Caroline para nós no jantar que ela dançou com seu primo e se enciumou, sabia que sentia algo por ela, nem que fosse uma simples atração e quando hospedei na sua casa também foi proposital queria ver o quanto estavam ligados e passei a observar sua esposa, ela te olhava com amor, pronto meu trabalho estava feito, sabia que aquela garota iria te domar

Gargalhei, ele era impossível, tudo foi conforme ele quis, ele foi nos movendo ao seu modo como um jogo de tabuleiro, não foi eu nem a Caroline que ditava as regras, sempre foi ele.

Filho, me perdoe, sei que está me praguejando por esconder algo tão sério, filho os pais sempre se sacrifica para o bem estar de seu filho, eu vivi, eu amei e fui amado por sua mãe, fui bem sucedido, fui seu pai, e fui avô da pequena Lavinnea por pouco tempo, que tive o prazer de a ter em meu braços e ver seu sorriso se formar enquanto dormia, então dediquei meus últimos dias a curtir cada um de vocês, e te fazer feliz novamente, e consegui, com sua ajuda, pois você se permitiu, continue sendo esse homem maravilhoso que se tornou, e cuide das três mulheres da sua vida com muito amor e zelo, proteja sua mãe, sua esposa e filha, e não importa a distância que temos agora um do outro, eu sempre serei seu pai e você sempre será meu filho, o meu primogênito, o meu pequeno Bertolazzi.

Com amor papai."

Ainda doía saber que não veria meu pai nunca mais, e saber que seus últimos dias foi dedicado para me ver feliz me fazia ver o quão paizão ele era, mesmo com meus vinte e cinco anos ainda o via como meu herói, sei que um dia restará apenas saudade e as lembranças boas, eu que era grato por ter sido o seu filho.

-Obrigada senhor Raul Bertolazzi

Não falei pai, o considerava como um claro, mas sei o quanto ele amava seu nome o quanto se sentia o poderoso chefão e nada melhor que o pronunciasse com respeito como fazia naquele momento, pois ele mesmo não estando estre nós ele sempre seria o grande Raul Bertolazzi.

(...)

Os dias foi passando e cada dia mais me via como o ser humano mais feliz desse mundo, Lavinnea dormia no berço que ficava ao lado da nossa cama, Caroline como sempre estava lendo um pouco antes de dormir, ela parou de ler um pouco e me encarou.

-Obrigada por tudo Hugo, nunca te agradeci, se sou a mulher feliz que sou hoje é porque você foi um mimado irritante

Olhei para onde Lavinnea estava, pensei que meu coração pudesse explodir de amor enquanto olhava minha filha dormindo

Sorrir para ela, selando nossos lábios levemente

- Eu que agradeço a você, nunca pensei que pudesse sentir tanta felicidade.

Repousei seu corpo sobre a cama e me deitei sobre ela lhe beijando a boca.

-Aconteça o que acontecer eu jamais deixarei de amar você minha Carol.

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