1.Tormento

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Três dias. Dias intermináveis nos quais eu era obrigada a passar ao lado do homem mais cruel que havia conhecido em minha vida. Apenas três dias e parecia que o inferno já roía meus ossos.

Tinha algo dentro de mim, uma raiva, um ódio, sentimento abstrato porém forte o suficiente para matar o primeiro imbecil que ousasse mexer comigo.

O local de "hospedagem" de Negan e seus escudeiros era no mínimo, deplorável. Parecia mais uma prisão do que uma pequena vila. Tinha muitos ferros, cercas e um galpão enorme no centro de tudo.

Eu dormia em um quarto nesse galpão, longe de todos, menos dele. Negan dormia no quarto ao lado e só de pensar na sua extrema proximidade, um arrepio me preenchia.

— Tudo bem, menina? — a voz doce de Izabel me fez acordar para a realidade, ela era a única que parecia ser confiável entre todos.

— Oi. Sim, está. — menti.

— Continua mantendo o olhar triste. Não está feliz aqui?

Virei meu corpo de frente para o dela.

— E tem como ser feliz aqui? Em meio há esses homens?

— Bom, não podemos reclamar, lá fora provavelmente estaríamos mortos. Infelizmente é nosso único jeito de sobreviver.

Assenti.

— Claro...

— Com licença, preciso me retirar. — pediu e saiu, deixando-me sozinha de novo.

Após alguns minutos apenas pensando em qualquer besteira capaz de me tirar daquela realidade, ouço passos se aproximarem.

— Apreciando à vista?

Olhei para o lado e vi um homem não tão velho mas provavelmente mais velho que eu. Cabelo loiro escuro, olhos verdes e com uma barba farta.

— Quem é você? — semicerrei os olhos, desconfiada.

— Jason. Jason Matters. — ele estendeu a mão e ficou com ela pairando sobre o ar. — Pelo visto não é de muito papo. — recuou com a mão passando-a pela nuca.

— Se você é um deles, não merece papo. — continuei o olhando de soslaio, sem paciência para criar vínculo.

— Um deles? Salvadores? — riu nasalado — Eu não faço parte disso, eles são patéticos.

— Negan sabe disso? — cruzei os braços.

— É... ele sabe. — Jason ergueu a camisa, mostrando o corte enorme que tinha na sua costela.

— E porque continua aqui? — perguntei após ver aquilo.

— Não sobreviveríamos um dia lá fora. Bom, eu até sobreviveria, mas minha família não. Então não daria pra deixá-los aqui.

Soltei um suspiro.

— Me desculpe, então.

— Sem problemas, é compreensível, sabe? — sorriu e arfou.

— Obrigada. Eu sou a...

Lucille. — completou e não consegui evitar minha revirada de olhos.

Alessa. Alessa Torrence. Não me chame por Lucille, por favor. Esse nome me causa muita náusea! — fiz uma careta.

— Imagino o porquê. O apreço dele por àquele taco é bizarro. — fez uma careta — Sem falar o quão falada você é. Todos te conhecem, pelo menos pelo nome. Bom, seu antigo nome.

— Negan é um idiota. Eu o odeio! Só estou aqui porque não admitiria que ele machucasse meus amigos. — falei sem me importar se ele era ou não um estranho.

— Entendi. Você foi corajosa.

— É, acho que sim. — engoli seco e deixei meu olhar perdido pelo chão.

— Não devo estar atrapalhando nada, devo?

Olho para trás após ouvi a voz de Negan, ele nos olhava de cima a baixo.

— Você está sempre atrapalhando. — proferi.

— Não pensei que tivesse feito amizade com Jason. — andou na minha direção e encarou o outro por cima dos meus ombros.

— Bom, já vou indo, Alessa. Foi um prazer.

— É Lucille! — Negan falou, o fazendo parar.

— É o que eu quiser! — rebati meio que defendendo Jason — Estou aqui porque quero e vai ser do jeito que eu quiser que seja!

— Talvez você não tenha percebido, mas aqui não é Alexandria. Portanto, se acha que sou o Rick, está redondamente enganada.

— Nem de longe você seria o Rick, nem mesmo se quisesse ou desejasse. Ele diferente de você é uma pessoa boa e justa.

— Com licença. — Jason pediu e saiu finalmente.

Negan rangeu os dentes antes de voltar a falar.

— Não quero você de papinho com Jason, está me ouvindo?

— Agora vai querer me proibir de conversar com as pessoas? — soltei uma risada nasalada em tom de descrença — Ingênuo. Ainda não se ligou que eu jamais faria algo que você mandasse? Não sou mais aquela garota, Negan. Lucille morreu.

— Engano seu, docinho. Lucille está mais viva do que pensa aí dentro, e eu darei um jeito de trazê-la de volta, custe o que custar.

— É o que veremos. — retorqui e dei as costa para ele, o deixando sozinho vendo o meu distanciamento.

Mesmo tendo toda certeza do mundo sobre a minha índole e caráter, conviver com essa gente me dá medo, medo de fazer com que eu me torne alguém ruim como ele ou como qualquer outro.

Tudo que gostaria de saber é, como deve estar o pessoal de Alexandria? Como eles ficaram depois que parti?

Meu coração pesa só de pensar neles vivendo como se eu nunca houvesse existido.

Mas de todo modo, é melhor assim. Pior do que ser uma lembrança é lembrarem de mim como um fantasma, então que eles me esqueçam por definitivo, dessa forma ninguém sofre.

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