Ela está viva | The Walking Dead

6. Ela está viva

Pior do que viver presa é viver ao lado de gente má. Eu não era uma deles, mas estava agindo de acordo com o que pediam.

Acabei me tornando de novo o que mais temi por anos: a velha Lucille.

Lucille é mais que um nome, é um fardo que terei de carregar para todo o sempre. Pelo menos até que aquele infeliz exista.

Três semanas haviam se passado desde a minha tortura física e psicológica. Ainda carrego os últimos resquícios de hematomas pelo meu corpo, fazendo-me lembrar do causador disso tudo toda vez que vejo ou sinto dor.

E além disso tudo, há algo estranho comigo... Começou há uns dois dias e desde então não consigo sentir firmeza sobre meu corpo. Estou me cansando rápido, comendo mais rápido e às vezes, poucas vezes, pondo tudo que ingeri para fora.

Eu não sou tola em fingir que não sei o que isso pode ser, mas não quero pensar mais que o necessário, senão fico louca!

— Vocês precisam fazer isso rápido! — ordenei para as cinco pessoas encarregadas da colheita.

— Estamos fazendo o possível, senhorita. — disse a menina, enxugando o suor da testa — Não queremos chatear você.

— O problema não sou eu, acreditem. O problema é ele! — sussurrei e vi Dwight se aproximando. — Ou todos os outros...

— Não é para bater papo com eles, é para mandar neles. — disse com firmeza já estando perto de mim.

— Eu sei o que tenho que fazer! Não precisa vir me dizer à cada meia hora!

— É bom ficar esperta, estou de olho em você.

— Digo o mesmo para ti, imbecil. — dei as costa para ele e me afastei.

Resolvi deixá-los trabalhar e optei por dar umas voltas por ali, para averiguar o que o restante do pessoal estavam fazendo.

Ao longe vi que Simon e Harris arrastava uma homem em direção ao sótão. Ou seja, coisa boa não viria dali e nem de mim.

— LUCILLE!

Parei no alpendre ao ver Negan saindo de dentro da casa e não contive minha cara de desdenho para ele.

— O quê!?

— Olha... Você começou a atender pelo seu nome de verdade! Isso não é lindo? Porque para mim é maravilhoso!

— Fala logo o que quer, merda! — o encarei sem paciência.

— Tenho um presentinho para você poder descontar sua raiva passageira de mim. — ele aproximou o rosto do meu, baforando aquele ar quente na minha cara.

— A raiva que eu estou sentindo não equivale a nem um terço da tortura que você fez eu passar, querido Negan. Não seja tão tolo. — retorqui.

— Vamos acabar com parte dela, então. — deu de ombros — Vem, me segue.

Revirei os olhos e o segui, fazendo o que ele havia pedido.

Nada era mais doloroso do que ver pessoas sofrerem e ter que lidar normalmente com isso, como se não te afetasse, como se seu coração fosse de pedra.

Negan sabe bem como ferir pessoas, e não digo só fisicamente, suas palavras machucam tanto quanto aquele taco forrado de arame farpado.

Ele parou na porta e esperou que eu entrasse, como se por baixo daquela roupa existisse um cavalheiro.

Varias pessoas estavam ali, inclusive o médico e suas ex-esposas. Sim, ele tinha varias mulheres, mas depois que decidi voltar a ser quem ele queria, todas elas foram dispensadas como animais, o que claramente não foi certo.

— Que merda é essa? Por que esse circo? — arqueei uma sobrancelha o olhando de esguelha.

— Tudo isso é para você!

— Larga de palhaçada! O que significa isso? — comecei a gesticular para os lados e apontei para o homem no centro, sentado na cadeira.

— Esse é o Jimmy. Um ex belo amigo. Ele fodeu com a confiança que tínhamos nele e bem, quem fode conosco será fodido por nós. — Negan sorriu — No caso, por você. — apontou para mim.

Todos ficaram me olhando aflitos, tão aflitos quanto eu.

— Você quer que eu...? Oh, Não, não mesmo!

— Mostre que Lucille voltou. Prove sua lealdade à mim ou seus amigos morrerão. É pegar ou largar, Lucy.

Engoli seco e tornei a encarar à todos. O suor já escorria e aquilo não poderia estar sendo real, não mesmo.

— O que você quer que eu faça? — aproximei-me do tal Jimmy e o encarei, o medo estava visível em seus olhos, assim como nos meus.

— O que você quiser fazer! Qualquer coisa! Mas faça... Faça muito bem feito, ouviu? Sua plateia quer ver o show acontecer, então não os decepcionem. — ele respondeu.

— Olá, Jimmy. — me abaixei na frente do cara que já começava a chorar — Eu sei que está assustado e que provavelmente não queria estar aqui, pois é, também não. Na verdade era pra eu estar com os meus amigos, sendo quem realmente quero ser, porém acabei vindo parar nesse lugar, voltando a ser parte de uma alcateia de lobos idiotas. Bem... Lobos não são idiotas, mas esse pessoal aqui é. — voltei a ficar ereta, sem tirar os olhos dele. — Não tenha medo, não sou uma pessoa má. Pelo menos acho que não.

— Cacete! — Negan exclamou — Até eu fiquei com medo agora, Lucille. — ele começou a andar em volta da gente. — Era disso que estava falando! Dessa pegada insana que só a minha amada e doce Lucille tem.

— Que tal você deixar eu terminar?

— Fique à vontade.

Caminhei até a mesma mesa que estava no dia em que eu fui torturada e peguei uma faca. Girei meus calcanhares e voltei a fitar a figura aterrorizada do pobre Jimmy.

— Isso vai doer um pouco, e eu sinto muito, mas é a minha vida que está em jogo e por isso, longe de mim pensar em outra pessoa! — o deixei olhar bem fundo nos meus olhos para só assim enfiar a faca em seu braço, atravessando o outro lado.

Jimmy gritou e todos ficaram ainda mais assustados, menos Negan, ele sorriu como uma criança assim que vê um brinquedo novo.

Arranquei o objeto com brutalidade, vendo o sangue escorrer.

— Isso está sendo melhor que a encomenda. — ouvi Negan comentar.

— Por favor... E-eu prometo n-não fazer mais isso...

— Promessas são em vão num apocalipse, e eu não acredito nelas. — dei um meio sorriso e enfiei novamente a faca, mas dessa vez na coxa dele.

Era horrível, mas ao mesmo tempo libertador. Melhor ainda ao imaginar que ali fosse Negan ao invés de um pobre coitado.

Mas eu tinha que fazer... Lucille tem que fazer.