Capítulo Cinco

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Melinda

As aulas finalmente haviam começado e o primeiro dia do meu último ano estava bem agitado. Meus colegas de classe, falavam da viagem que aconteceria em três meses e nas provas para universidade. Todos diziam que aquele seria um ano e tanto. Tive o desprazer de encontrar Alex e seus amigos no caminho do refeitório, mas decidi ignora-lo.

Sentei na mesma mesa de sempre e como sempre, sozinha. Eu já tinha me acostumado com aquilo e não esperava que no meu último ano as coisas mudassem, então comecei a comer meu sanduíche de presunto enquanto verificava meu cronograma de aulas para aquele ano.

- Posso sentar aqui? - Uma garota de cabelos azuis e pele muito clara, quase translúcida me olhava.

- Claro. - Falei achando estranho e sorrindo ao mesmo tempo.

- Roover, Adele Roover. - Ela se apresentou enquanto abria um pacote de biscoito.

- Muito prazer Adele, Melinda.

Notei que algumas pessoas olhavam para nós duas, mas decidi ignorar.

- As pessoas desse colégio são todas idiotas?

Sorri com o comentário de Adele e imaginei que alguma coisa deveria ter acontecido.

- Na maioria das vezes... Você deve ter vindo de um lugar mais civilizado.

- Vim da França, lá as pessoas não perdem tempo falando do meu cabelo.

Adele era bonita e o tom dos seus cabelos, combinavam com seus olhos.

- Você ficou em qual sala? - No Saint Vicent College, tínhamos três tipos de turma: A, B e C. Eu era da turma B e logo sabia que Adele não era minha colega.

- A.

- Que bosta. - Falei comendo mais um pouco do meu sanduíche e tomando um pouco de suco.

- Também achei. - Ela concordou colocando mais um biscoito na boca. - Tem aquele grupo de garotas estúpidas e que só pensam na cor da unha e que nem chegaram aos trinta e já usam peitos falsos.

Gargalhei com o que Adele dizia, eu sabia que ela estava falando de Selena, Kiara e Juliane. Eu senti a mesma antipatia pelas três.

- Elas não são muito inteligentes também. - Dessa vez rimos juntas.

- Pra completar tem aquele quarteto de manés. - Adele apontou com o olhar para mesa onde Alex e seus amigos estavam. Eles riam de alguma coisa e senti certa raiva, quando Alex me encarou. O episódio da piscina ainda estava fresco na minha mente e eu também me odiava por aquilo.

- Todos babacas. - Falei deixando de lado meu sanduíche.

Adele começou a falar da sua mudança para Nova York e explicou que seu pai tinha uma pequena rede de fast food e que estava abrindo filiais pela América. Fiz várias perguntas sobre a França e Adele riu da minha curiosidade.

- Você nunca viajou para fora? - Perguntou tomando um pouco da água que estava na sua garrafinha, que tinha um desenho da Torre Eiffel.

- Só Argentina, Lisboa e Madrid. Mas fui com meus pais...aí você sabe.

- Um saco.

- Sim!

- Vejam só! Uma duplinha interessante. - A dona da voz irritante eu já conhecia. Selena tinha decidido dar o seu primeiro espetáculo do ano e tinha suas duas amigas ao seu lado.

Adele encarou Selena e vi certa raiva passar por seus grandes olhos azuis.

- O que você quer Barbie do Paraguai? - Ri com o apelido que Adele acabara de criar para Selena e vi Kiara me fuzilar com os olhos.

- Do que está rindo virgem Lancaster?

Todos do refeitório ouviram em alto e bom som o que Selena acabava dizer e começaram a rir. Senti uma raiva crescer dentro de mim, enquanto meus olhos procuravam por Alex.

- É isso que você é não é?! Uma virgem? Meu Deus! Uma vida toda sem ninguém te querer, deve ser horrível. - Selena continuou.

- Patético. - Juliane completou.

- Minha vida não lhe diz respeito! - Gritei avançando pra cima de Selena.

- Vai me bater frígida?

Olhei mais uma vez para onde Alex estava, mas ele não viu, pois estava falando alguma coisa com Kalel. Ele não podia ter feito isso! Não podia.

- Eu não vou perder meu tempo com você.

Saí do refeitório pisando firme e antes que minhas lágrimas de raiva ficasse visivel para todos. Corri até a biblioteca e me sentei no final do corredor, dos livros sobre artes e ali me deixei chorar.

Como Alex poderia ter feito aquilo?! Tudo bem que a gente nunca se deu bem, mas falar sobre o que tinha acontecido entre nós para os seus amigos tinha sido demais.

- Não chore mon petit... - Senti um mão tocando meu braço e ao ouvir sua língua francesa, sabia que era Adele.

- Ele não tinha o direito... - Comecei a falar, mas as lágrimas não deixaram. Eu sentia tanto ódio naquele momento.

- O que houve?

Aquela era a primeira vez que falei para alguém sobre o que tinha acontecido na piscina com Alex e a cada palavra que saia da boca, mais lágrimas rolavam.

- Grand idiot! - Adele xingou em francês e eu sabia que ela estava chamando Alex de idiota. - Você gosta dele?

Olhei para Adele assustada. Eu? Gostando de Alex Reed? Não. Nem um milhão de anos.

- Não... É só que esperei que ele não falasse nada, nos conhecemos desde pequenos.

Expliquei para Adele sobre a amizade do meu pai com o pai de Alex e que para eles era como se fôssemos uma única família e que por essa razão, achei que Alex manteria sua boca fechada.

- Enfoiré! - Olhei para Adele sem entender e ela sorriu. - Filho da puta.

Ri quando ela traduziu e limpei as lágrimas que ainda teimavam em cair. Adele me ajudou a sair da biblioteca e caminhou comigo até o banheiro, onde lavei o rosto e me senti mais calma.

Alguns alunos olharam para nós duas quando passamos pelo corredor, uns riam, outros olhavam com pena. Ótimo! A minha vida toda me esforcei para não ser o centro das atenções e tudo foi jogado para o ar por causa do idiota do Alex.

- Fique bem mon petit, nos vemos na saída. - Adele beijou minha bochecha e me deu um abraço antes de seguir para sua sala.

Algo me dizia que eu tinha ganhado uma amiga e que aquele ano seria o mais complicado da minha vida.

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