Capítulo 11

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Eu devia saber, aquela falsa sensação de calma persistiu por dias, mas eu devia ter percebido que era uma mentira

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Eu devia saber, aquela falsa sensação de calma persistiu por dias, mas eu devia ter percebido que era uma mentira. Estávamos numa guerra velada, mas estávamos em guerra, como poderia haver paz? Se lembram que eu estava tentando me manter afastada de tudo? Pois bem, isso mudou!
Agora eu estou dentro, eu não quero ver o circo pegar o fogo, sou eu que vou colocar fogo e vou queimar quem eu encontrar pelo caminho.
Mexeram com a única pessoa que me faria botar tudo a baixo. Enquanto era comigo, tudo bem, eu podia levar, agora com ela?
Sabe a expressão "inferno na Terra"? É isso que eu vou fazer!
Os próximos dias, depois daquele domingo foram calmos, normais. Bernardo discutiu com o seu chefe por telefone, o dono da loja não queria aceitar o atestado médico do meu amigo, até ameaçou o demitir, caso Bê não fosse trabalhar. Hugo se irritou e foi com Theo resolver essa questão pessoalmente. Voltaram menos de duas horas, Hugo trazia feliz o dinheiro do acerto do contrato e Bernardo era o mais novo desempregado da casa.
— Qual o problema de vocês com termos emprego? — perguntei para Theo.
— Como assim?
— Você odiava que eu trabalhasse no Café, Hugo conseguiu a demissão do Bernardo. Vocês não gostam que Marcados trabalhem? — estávamos no carro, tinhamos levado Lua para tomar vacina e Theo estava me levando para o estúdio de Dança.
Tivemos que levar Lua para uma clínica indicada por Corey, já que ele estava preso nos preparativos para a reunião dos Quatro Alfas, que aconteceria naquela noite. Óbvio que Wong apareceu nos meus sonhos e tentou me convencer a ir, mas eu não queria de jeito nenhum.
Eu ainda tinha a estúpida ideia de que poderia me manter longe de tudo aquilo.
Inocentemente burra!
— Não! Isso não tem a ver — ele me olhou preocupado — você acha isso? Eve, eu não quis dar essa impressão, eu só acho que aquele emprego era uma perda de tempo para você.
— Tão sútil — eu sorri — não estou brava, calma, só quero entender.
— Olha, sabe porquê Arthur não tem nada contra o emprego da Mony, ou porquê Marcelo e eu apoiamos o seu estágio e da Ana? — perguntou — Porquê é o que vocês realmente gostam de fazer. Se isso te deixa feliz, me deixa feliz.
— Faz sentido — ponderei — Mas, obvio, que isso não tem nada a ver com o fato de que antes estávamos em ambientes que vocês não tinham controle, não é?
— Claro que não — Theo tinha um sorriso malicioso no rosto.
Ah, eu não contei quem era a nova sócia no estúdio de dança onde Mony dava aulas e Ana e eu fazíamos estágio? Pois bem, a nova sócia se chama Emily Acker.

— Alô — atendi meu celular, sorte que tínhamos sido dispensados mais cedo para o intervalo.
— Estou na reunião dos Alfas e você não está aqui — como, raios, Vlad conseguiu meu telefone?
— Não está vendo e nem me verá, já disse que estou fora de tudo o isso. Obrigada — agradeci o atendente que me entregou meu suco.
— Como se fosse possível você ficar de fora disso — ele bufou — venham para cá.
— Já disse que não — respondi — o que eu tenho a ver com tudo isso?
— Muito a mais do que todos que estão presentes aqui — resmungou — Posso te passar o endereço ou mandar que te busquem. Isso aqui começa a meia noite, ainda dá tempo.
— Não, obrigada, eu passo. Tenho coisas mais interessantes para fazer. Como, por exemplo, ficar deitada no sofá assistindo algum filme bobo.
— Gosto de você, mas tem horas que você me irrita — eu podia "ouvir" o sorriso dele na voz.
— Você também me irrita, mas não estou certa quanto a parte de gostar de você.
— Sou um dos seus melhores amigos, você que ainda não percebeu — ele disse me fazendo rir — algum lobo idiota está me chamando, até logo.
— Tchau, boa reunião — eu ri e ele desligou. Segundos depois meu celular volta a tocar, mas dessa vez era Theo.
— Eu não gosto disso — Theo resmungou no telefone, me fazendo rir.
— Você sabe que estão bem — respondi — Ana até me mandou fotos deles na festa — era sexta feira, o dia da festa de aniversário de uma prima da Ana, ela e Marcelo foram e levaram Lua com eles —  e a festa acaba as dez da noite, daqui a uma hora. Vai ficar tudo bem.
— Só vou acreditar nisso quando minha filha estiver aqui comigo — Theo é um jovem lobo com a alma de um velho ranzinza — estou entediado! — choramingou.
— Que dó do meu lobo — eu ri — eu só tenho que entregar uma atividade e vou ser dispensada, você vai vir me buscar?
— Sim, acho que vou agora e fico andando por aí enquanto te espero.
— Theo, você não vai ameaçar, aterrorizar ou assustar alguém enquanto estiver aqui, entendeu? — falei seria.
— Nossa, uma vez só e vou ser julgado para o resto da vida? — eu quase podia vê-lo revirando os olhos. Ao fundo escutei barulhos de chave e o carro sendo ligado.
— Três vezes, TRÊS! Você fez isso três vezes de três vezes que te deixei andando por aqui sozinho. Isso dá 100%!
— Acontece, não é minha culpa — minha vez de revirar os olhos.
— Garota — uma menina que eu já tinha visto por aí, mas nunca tinha conversado me chamou — você é amiga daquele garoto que faz fotografia, né?
— Porquê? — perguntei desconfiada.
— É que meus amigos querem saber se ele desistiu da faculdade — ela deu de ombros, não ligando nem um pouco para o assunto. Olhei para o lado, aqueles garotos que zombavam do Bê nos observavam.
— Seus amigos são aqueles? — apontei para os imbecis, ela concordou com a cabeça — Sabia que na última vez que eles "falaram" com o Bernardo, o chamaram de "arrombado"?
— Olha, eu não. . . — a garota mudou a postura.
— Avisa seus amigos — a interrompi — que a próxima vez que mexeram com o meu amigo, eu vou enviar uma tora de madeira no orifício anal deles e veremos quem é o "arrombado" — me virei saindo dali.
— Depois sou eu que ameaço as pessoas — a voz de Theo soou, ainda no telefone.
— Cala a boca! — resmunguei, ouvindo a gargalhada dele.
Voltei para a sala de aula, terminei rapidamente os exercícios e fui liberada, encontrei Theo na cantina do meu bloco, mexendo distraído no celular. Perto dele tinha um grupo de meninas que o encaravam, revirei os olhos, isso sempre acontece. Eu realmente não me importo, às vezes é desconfortável, mas não é como se fosse acontecer algo mesmo.
— Oi — ele sorriu para mim — que tal passarmos em algum lugar, tomar um sorvete ou algo assim.
— Eu concordo — disse o abraçando.
Ter esses momentos de namoro eram um pouco raros. Ser só nós dois, saindo e curtindo o momento fica difícil quando se tem uma bebê pequena e um bando inteiro a tiracolo. Fomos até um  parque  e aproveitamos  o tempo que passamos ali para conversar, brincar, ficar nos beijando e, claro, tomar sorvete.
Quando voltamos para casa, estávamos rindo de alguma bobagem que o Theo tinha dito, que quando vimos os lobos e marcados parados ao redor da mesa, com caras sérias e preocupadas, foi até engraçado.
— O que foi? — perguntei ainda com aquele sorriso bobo, mas meu sorriso foi morrendo a medida que ninguém respondeu.
— O que aconteceu? — Theo perguntou sério, Caio e Arthur abriram a boca, mas não saiu nem um som — O QUE ACONTECEU? RESPONDAM! — Theo bateu a mão na mesa tão forte, que o barulho ecoou no cômodo.
Helena tinha lágrimas nos olhos, Mony tampava a boca, Henrique não nos encarava, Caio e Arthur ainda não tinham encontrado palavras para responder, Hugo descia as escadas, junto com Bernardo que também tinha um olhar triste.
No momento que percebi quem estava faltando ali, eu me senti levando um soco no estômago e meu coração se apertou tanto, a ponto de doer. Olhei para o relógio, 23h40.
— Onde estão Ana e Marcelo? — perguntei — Onde a minha filha está?
— Eles. . . Nós. . . — Caio tentou falar, mas a sua demora fez com que Theo explodisse, o agarrasse pela gola da camiseta, quase o levantando do chão.
— ONDE A MINHA FILHA ESTÁ?
— Theo! Larga ele, a culpa não é de ninguém aqui! — Arthur gritou, tentando soltar as mãos do meu lobo, Theo não mataria o primo, mas alguém morreria naquela noite.
— Cadê a minha filha? Respondam! Onde estão Ana, Marcelo e Lua? — eu gritei no meio da bagunça que aquilo tinha virado — Helena! Me responda! — a puxei pelo braço — Cadê a minha filha?
— Nós não sabemos! — ela começou a chorar — Nós não sabemos. . .
Meu mundo começou a girar e senti vontade de vomitar.
— Como não sabem? — Theo rosnou alto.
— Eles não chegaram no horário, não atendem os celulares, fomos atrás, mas não há sinal deles — Caio se explicava.
O mundo girou, senti o gosto da bile, as coisas a minha volta entravam e saiam de foco, os sons ficaram ao longe, me apoiei na parede porque não tinha forças para me manter em pé, minha respiração estava cada vez mais pesada.
— Eve. . . — alguém me chamou, alguém me segurou. Eu ouvia ao longe os sons do Theo rosnando e destruindo o ambiente a nossa volta.
Cambaleei alguns passos, ignorando quem tentava me ajudar, eu não queria ajuda ou que me tocassem. Cheguei até um grande porta retratos que Helena colocou no corredor, onde havia fotos de todos nós. Em uma das fotos, Theo abraçava Lua e eu, foi no dia da festa da escola, quando ela andou pela primeira vez.
Lágrimas teimosas escorreram pelos meus olhos.
Onde a minha filha estava?
A foto abaixo dessa era um das várias que Ana tirou dela, Marcelo e Lua, na primeira festa que fizeram para a minha filha. Também foi o dia que Ana conheceu Marcelo.
Ana era a minha melhor amiga a anos, ela era a minha irmã! Lua é o motivo da minha existência!
A minha consciência bateu de volta em mim: eu ia encontrá-las e fazer com quem tentou tirá-las de mim, pagar muito caro!
— THEO — minha voz sobressaiu a confusão, fazendo com que meu namorado viesse até mim na hora, seus olhos estavam da cor do gelo, mas com um brilho homicida — Vamos guardar nossas energias para podemos acha-los e matar quem possa estar fazendo mal a eles.
Theo concordou com a cabeça.
Ele estava no limite do controle para não se transmutar.
— Não conseguimos achar nada, não podemos ligar para nossos pais e. . . — Caio falou, eu ouvia o desespero na voz dele. Marcelo é seu irmão e Ana sua cunhada, além de que todos amam Lua.
— Thalita — Theo rosnou.
— Sim — concordei — liguem para Thalita, ela e meu irmão precisam vir para aqui agora! — gritei enquanto subia correndo para o meu quarto, Theo atrás de mim. Corremos até o quarto da Lua, mexendo nas roupas dela.
— Vocês precisam de ajuda? Arthur está falando com Thalita — Helena disse ofegante, entrando no quarto.
— Vá no quarto de Ana e Marcelo, precisamos de roupas ou qualquer outra coisa que tenha o cheiro deles, quanto mais forte, melhor! Algum dos lobos pode te ajudar
— Certo! — ela saiu correndo, meu celular tocou.
— É verdade? — Thalita perguntou brava e concordei — o que vocês precisam? Qualquer coisa!
— Preciso de você e do meu irmão aqui, agora.
— Estamos a caminho!
— Thata! Traga armas! Seu pai deve ter várias aí, traga o que puder!
— Levarei e vamos matar esses desgraçados.
— Lobos não precisam de armas — Theo falou assim que desliguei, sua voz cada vez mais grossa.
— Não são para vocês, são para mim.
— Você não vai junto.
— É a minha filha e minha melhor amiga! Não se atreva a pensar na hipótese de me deixar para trás!
— Isso é perigoso!
— Não há discussão, ou vou com você ou sem você! — nos encaravamos, a fúria cintilando nos nossos olhares — Você sabe que não há possibilidade nenhuma de que eu fique aqui esperando por notícias, enquanto vocês vão atrás deles!
— E se algo acontecer com você?
— E se algo acontecer com VOCÊ? — devolvi — Sabe que é mais forte e mais resistente quando estou perto! Aprendi a atirar e consigo me defender, isso já foi mais do que provado. Então você escolhe, ou vamo juntos ou separados!
Theo me encarou com raiva, era contra a natureza deles deixarem uma Marcada participar de numa situação dessas. Não que ele me considere submissa, o problema é que todos sabemos que é uma situação de grande risco e o instinto protetor dele fala mais alto.
— Theo, entenda — falei normal, mas decidida — Lua é minha filha, saiu de mim, tudo o que fiz nos últimos tempos foi por ela! Eu a amo mais do que qualquer coisa e a ideia de perde-la é o suficiente para me fazer querer desistir de tudo que tenho, incluindo a minha vida. Eu não vou ficar aqui, rezando para que vocês voltem inteiros e a salvo, eu vou junto — nos encaramos por mais um tempo — Eu te amo, muito mais do que achei que fosse possível amar alguém algum dia, mas eu não vou ficar aqui tentando te convencer a me deixar ir junto com vocês. Se me virar as costas, vou sem você do mesmo jeito. Você É o pai da Lua, sei como você está se sentindo, mas eu sou a MÃE! Mexeram com a minha filha, eu não vou deixar isso barato!
— Certo — ele respondeu a contragosto, mas sabia que era a única opção. Eu não hesitaria em fugir para ir atrás deles — Encontramos eles, você pega a Lua e dá o fora!
— Theo. . .
— Alguém tem que cuidar dela, não sabemos o que está acontecendo, você é a mãe dela, ela vai ficar melhor com você. Então os achamos e vocês dão o fora, entendeu? — ele foi taxativo.
— Certo — eu o abracei forte — vamos encontrá-los, nossa filha vai voltar para casa a salvo! Vamos trazê-la de volta! Vamos, os três, ficar bem, não é?
— Sim! — ele me apertou contra ele, lágrimas escorriam dos nossos olhos.
Íamos ficar bem.
Tinhamos que ficar bem!
Corri para o meu quarto e troquei de roupa. Me vesti inteira de preto, calça, camiseta sem mangas, jaqueta e coturno. A minha roupa me permitia lutar, a jaqueta e a calça tinham compartimentos que eu podia esconder facas e pequenas armas, meu coturno tinha pontas de ferro.
Quando desci as escadas Thalita estava chegando com uma bolsa de viagem, ela a virou na mesa, armas e muita munição brilharam.
— Você vai junto? — Helena perguntou enquanto eu prendia as facas e guardava munição na minha roupa — Isso é loucura!
— Eve, pense bem — Mony tentou.
— Loucura é acharem que eu ficaria — respondi carregando uma pistola e a prendendo na minha cintura.
— Lobos — Theo disse sério — Vamos atrás da nossa família, Arthur você vai com seu jipe, Thalita e Eve vão com você. Caio, Henrique e eu vamos nas motos.
— Os Marcados ficam aqui, Hugo ficará com vocês. Você deve protegê-lo — completei.
— Como vamos encontra-los? — Caio perguntou, ninguém questionou nossas decisões.
— Thalita é uma farejadora — respondi — Mas também vamos levar os pertences deles, todos vocês ativem o seu lado animal, sintam o cheiro e o sigam. Vamos trazer nossa família de volta.
Um a um foram cheirando as roupas que tínhamos separado. Os olhos iam mudando de cor. Sem demora fomos para a garagem, o lobo no meu peito grunhia e me arranhava.
— Traga a minha sobrinha de volta — Edu me abraçou.
— Boa sorte — Bernardo desejou.
— Não sou eu que preciso de sorte, quem precisa é quem se atreveu a pegar a minha filha. Porque quando os encontrarmos, vamos trazer o inferno sobre a Terra!

Arthur dirigia rápido, Thalita ao seu lado e eu no banco de trás. A capota do carro estava abaixada, permitindo que Thalita farejasse o ar. As motos nos acompanhavam a todo momento.
Conseguimos achar o local da festa, depois de muita dificuldade, conseguimos recriar o caminho do carro de Marcelo.
— Não faz sentido — Arthur falou — essa é a rua da casa do tio Jonathan. Marcelo sabe que ele está preso na reunião, porque viria aqui?
Descemos do carro, procurando por pistas.
— Por que meu irmão veio para cá? — Caio rosnou indignado — Quando há reunião do conselho, até nossas mães ficam separadas. Não tem motivo para ele ter vindo aqui.
— Pessoal — Thalita nos chamou, ela estava abaixada na rua, um pouco a nossa frente — isso são marcas de derrapadas, tenho certeza que é do carro do Marcelo — ela apontou para as marcas de pneu no chão. Várias delas.
— O que houve aqui? — Henrique perguntou em voz baixa.
Algo brilhou mais adiante, chamando minha atenção. Vários cacos espalhados pelo chão, junto com sangue e um pouco de pó roxo.
— AQUI — os chamei — Vidro, sangue e Wolfsbane!

— AQUI — os chamei — Vidro, sangue e Wolfsbane!

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Caçada - MarcadosOnde histórias criam vida. Descubra agora