Capítulo 1

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Calor

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Calor.
Pesado.
Eu não conseguia me mover, já estava ficando difícil respirar, o calor estava ficando quase insuportável. Eu precisava sair dali, não dava mais para aguentar.
-- Saiiii!!! -- eu tentei empurrar, mas meus braços estavam presos.
-- Não! -- Theo riu de mim.
-- Você vai acabar me matando! É isso o que você quer? Me matar?
-- Não seja dramática.
-- Minha bexiga vai estourar! Eu preciso ir no banheiro -- eu choraminguei.
-- Ainda não estou convencido.
-- Eu te odeio! Muito!
-- Você me ama, eu sei, você sabe, o mundo inteiro sabe disso.
-- No momento, Theo, eu quero acertar sua cabeça com um taco de baseball. Mas depois que eu for no banheiro, então SAI DE CIMA DE MIM!
-- Salva pelo bebê -- ele disse quando a babá eletrônica soou os sons impacientes de Lua no berço.
-- Mama… Papa…
-- Liberdade -- quase grito felicidade quando Theo se levanta para pegar nossa filha e eu posso correr para o banheiro. O idiota ri de mim.
Depois de esvaziar a bexiga, escovar os dentes e tentar arrumar o cabelo (coisa que falhei), voltei para o quarto. Theo estava deitado, Lua em cima de sua barriga, ainda um pouco sonolenta, abraçando fortemente seus lobos de pelúcia. Theo cantava para ela enquanto acariciava seus cabelos.
Você pode pensar que depois de tudo o que aconteceu, uma guerra explodiu, não?
Foi pior que isso, nada mudou aparentemente. A tensão ainda estava lá, havia pequenos sinais de conflitos. Os clãs de criaturas sobrenaturais se tornavam cada vez mais unidos, como se cada espécie estivesse se preparando para lutar com as outras. O Conselho Imperial continuava se reunindo e continuava não resolvendo quase nada. Mesmo que todos tenham garantido que os acordos de paz ainda estavam em vigor, era óbvio que todos se preparavam para uma possível guerra. A cordialidade era mantida a vista, mas por baixo dos panos muitos faziam acordos que nunca teriam coragem de fazer caso Eliel estivesse aqui.
Faria um mês do sumiço de Eliel, nenhuma pista, nenhum rastro. Ele simplesmente tinha sumido. Várias teorias da conspiração surgiram, alguns até achavam que ele tinha morrido. O que me fazia acreditar que ele estava bem era o fato de já terem ido atrás de Lucas. Wong me disse que Eliseu, que é um anjo caído e o segundo no comando da Legião dos Caídos (depois de Eliel, óbvio), já tinha falado com Lucas algumas vezes, mas Lucas estava com sua humana e não sabia nada de Eliel. Convenhamos, sabemos que é mentira. Mesmo que Lucas estivesse com essa tal humana por amor, pelo nível de lealdade que ele demonstrou a Eliel, ele nunca ficaria parado enquanto o outro estava sumido.
Wong também já tinha me perguntado se naquela conversa que tive com Eliel, ele tinha me contado algo que pudesse ajudar a entender o que tinha acontecido ou alguma pista de seu paradeiro. Eu nunca contei a verdade, apenas Theo sabe sobre Clara.
Voltando a minha vida, eu fiquei afastada da faculdade por duas semanas. Corey me deu um atestado médico como se Theo e eu tivéssemos sofrido um acidente de moto. Eu passei uma semana fingindo mancar durante as aulas.
Em casa tudo continuava igual, Mony tinha se mudado definitivamente para nossa casa. No começo ela não queria, ficou receosa, mas agora já estava habituada. Aninha não tinha se mudado oficialmente, mas passava mais tempo aqui do que na casa dos seus pais. Ela até tinha usado o meu "acidente" como desculpa, disse que ficou aqui para me ajudar.
Lua está cada vez mais esperta, nove meses e já fala algumas coisas, além de correr pela casa. Ela também nunca mais ficou doente e, mesmo Theo tentando negar, sei que quando não estou, ele está a ensinando lutar.
As vezes me preocupo, sei que cada bebê tem seu ritmo próprio de desenvolvimento, mas ela só tem nove meses, era para fazer tanta coisa assim?
Corey e Hadassa a examinaram, ela está bem e saudável. Hadassa fala que é coisa de mãe, sempre preocupada com as crias. Pode ser.
-- Wong veio falar comigo, de novo -- eu falei enquanto estamos dando banho em Lua.
-- O que ele queria? -- Theo franziu o cenho preocupado.
-- Dessa vez foi para falar sobre uma festa, o Dia de Todos os Santos.
-- Sim, é uma das datas​ mais importantes​ para o mundo sobrenatural, dia primeiro de novembro.
-- Achei que fosse o Halloween.
-- Na verdade, o mundo humano entendeu errado. As festas começam na véspera, no dia 31, mas é para a meia noite, na virada do dia primeiro, os seres estejam juntos. Então acabamos deixando os humanos fazerem essa festa no dia errado -- ele deu de ombros.
-- Eu nunca pensei nisso -- eu falei.
-- Tem tanta coisa pra você aprender -- ele riu de mim.
-- Idiota -- bati nele que apenas riu -- porque esse dia é importante?
-- Sabe o que falam do Halloween?
-- Que as criaturas das trevas ficam mais poderosas?
-- É quase isso -- ele respondeu enquanto enxugava Lua -- a magia em si que fica mais forte, qualquer ser que tenha sido tocado pelas trevas ou pela luz fica mais forte, os instintos ficam aflorados. As primeira madrugada é a parte mais forte, mas esse é o dia livre.
-- Dia livre?
-- Vampiros podem andar sob a luz do sol tranquilamente, lobisomens noturnos podem se transmutar a hora que quiserem, magos podem conjurar qualquer tipo de feitiço.
-- É um dia perigoso? -- confesso que estava um pouco assustada com aquilo.
-- Bem, não foi até agora, mas antes tínhamos Eliel, agora não tenho a menor ideia do que vai acontecer -- ele pegou Lua nos braços, já vestida, e me puxou -- Mas eu não vou deixar que nada aconteça a nós -- disse me beijando.
Ele ainda não tinha superado completamente o meu sequestro e tudo o que aconteceu. Várias noites acordei com ele se debatendo no sono, parecendo sofrer, era difícil acorda-lo e ele sempre despertava assustado, quase em pânico. Só se acalmava quando via que eu estava bem, depois ficava abraçado em mim por horas, às vezes conversávamos, às vezes apenas ficávamos em silêncio.
-- Bom dia família, o que faremos nesse belo sábado? -- Aninha perguntou animada, chegando na cozinha com Marcelo.
-- Eles eu não sei, mas nós temos que ir na casa do seu pai, é aniversário da sua tia -- Marcelo falou.
-- Que tia? -- perguntei.
-- Alda -- ele respondeu e Aninha e eu fizemos careta.
-- Boa sorte! -- eu a provoquei.
-- Vai também? Por favor! -- ela implorou para mim.
-- Estou fora, a única pessoa que sua tia detesta mais do que você, é a mim -- respondi cortando as frutas para o café da manhã da Lua.
-- E a história de "Amigas até o fim"?
-- Acabou quando sua tia se envolveu na história -- respondi mostrando a língua -- Aqui meu amor -- entreguei o potinho para Lua, que estava sentada na sua cadeira.
-- O que quer fazer hoje? -- Theo me perguntou.
-- Você não falou que ia no shopping hoje?
-- Sim, temos que comprar roupas novas para a Lua, ela cresceu bastante -- ele disse todo orgulhoso.
-- Theo, você compra coisas novas para ela quase todos os dias -- eu disse e ele bufou revoltado.
-- Não o suficiente, não é? -- ele perguntou para a Lua, que concordou com a cabeça sorrindo, fazendo Theo sorrir orgulhoso e vitorioso -- Viu?
Minha vez de bufar, ela concordaria com qualquer coisa que ele fizesse.

Caçada - MarcadosOnde histórias criam vida. Descubra agora