Minha cabeça zunia, do que ele estava falando?
— Eu não sei o que você é — Lucas continuou — mas você não é como os outros Marcados que eu já tenha conhecido. Você é como Clara.
— Como assim?
— Eve, eu sou um Nefilim — a garota me explicou — sou filha de um anjo com uma humana. Mas ao contrário dos outros Nefilins que existem, bem, você sabe quem é o meu pai — ela sussurrou — por isso eu sou única e a mais forte de todos.
Precisei de um segundo para compreender, então a realidade bateu forte. Existem apenas seis Arcanjos, um está preso no inferno, quatro estão no Céu e o último na Terra. Nenhum dos outros teve contato com humanos, exceto Lúcifer, mas ele estava mais interessado em extermínio do que em envolvimento amoroso. Ou seja, o único, entre todos os Arcanjos, a ter um filho, foi Eliel.
Clara é a única filha do ser mais poderoso da Terra, o que a faz extremamente poderosa.
— Por isso ninguém pode saber de você — sussurrei de volta.
— Só me tornarei imortal quando completar vinte e um anos, em menos de um ano, até lá eu posso sofrer qualquer coisa como uma mortal.
Demorei uns segundos para absorver, eu estava com o maior segredo sobrenatural bem na minha frente e não podia contar para ninguém.
Nem Wong ou Vlad sabiam!
Certo que se você pensar bem, faz sentido. Eliel é o mais poderoso, Clara sendo sua filha, também seria. Eu sei que é óbvio agora, mas eu realmente não tinha parado para pensar nisso.
E, só para piorar, eu tinha jurado a Eliel, que ajudaria a manter Clara a salvo!
Francamente, eu só tinha ido na cozinha buscar um pouco de suco para a minha filha e acabo sendo a portadora de um dos maiores segredos da história mundial!
— Acho que a gente precisa conversar mais — eu disse por fim.
— Você está demorando, está tudo bem? — Theo chegou na cozinha, avaliando a situação.
— Aqui — eu entreguei o suco para ele, depois agarrei a mão de Clara — preciso conversar com ela — então saí a arrastando.
Corri até meu quarto, ignorando o lobo e o vampiro que ficaram para trás.
Isso até parece o começo de uma piada ruim: um lobisomem e um vampiro estavam parados na cozinha, aí um deles. . .
— Eve — Clara me chamou assim que soltei dela e tranquei a porta — o que você quer conversar? Porque eu não sei se sou de muita ajuda.
— Tudo bem, eu já entendi que eu e você estamos no mesmo barco, fomos jogadas no meio de tudo isso do nada — bufei, me jogando na poltrona — eu só precisava de um tempo longe de tudo. Às vezes me sinto sufocada.
— Eu entendo — ela se sentou no sofá — lá em casa, só eu não sei das coisas, o tempo todo alguém tem que me ensinar algo, me proteger de algo. Não posso sair sozinha, não posso fazer praticamente nada sem ter alguém do meu lado!
— Aqui também é assim, Lobos são fortes e Marcados precisam ser protegidos. Também não gosto nada disso. Eu estudo e faço estágio, sempre tem pelo menos um lobo levando e buscando — revirei os olhos — Theo é o pior, o mais louco com isso. Os outros Marcados conseguem dar três passos antes dos seus lobos estarem atrás. Antes que eu pense em me afastar, Theo já me puxou de volta — Clara riu da minha revolta.
— Mas você luta também, é tão confiante e forte. Eu queria ser como você. . .
— Não mesmo — minha vez de rir — Eu não sou o que dizem que sou. Na maior parte do tempo, eu sinto como se eu estivesse me debatendo para não afundar e morrer afogada. Não me tornei "forte" porque eu quis, foi porque eu não tive escolha.
— Você está melhor do que eu, tudo o que eu faço é ser protegida e salva. Você teve mais contato com o meu pai do que eu.
— Seu pai me assustou a alma fora do corpo! Duas Vezes! — ela riu — Sério! A primeira vez que conversei com ele, eu não tinha a menor ideia de quem ele era e já comecei a desabafar — revirei meus olhos — só depois percebi quem era depois, aí já era tarde.
— A última vez que conversei com ele, a única aliás, eu não queria conversar. Passei praticamente a vida inteira o odiando. Se não fosse pelo Lucas, provavelmente eu nunca teria ter dado uma chance para o meu pai.
— Hey — me sentei do lado dela, apertando sua mão — ele sabe que você gosta dele. E é totalmente compreensível você não querer falar com ele. Eu também não queria acreditar no Theo quando ele contou. Certo que ele não foi delicado, praticamente me sequestrou e vomitou toda a verdade em cima de mim.
— Quer falar de sequestro? Lucas literalmente me sequestrou! Uma noite eu estava voltando para casa do trabalho, aí ele pula na minha frente, me joga sobre o ombro e saí correndo! — eu comecei a rir — Horas depois eu estou na frente do pai que eu nunca quis encontrar, descubro que sou uma Nefilim e que meu pai é um dos responsáveis por prender Lúcifer no inferno!
Nos encaramos por um tempo, depois começamos a rir desesperadamente.
— Quando tudo isso acabar, criamos um pseudônimo e lançamos uma série de livros contando nossa história — falei — é tão bizarro, que nunca ninguém vai acreditar que é real!
— Aí depois assinamos contrato com a Netflix! — ela completou — Melhor já ir escolhendo o elenco.
Voltamos a rir desesperadamente e eu não sei se era porque a situação era tão bizarra que ficava engraçada, ou era de nervoso mesmo.
— Mas eu gosto da minha vida — eu disse por fim — tenho muito mais do que achei que conseguiria. Eu já estava resignada a dedicar minha vida a minha filha, a ser apenas mãe, nada mais.
— Theo mudou a sua vida, não é? Dá para ver como ele te ama, ele nunca tira o olho de você, está sempre te tocando e tentando te proteger.
— Sim —eu sorri com isso — assim como o Lucas é com você — no mesma hora Clara abaixou o rosto, deixando que seu cabelo se tornasse uma parede entre nós — Clara, o que foi?
— Lucas não é meu namorado e ele não me ama — ela disse em voz baixa.
— O que? — perguntei em choque — Olhe para mim, você está falando sério? Vocês não estão juntos?
— Não — ela suspirou — Lucas é minha babá e segurança pessoal. Meu pai mandou que ele me protegesse, então é isso que ele faz — ela deu de ombros.
— Isso me deixou mais chocada do que a possibilidade de eu ser uma Alfa — exclamei — Desculpa, mas não tem chance nenhuma dele não ter sentimentos por você. Que você é apaixonada por ele, é óbvio, mas ele sente, sim, algo por você—
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Caçada - Marcados
FantasyE a guerra começou. . . Qual o meu papel nela? Eu também queria saber, mas sei que estou bem no meio dela. Com o sumiço de Eliel, nada mais é garantido, nada mais é como antes. O conselho não se resolve, cada espécie cria novas regras para tentar co...