— Aqui está — eu coloquei a bandeja com os lanches na mesa e me sentei, ficando de frente com ela.
Tínhamos vindo no shopping, ela preferiu comer na praça de alimentação, acho que estava com medo de ficar em algum lugar mais afastado comigo. O que faz todo o sentido, já que para ela eu ainda era uma desconhecida, que a tinha abordado na rua, dizendo que precisava conversar com ela urgente.
A pior parte é que depois de toda essa caçada para encontrá-la, eu estou na sua frente e não sei o que dizer. Foquei tanto na parte de encontrar a Hannah, que esqueci de pensar no que eu ia falar para ela.
Eu disse que sou péssima nessas coisas!
— Obrigada — ela me olhou assustada e tentou corrigir — ObrigadO.
— Por que você está falando no masculino? — perguntei franzindo a testa.
— Por que... bem... é óbvio...
— Para mim não é não — eu disse mordendo meu sanduíche — Você não quer tirar essa blusa de moletom?
— Não! — ela respondeu rápido demais — melhor não!
— Ok, mas você podia abaixar pelo menos o capuz — ela suspirou, mas fez o que falei, deixando seu longo cabelo a mostra — Uau, seu cabelo é lindo, tenho uma amiga que vai pirar quando ver!
— Obrigada...o...— ela se corrigiu de novo, então respirou fundo e repetiu — obrigada!
— De nada — eu sorri.
Ficamos um tempo comendo em silêncio, eu realmente não sabia o que falar.
— Como você sabe de mim? — ela perguntou, sua voz era tão baixa, que era quase um sussurro.
— Te encontrei pelo twitter. Olha, foi uma loucura conseguir te achar, demorou muito tempo. Meu amigo e eu quase ficamos loucos te procurando.
— Eu quis dizer "saber da minha condição", mas por que vocês estão me procurando?
— Sua condição? Como assim?
— A minha disforia de gênero — ela sussurrou olhando para baixo.
— Ah, sim, eu descobri ontem a noite, se bem que parando para analisar agora, estava bem na cara isso. Mas, enfim, se eu soubesse que a garota que eu estava procurando era você, teria facilitado muito as coisas e me poupado bastante trabalho.
— E por que todo esse trabalho para me encontrar? O que está acontecendo? Como me achou e por que?
— Calma, vou tentar responder tudo o que você perguntou, mas temos que ir com calma, ok? — isso ia ser difícil — Bem, eu preciso que você mantenha a mente bem aberta para o que eu vou te falar, bem aberta mesmo, entendeu? — ela concordou com a cabeça, tomando um gole do seu refrigerante — Você acredita em alma gêmea?
— Ah — ela pareceu constrangida — olha, você parece ser alguém legal, mas eu não sou lésbica — Hannah falava quase como se estivesse se desculpando — então. . .
— O que? Não! Não é isso! Aí, pelo Alfa! — bati na minha testa. Quando eu acho que sou ruim em algo, eu vou lá e provo que sou pior ainda — Não, não é nada disso. Eu perguntei se VOCÊ acredita, mas eu já encontrei a minha. O meu é alto, forte, idiota e eu o amo — "e um lobisomem", acrescentei mentalmente.
— Oh, que fofo! Parabéns — ela sorriu para mim — sim, eu acredito em almas-gêmeas.
— Que bom, isso facilita parte do processo — resmunguei mais para mim mesma, do que para ela — e se eu te falar que encontrei a sua?
— O que? — ela perguntou confusa, aquilo não estava saindo como eu queria.
— Só me deixa explicar primeiro! Eu vi no seu Twitter que você acredita em magia e essas coisas, não é? — ela concordou — Se eu te falar que existem seres "mágicos", vocês também acreditaria? — ela me olhava confusa — Pode parecer loucura, mas existem seres sobrenaturais que andam entre nós, de todos os tipos e espécies, alguns possuem uma coisa muito especial, uma marca de nascença que os ajuda a encontrar a sua alma gêmea — Hannah me encarava interessada em tudo o que eu dizia. Bem, só o fato dela não ter saído correndo daqui me chamando de louca, já era um ponto a meu favor — Eu tenho uma no meu pescoço, está vendo? — afastei meu cabelo para que ela pudesse ver — Theo, meu namorado, também tem uma marca exatamente igual a minha e no mesmo lugar, olhe — mostrei uma foto de Theo e Lua que estava no meu celular, nela dava para ver a marca dele perfeitamente.
— Sua filha? — ela perguntou sorrindo e concordei — Sua família é linda! Olhe, isso que você está me contando parece um conto de fadas de tão lindo, mas, mesmo que eu acreditasse nisso, o que tem a ver comigo?
— Aqui — mostrei outra foto — esse é o Henrique, ele tem vinte e um anos, é faixa preta de judô, está cursando algumas matérias complementares do curso de química, péssimo na cozinha, o que é engraçado já que o irmão mais velho dele é quase um chef. Ele também adora zoar e é engraçado, tem um irmão gêmeo, além do mais velho que eu já disse, tem uns pais bem loucos, adora velocidade, por isso tem moto e é meu primo.
— Ele é muito bonito — ela disse em voz baixa, corando levemente.
— Ele também tem isso — a próxima foto era da marca dele — uma marca exatamente igual a sua, no mesmo lugar que você tem — Hannah olhava a imagem estupefata, sua boca formava um O e ela parecia não saber o que dizer — assim como Theo e eu temos uma ligação muito forte, você tem com Henrique.
— Isso. . . Não é possível, uma marca de nascença não pode provar nada. . . E se for coincidência. . . E se. . .
— Que tal tirar a prova você mesmo?
— Como?
— Marcamos um encontro entre vocês, você pode conhecê-lo e tirar suas próprias conclusões por si só — sugeri e ela pareceu ponderar — Olha, você não é obrigada a nada, se não quiser, tudo bem, mas o que tem a perder? Não ficará sozinha com ele e podemos marcar em um parque durante o dia, qualquer lugar movimentado, se isso for te fazer se sentir mais segura.
— Sabe que essa história parece loucura, não é?
— Hannah, a vida é uma loucura sem fim, mas você escolhe entre ser uma expectadora invisível ou a protagonista da sua história. Nada é fácil, pelo contrário, tem horas que dá vontade de desistir de tudo e bater a cabeça na parede, mas há coisas que te motivam a seguir em frente.
— Cada dia eu encontro menos motivos para seguir em frente — ela disse abaixando o olhar.
— Hey — falei pegando na sua mão — me deixa mudar isso, por favor. Me dá uma chance, eu só preciso de uma, para provar que você é incrível e tem um destino maravilhoso te esperando.
— Para pessoas como eu, é difícil acreditar em futuro.
— Hannah, a única diferença entre você e eu é que eu já tenho o Theo ao meu lado, logo você terá Henrique. Porque, sério, na hora que ele te ver, não vai querer mais desgrudar de você — ela riu tímida — Não vou mentir e dizer que sei pelo o que você passa, porque eu não sei. Eu escutei o aquele bando de garotos medíocres falou sobre você, imagino o quanto deva ser difícil viver em um corpo que não é seu, mas eu prometo que tudo vai melhorar. E não estou falando da boca para fora ou acreditando que, talvez, o futuro seja melhor. Estou te prometendo que se der uma chance para a minha família, você vai ser amada e protegida como nunca foi ou imaginou ser!
Ela mordia o lábio nervosa, parecia em dúvida, o que era totalmente normal no caso dela.
— Por que ele mesmo não veio falar comigo?
— Henrique é um Acker, assim como o Theo, meu namorado. Os nascidos Acker's não possuem muita paciência, por isso resolvi vir antes. Ele ainda não sabe que eu te encontrei, porque se soubesse, garota, ele já tinha te colocado na garupa da moto dele e te levado daqui — ela riu. Pobrezinha, outra que achava que eu estava exagerando.
— Eu tenho mais uma pergunta — ela falou depois de um tempo quieta, eu afirmei com a cabeça, para ela continuar a falar — por que você me chama de Hannah?
— Agora fui eu que não entendi — eu disse confusa — não é seu nome?
— Sim, bem, é o nome que eu gostaria ter. Mas todos que me conhecem, tirando a minha irmã, me chamam pelo outro nome. . . Alexandre — ela falou o nome baixo e com muita mágoa — eu não precisei explicar para você ou tive que responder alguma pergunta. Nada.
— Hannah, você vai entender que na minha família é assim, você é o que é, ponto final. Assim que você for uma Acker, vai entender melhor — ela sorriu de canto — Se você gosta de ser chamada de Hannah, se esse é o nome que você queria ter, então é esse o seu nome!
— Vocês realmente não vêm problema em eu... sabe... ter nascido com... será que esse garoto de que você fala não vai...
— Hannah, sempre confie em uma coisa, quando um Acker ama, não há nada nesse mundo que o impeça de ficar com essa pessoa. Assim que Henrique pôr os olhos em você, não haverá nada no mundo que o tirará do seu lado!
Ela sorriu para mim, ainda era um sorriso tímido, mas era o mais sincero e feliz que ela tinha dado até agora.
Meu celular apitou uma mensagem, Theo tinha me mandado um endereço onde eu deveria encontrá-los e um lembrete "amigável" que eu deveria ir para o local imediatamente ou ele viria atrás de mim.
Sabe, as vezes Theo e Vlad se parecem muito, se convivessem um pouco, aposto que seriam grandes amigos. . . Ou se matariam, algo do tipo.
— Hannah, eu tenho que ir, mas eu quero que você fique com meu número. Você pode me ligar e mandar mensagem a qualquer momento. E se algo acontecer, me avise, eu juro que vou te ajudar em qualquer coisa que você precisar! — falei anotando meu número no celular dela — Quando você se sentir segura, marcamos aquele encontro, sim?
— Está bem — ela riu nervosa — isso tudo é loucura, mas, sei lá, parece divertido.
— Vem cá, antes de ir é justo que eu te dê uma prova de que tudo isso é real — falei a puxando pela mão, estávamos do lado de fora do shopping, onde tinha uma fonte e cascalhos — está vendo isso aqui? — perguntei uma das pedras, ela olhou interessada. Eu sorri para ela enquanto minha mão esfarelada a pequena rocha na minha mão. Hannah fez uma cara de assombro tão grande, que chegou a ser engraçado — Força de lobo, depois te explico, não esqueça de me ligar, ok?
— Certo — ela ainda parecia espantada, mas agora ria do pó que estava em sua mão.
— Você é uma garota incrível, nunca duvide disso! — eu disse a abraçando — Você nunca mais estará sozinha!
— Obrigada — ela agradeceu um pouco envergonhada. Mas, mesmo que eu quisesse ficar ali com ela, eu tinha que correr e cumprir a missão de Vlad.
O lugar era longe de onde eu estava, o motorista que me levou me perguntou várias vezes se eu tinha certeza que queria ir para aquele lugar. Quando chegamos na rua, demos de cara com Theo parado no meio da rua e de braços cruzados. O motorista se virou para mim assustado.
— Moça, tem certeza que quer ficar aqui? Eu posso dar meia volta e fugir acelerado!
— Não precisa — eu estava segurando o riso — Esse aí é o meu namorado.
— Seu namorado é estranho — ele murmurou enquanto recebia o dinheiro.
— Moço, você não nem faz ideia — eu ri, indo de encontro a Theo.
— Estranho? — ele levantou a sobrancelha.
— Não finja que não — eu ri ainda mais quando o motorista fugiu acelerando.
— Conseguiu resolver o "problema"? — Theo perguntou enquanto me guiava entre o bairro desativado. O lugar era feio e sujo, realmente estava abandonado.
— Digamos que sim, não tenho certeza ainda.
— Por aqui — Mikael nos chamou.
A casa era como as outras, feia por fora e por dentro. Não possuia móveis e as janelas estavam bloqueadas, fora que cheirava muito mal. A sala era conjunta com a cozinha, haviam marcas de arranhões pelo chão e paredes, parte da pia estava quebrada e também haviam marcas de sangue. Muitas garrafas de vidro de diferentes bebidas estavam espalhadas, várias quebradas. O único armário da cozinha estava quebrado e quase caia da parede.
Seguindo pelo corredor, chegamos no último quarto, uma enorme mancha de sangue estava no chão, fora os vários pontos nas paredes. Parte do bloqueio da janela tinha sido arrancado e haviam mais marcas pelo chão e paredes.
— O que houve aqui? — perguntei surpresa.
— A Guarda investigou e não encontrou nada — Mikael respondeu.
— Nada? Olha o estado desse lugar!
— Festas de renegados tendem a ser bem piores do que isso, muito mais destruição e muito mais sangue.
— Os corpos queimados foram encontrados lá fora? — Theo apontou pela janela parcialmente bloqueada e Mikael confirmou com a cabeça — Eve, o que você acredita que aconteceu aqui?
— Um ataque — respondi séria — houve uma grande briga lá na frente, enquanto alguém era atacado aqui. Acredito quem for que estivesse lutando lá — apontei para o corredor — conseguiu chegar até aqui.
— Como pode saber? — Mikael perguntou.
— As marcas pelos cômodos são parecidas com as que eu faço quando estou lutando. Essa briga deve ter sido bem intensa. Aqui alguém estava sendo torturado, esse sangue no chão é dessa pessoa.
— Não são detalhes de mais para saber só de olhar?
— Não estamos só olhando — Theo falou — a sala cheira a adrenalina, raiva e muita preocupação. Esse lugar fede a medo e dor. Para depois de um mês, o cheiro ainda estar tão forte, deve ter sido brutal o que aconteceu.
— Mesmo tendo marcas de sangue por todo lugar, as garrafas do chão não estão sujas, pelo menos não de sangue.
— Distração — Mikael sorriu de canto.
— Mas você já sabia de tudo isso — Theo falou para ele — você sabia que não tinha sido uma festa de renegados — ainda sorrindo, Mikael concordou — então qual o propósito de tudo isso? Se você sabia, porque tivermos que vir até?
— Por que eu precisava que confirmassem isso para o Lorde Tepes, só assim ele me deixaria ficar aqui.
— Ótimo, primeiro Vlad, agora você — bufei — por que vocês ficam de joguinhos e não falam logo o que querem?
— É por causa da vampira que vimos hoje? — Theo perguntou.
— Também — Mikael suspirou.
— Espera, o que?
— Parece que não é só você que tem segredos — Theo zombou de mim e eu revirei os olhos. Idiota!
— Vai explicar o que está acontecendo aqui ou devo ligar para Vlad contando sobre tudo isso? — perguntei para Mikael, ignorando meu namorado.
— Não era para eu saber o que tinha acontecido aqui, mas há algumas semanas resolvi investigar por conta própria e cheguei às mesmas conclusões que vocês. O que só me faz pensar que ou a Guarda foi extremamente relapsa ou. . .
— Há um traidor entre vocês — completei.
— O que realmente aconteceu aqui? — Theo perguntou sério.
— Não sei, realmente não sei — Mikael respondeu — tenho quase certeza que Marcela está envolvida no que aconteceu aqui. Mas se Lorde Tepes descobrir, tenho medo do que pode acontecer.
— Quer dizer que o homem de confiança do Vlad está escondendo algo dele? — eu não sabia se ria ou chorava — Quem é Marcela?
— A vampira por quem ele está apaixonado — Theo falou casualmente.
— Eu não diria que estou apaixonado — Mikael retrucou.
— Você está mantendo segredos da criatura mais poderosa do planeta, para proteger essa garota e vai mentir na minha cara, dizendo que não está apaixonado? Fala sério! — revirei os olhos de novo — Se essa garota está envolvida, preciso conhecê-la.
— Não, definitivamente não! — Mikael recusou.
— Mikael, Vlad me fez vir até aqui para resolver isso, ele quer respostas porque sabe que alguém está tentando o enganar e sabemos o que vai acontecer se ele vier pessoalmente. Então, já que você gosta tanto dela assim, a ponto de enfrentar o seu próprio Alfa, eu quero conhecê-la. Me recuso a arriscar meu pescoço, por alguém que eu não conheço!
— Você vai me ajudar? — ele perguntou espantado.
— Um segredo a mais não vai fazer diferença — dei de ombros — Ligue para ela e marque algo.
— Marcela está sempre com a melhor amiga, Alexandra. Alexandra é de uma das seis famílias vampíricas, mas Marcela foi mordida por um renegado, mesmo assim elas possuem algum segredo e eu tenho quase certeza que isso tem a ver com o que aconteceu aqui.
— Ótimo, as traga para conversamos.
— Você não está entendendo, Marcela é uma recém criada, mas Alexandra é poderosa o suficiente para te manter longe.
— Não se preocupe, apenas marque com elas e o resto eu resolvo.
— Certo — e saiu daquele quarto para fazer a ligação.
— Vamos sair daqui — Theo me levou para fora, me puxando pela mão — Tem certeza que quer se envolver em tudo isso?
— Theo, eu nunca tenho certeza do que estou fazendo — encostei minha cabeça em seu peito. Ele me abraçou e sussurrou no meu ouvido:
— Sempre tenha certeza que eu te amo e sempre estarei aqui com você!Nada a ver com a história:
Alguém vai no show do Harry Styles que vai acontecer dia 29/05 em São Paulo??
Por que eu vou, aí se alguém for, me encontra lá!!!Eu vou estar na Pista Comum, então se vocês verem alguém com o cabelo azul e verde (provavelmente usando uma tiara de unicórnio), podem me chamar, porque serei eu!!!!
:)
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Caçada - Marcados
FantasiaE a guerra começou. . . Qual o meu papel nela? Eu também queria saber, mas sei que estou bem no meio dela. Com o sumiço de Eliel, nada mais é garantido, nada mais é como antes. O conselho não se resolve, cada espécie cria novas regras para tentar co...