Capítulo 14 - O encontro

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O sol alcançava o zênite, gerando uma paisagem praticamente sem sombras. Seu brilho refletia na neve esparsa dando um aspecto de sonho ao cenário que se mantinha intacto após os eventos de destruição que haviam se passado.

O universo por si só, regido pela entropia, sempre foi capaz de destruir e desorganizar com maestria, realizando pequenas manobras a todo momento em situações tão corriqueiras que os seres humanos nem sequer percebiam, se contentando apenas em mecanicamente realizar o trabalho de faxina após as ações danosas de seu chefe mimado. Agora, entretanto, castigada pelas constantes falhas em seu serviço, a faxineira havia sido despedida. A raça humana havia sido exposta ao seu expurgo, possibilitando que a entropia atuasse sem nenhum impedimento, mas, por um simples capricho do destino, três humanos sobreviveram e agora se encontravam ali parados de frente àqueles três novos espécimes.

As criaturas lembravam a um ser humano em forma e comportamento, mas diferenças claras podiam ser evidenciadas: a "pele" (na verdade, uma composição nanotecnológica que se ajustava a musculatura de seus corpos) era escura, beirando o preto, com algumas regiões brancas que pareciam se ajustar a todo momento de modo a equilibrar os níveis de energia que o corpo absorvia e refletia. Era como encarar um teste de Rorschach; as estaturas eram diferenciadas, não apenas mais altos, mas como se a gravidade não fizesse efeito sobre eles. Assim como a pele, a altura era outra coisa que parecia se ajustar a todo momento, como se a cada segundo fossem completamente diferentes ao que eram no segundo anterior; os olhos estavam lá, assim como todos os outros órgãos e membros comuns aos seres humanos. A diferença, nesse caso, se encontrava no fato de que não eram olhos normais, não demonstravam amor, compaixão, empatia ou qualquer sinal de bondade. Eram olhos de predadores; e apesar de todas essas e mais algumas diferenças, eram estranha e assustadoramente humanos, como se fossem o próximo passo da evolução.

Ninguém sabia como quebrar aquela espécie de encanto que se estabelecera entre eles impedindo todos os presentes de iniciar qualquer tipo de conversa, mas, mesmo insegura, Talya tomou a frente dos outros:

– O que são vocês? – Diana e Michael se posicionavam ao seu lado, deixando-a no meio tomando as rédeas da situação. O outro grupo havia se posicionado seguindo a mesma formação.

Com uma calma capaz de causar inveja a qualquer atirador de elite, o ser que se encontrava no meio dos outros dois, diretamente de frente à Talya, deu um passo a frente e entoou numa voz grave e comedida, como se todos os seus movimentos fossem previamente analisados em busca da melhor conformação:

– É uma longa história, então sugiro que achemos um lugar melhor para conversarmos. Mas, resumidamente, somos a sua salvação.

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