Capítulo 15 - O que são vocês?

99 15 1
                                    

A cabeça de Diana girava com a explicação daquele que se autodenominava Prochnost e, ao que tudo indicava, era o líder do grupo (mesmo que, para ela, os três fossem absolutamente iguais). Os outros dois se chamavam Znaniye e Somneniye, e só observaram durante todo o tempo em que estiveram ali. Era difícil absorver tanta informação num intervalo tão curto de tempo. Eles diziam fazer parte de um protocolo secreto do governo para dar continuidade à existência da raça humana em situações extremas. Carregavam o DNA humano consigo, assim como as ferramentas necessárias para desenvolvê-lo em um novo corpo, trazendo a espécie de volta à existência. Um verdadeiro banco genético com pernas.

Diana estava tentando se adaptar àquela situação toda. Fazia pouco mais de três meses desde que seu mundo virara de cabeça para baixo e até agora ainda não havia conseguido assimilar direito o que estava acontecendo. Há quatro meses atrás estava trabalhando com seus colegas, feliz com os rumos que o destino havia preparado para ela. Casamento, gravidez, promoção no trabalho, tudo parecia correr bem demais, rápido demais, certo demais. Deveria ter desconfiado. Deveria ter imaginado que para ganhar algo, antes é preciso perder, e que o destino, sádico como ninguém mais é capaz de ser, tem a capacidade de inverter essa ordem a qualquer momento. Ainda era capaz de ver o rosto do filho correndo pela casa, indo de um cômodo a outro com tanta velocidade que era como se não possuísse corpo, apenas uma feição alegre atravessando os corredores. Podia sentir seu cheiro, inundando a casa depois de uma tarde de brincadeiras. Sua pequena voz ecoava em seus ouvidos de maneira desigual, como ecos de um cômodo sem móveis.

– Então, qual o objetivo de vocês aqui? – A voz de Michael trouxe Diana de volta à realidade.

– Nós não imaginávamos que houvesse restado alguém vivo. – Agora era Somneniye quem estava falando – Nossa ideia inicial era aguardar até que o planeta estivesse novamente habitável e auxiliá-los a se reerguer como espécie. Mas agora que tomamos conhecimento da existência de sobreviventes devemos mudar nossa forma de atuação e focar na busca de mais pessoas.

Diana havia falado pela primeira vez desde que tinham retornado à casa:

– E se não houver mais ninguém vivo? Estaremos desperdiçando energia em prol de uma causa que pode muito bem não dar em nada. O que leva vocês a acreditar que existe mais alguém aí fora?

Znaniye havia se colocado de pé, fazendo com que todos os presentes virassem suas cabeças na direção dele. Sua pele agora era em sua maioria branca, mas as manchas pretas continuavam se movimentando e se ajustando enquanto ele se dirigia ao centro da sala. Sua presença era magnética e o ambiente começava a assumir ares de tensão que deixavam todos os humanos preocupados com o que iria acontecer em seguida. Afinal de contas, embora houvessem aceitado tudo o que aqueles estranhos seres haviam falado até ali, não tinham nenhuma comprovação e nenhum motivo para acreditar que eles seriam salvadores da humanidade. Principalmente porque a humanidade não era o componente principal daqueles que se diziam ser o futuro. Virando de frente para o trio de cientistas, começou seu discurso:

– Posso sentir sua falta de confiança e entendo que não possuem nenhum motivo para acreditar em nós. Somos completamente novos e, consequentemente, estranhos a vocês. Nossa aparência não é nada simpática e o simples fato de que não sabem muita coisa sobre nós torna nosso diálogo e nossa convivência um pouco turbulentos. Entretanto, há algumas informações que gostaria de compartilhar com vocês que talvez os faça confiar um pouco mais, ou pelo menos permita sanar algumas de suas dúvidas.

"Quando fomos criados, a Terra rumava à sua completa destruição. Estudos demonstraram que toda a vida no planeta seria exterminada, deixando apenas um grande globo vazio orbitando o Sol dessa galáxia. A nossa criação tinha o simples, mas não fácil, objetivo de ajudar esse mundo a se restabelecer após seu expurgo. Seu DNA nos foi concedido com o intuito de trazê-los de volta o mais breve possível, assim como o acesso ao Banco Global de Svalbard, para garantir a reestruturação da flora do planeta. No entanto, para recuperar toda uma cadeia de vida que vai desde fungos e bactérias até plantas e animais, seria necessária uma gama de conhecimentos que transcendia a capacidade humana. A solução foi reunir todo o conhecimento existente no planeta em um banco de dados universal, um grande computador contendo todas as informações que eram possíveis de se obter, resultando em uma grande enciclopédia mundial. Nós somos esse computador. Temos acesso à toda informação existente no planeta, e embora os humanos sempre tenham tido acesso à essa informação, vocês também estavam ocupados demais incitando a segregação em todos os ramos da sociedade. A compilação dessas informações nos tornou capazes de enxergar fatos e acontecimentos que passaram despercebidos por vocês durante todos esses anos. Para começar, estamos sozinhos no universo, quanto a isso não há dúvida. Entretanto, possuímos todos os meios para recuperar o domínio não apenas na Terra, mas em todos os outros planetas desse sistema solar, e sentimos que esse é o nosso objetivo desde que emergimos nesse lugar. Pretendemos fazer isso e contamos com a ajuda de vocês, então se existe a mínima capacidade de existir mais alguém vivo neste mundo nós iremos atrás para garantir que o restabelecimento seja o mais brando possível, com o menor nível de interferência nossa. "

O longo discurso de Znaniye começava a se assentar nas mentes dos que estavam ali presentes quando Talya, sem conseguir confiar plenamente naqueles seres, se levantou, perguntando um pouco mais ríspida do que havia planejado:

– Você vem dizendo que tem todas as respostas, que tem as soluções para nossos problemas, mas vocês se esqueceram de um pequeno detalhe: não pedimos sua ajuda, conseguimos sobreviver bem até aqui e tenho plena certeza de que somos capazes de nos recuperar sem sua presença. Não cabe a vocês dizer o que devemos ou não fazer e como vamos ou não agir, vocês nem sequer são humanos.

Com a mesma calma habitual, Prochnost se dirigiu a ela:

– Aí é que você se engana, Talya. Somos tão humanos quanto vocês e tenho certeza de que já nos conhecem.

Terra NovaOnde histórias criam vida. Descubra agora