Capítulo 19 - Tomada de decisão

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A caminhada havia chegado em uma encruzilhada, com o que parecia ser uma estrada de terra principal atravessando o caminho deles. Os Seres Novos ignoraram a estrada principal e continuaram em frente até chegar em uma estradinha para esquerda quase escondida no meio de toda a vegetação. O caminho seguiu sinuoso até que de um segundo para o outro toda vegetação desapareceu, e eles se encontraram em uma clareira com cerca de 100 metros de largura e 500 metros de comprimento. Era inacreditável como um espaço desse podia facilmente passar despercebido no meio de toda aquela vegetação. De frente para eles, na ponta da clareira, os restos de uma pequena construção jaziam completamente desfigurados. Os destroços, entretanto, não aparentavam toda a grandiosidade da revelação que lhes havia sido prometida.

– Chegamos. – O ser agora estava parado admirando aquela pilha de entulho.

Michael tomou a frente e fez a pergunta que todos queriam fazer:

– É sério isso? Esse é o lugar que guardava o segredo que vocês tanto falaram? Onde nós estamos?

A voz calma e complacente voltou a dominar a fala do Novo:

– "Guardava" não, Michael. Ainda guarda. Sejam bem-vindos ao Centro de Pesquisas Subterrestres do Exército. – Começou a contornar os destroços até o lado que antes não podia ser visto. Um portão inclinado, saindo do solo como um vulcão, despontou na visão deles. – Não se preocupem, o que precisamos mostrar a vocês está à salvo sob todo esse concreto.

A visão era inacreditável. O portão parecia ter sido preservado por alguma força invisível e permanecia intacto no meio de todos aqueles escombros.

Desceram as escadas e mais uma surpresa os atingiu em cheio. O lugar era gigante. Devia ocupar pelo menos um quarto daquela clareira e eles só estavam vendo uma das salas. Monitores saltavam das paredes e do teto como teias de aranha em uma casa abandonada. Bancadas com computadores ocupavam o centro da sala em fileiras que davam ao lugar a aparência de uma sala de controle de missões espaciais. Era impossível imaginar toda aquela aparelhagem vendo o terreno na superfície.

Um dos Novos então se aproximou de uma bancada próxima a eles e começou a falar:

– Eu costumava liderar essa instalação quando era humano – pelo visto era Prochnost quem falava com aquela cadência diferente. Parecia uma certa tristeza, mas como se ela tivesse sido fabricada em laboratório. – Vocês devem achar que somos seres completamente diferentes, alguma espécie de alienígena, mas ainda nos lembramos e ainda é difícil acostumar com tudo isso. Foi o Watt quem me trouxe a notícia de que tudo isso iria acontecer há algum tempo atrás, e iniciar o protocolo que nos deu origem foi uma das decisões mais difíceis que já tive que tomar em toda minha carreira. Mas não é nada comparado ao que vocês terão que decidir num futuro próximo.

Diana, sentada na bancada de frente à Prochnost, agora estava curiosa com o rumo da conversa:

– O que você quer dizer com isso? Teremos uma decisão de vida ou morte, por acaso? Não sei se vocês perceberam, mas não resta muita vida aqui para isso.

Znaniye, o ser que Prochnost havia apontado como sendo o antigo cientista Nicolas Watt, agora se encaminhava em direção a uma porta no fim da sala:

– Me sigam, por favor.

Atravessaram a porta e se depararam com outro cômodo imenso, porém diferente do anterior. A sala em que se encontravam agora parecia uma espécie de laboratório. Bancadas de mármore e produtos químicos se misturavam à montanha de vidrarias quebradas se espalhando pelo chão. Assim como a anterior parecia impossível imaginar que aquilo tudo estivesse ali.

– Esse era o meu antigo laboratório – ele continuou. – Foi aqui que todas as descobertas que nos trouxeram a esse estado atual foram feitas. Todas as experiências e atividades que nos evoluíram de seres humanos ao estado atual foram realizadas nessas bancadas. Tudo o que somos vem daqui, e por isso resolvemos trazer vocês para cá, pois também daqui sairá um novo futuro para a raça humana e para o planeta Terra.

A atmosfera estava estagnada, todas as emoções congeladas. Parecia que eram capazes de sentir que algo realmente sério estava por vir. A impaciência de Talia, a liderança de Michael e a desesperança de Diana, todas davam espaço para a expectativa que crescia entre eles.

Prochnost, vindo da porta da sala de controle, tomou as rédeas da conversa novamente:

– O que estamos prestes a revelar a vocês é fruto da união de todas as informações compiladas pelos seres humanos ao longo dos anos e processadas por nós. É o conhecimento que sempre permeou por entre vocês sem nunca ter sido tocado, apenas porque nunca foram capazes de se reunir em prol de nada. Porque sempre foram mesquinhos e egoístas e priorizavam o ganho pessoal ao conhecimento coletivo. E agora, a pergunta que recai sobre vocês, remanescentes da raça humana, é: vocês pretendem perpetuar esse egoísmo no seu renascimento, ou darão um passo para fora das sombras e finalmente alcançarão a glória que lhes é destinada?

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