Capítulo 25 - O fim de tudo

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A frieza com que aquele ser disparava todas aquelas informações, a tranquilidade com que ele falava do homicídio de seus próprios companheiros era inacreditável. O trio de cientistas estava em choque, tentando absorver cada informação que lhes era arremessada por Prochnost. Estavam com medo, impressionados, mas acima de tudo, estavam desacreditados de que aquilo tudo era realmente verdade.

Michael foi o primeiro a se posicionar:

– Você não pode estar falando sério, não matou aquelas pessoas.

Com a mesma calma que fez seu relato anterior, Prochnost continuou:

– Eu falei a verdade, Michael, os matei. Mas também falei a verdade quando disse que me arrependi de ter feito isso. Não foi a atitude correta.

Sem querer acreditar em tudo que estava ouvindo, Talia levantou estressada:

– Você solta essa bomba em cima de nós, diz com a maior frieza que matou seus próprios companheiros, definiu o rumo dos nossos futuros por conta própria, com que objetivo? O que você espera que façamos? Quer que a gente te agradeça e espere um futuro glorioso graças às suas atrocidades? Ou você pretende nos matar também? Quer ser o líder da galáxia ou algo parecido? – Talia já estava além de seu ponto de ruptura. Ela apontava e esbravejava enquanto aquele ser permanecia parado sem esboçar nenhuma emoção. Talvez isso tornasse tudo ainda pior, aquela casca humana tão distante de qualquer emoção, qualquer sentimento que lembrasse a humanidade. – Bem, eu vou te dizer uma coisa. Se é isso que você pretende fazer, então vai ter que nos matar aqui, nesse exato momento, porque você não vai se livrar de tudo isso impunemente, pode ter certeza.

– E o que você pretende fazer, Talia? Vocês não têm armas, não têm uma força policial, não têm impressa ou sistema de justiça aos quais me denunciar. Resumindo, vocês não têm nada. E ainda assim, você fala sobre eu não sair impune. Então eu vou explicar quais opções vocês têm. Vocês podem sair por essa porta, achar uma casa e sobreviverem por alguns dias com restos de mantimentos e qualquer coisa a mais que vocês acharem até não restar mais nada e finalmente serem extintos, ou vocês podem se juntar a mim, esquecer os erros que cometi e assim trabalharemos juntos para restabelecer a vida na Terra como ela já foi um dia. A escolha é de vocês. Não existem outras opções.

– Calma aí, – agora era Diana quem estava de pé – você ainda espera que a gente confie em você para trabalharmos juntos? Você, que há poucos minutos se dizia uma espécie superior aos humanos, que nós éramos os causadores de toda a destruição na Terra? Como você pode sequer sugerir isso?

– Diana, minha indiferença com os humanos nunca foi pessoal. Eu me desentendi com meus companheiros porque eles acreditavam que devíamos seguir com o protocolo como ele havia sido programado. Isso resultaria nos mesmos problemas que tínhamos antes, seres humanos sendo a espécie absoluta, praticamente donos do universo. A humanidade como estava era um problema em larga escala. Um sistema corrompido infectando seus próprios indivíduos, mas ainda assim a individualidade de alguns era forte suficiente para se destacar – Prochnost agora começava a divagar, caminhando pela sala. – O destino foi generoso ao preservar vocês e eu estou disposto a dar uma nova chance, um recomeço a toda humanidade bem aqui. Com sua sabedoria, Michael, sua força de vontade, Talia, e sua compaixão, Diana, a humanidade pode finalmente voltar aos trilhos. Vocês podem me ajudar a desenvolver uma sociedade ideal, paralela com o surgimento da vida no restante do sistema solar. Os seres humanos recomeçariam sabendo que não estavam sozinhos. Cresceriam sendo ensinados a amar a todos. Estariam prontos para lidarem com as diferenças e em algumas gerações já não precisariam de ninguém os falando o que fazer ou que atitudes tomar. A bondade, o conhecimento e a honestidade seriam coisas naturais.

Só então, se apoiando no encosto da cadeira, Michael se levantou e calmamente olhou nos olhos frios de Prochnost.

– E você pretende contar a eles? Pretende falar sobre os sacrifícios que outras pessoas fizeram para que seu plano desse certo? Você contaria a cada humano que nascesse sobre como o nascimento dele veio banhado em sangue inocente? Quais partes escusas do seu brilhante plano você omitiria deles, Prochnost? Como a honestidade pode se tornar natural quando ela nasce de uma mentira?

– Claro que a verdade nunca viria à tona, Michael – disse Prochnost, dando as costas a eles e partindo na direção da saída. – Expor toda a maldade e a desonestidade que havia na humanidade antes do renascimento, apenas iniciaria todo o ciclo de perversidade novamente. Sacrifícios foram feitos, atitudes bárbaras foram tomadas de todas as partes, mas das cinzas de toda essa destruição, a flor da humanidade rebrotará. Pode ter certeza que... – E então, tudo se apagou.

***

Michael não tinha certeza se aquilo daria certo. Na verdade, não tinha certeza de muita coisa ultimamente, mas sabia que não ficaria ali parado enquanto aquele monstro definia os rumos da humanidade mais uma vez. Então, em um momento de desatenção de Prochnost, Michael o golpeou com o máximo de força possível, atingindo a cadeira bem na parte de trás de sua cabeça. Ao vê-lo agora caído aos seus pés, Michael sequer sabia como era possível derrubar um ser teoricamente criado para perdurar. A verdade era que Os Novos haviam sido desenvolvidos para resistir as intempéries da natureza, e não a golpes de cadeira na nuca.

Tendo se recuperado da enxurrada de adrenalina que percorreu seu corpo, Michael, com a ajuda de Diana e Talia, agora amarravam Prochnost em uma das bancadas de frente para o monitor central da sala de comunicação. Não sabiam o que fazer, não sabiam que rumo suas vidas tomariam dali em diante, nem se sobreviveriam, mas todos concordavam com uma coisa: a verdade não seria varrida para debaixo do tapete. Então, quando Prochnost acordou, tudo o que ele viu foi seu rosto sendo reproduzido naquele monitor de frente para ele, e os três cientistas ao seu redor lhe obrigando a confessar toda a verdade para que ficasse registrado para as futuras gerações de todos os planetas que abrigassem vida. A batalha já havia sido perdida, Prochnost sabia disso, então quando seus sentidos voltaram por completo, ele começou:

– Os humanos se perderam. Os esforços gastos na busca de um planeta habitável não resultaram em nada. O motivo? A Terra era o último ponto de resistência.

"No início do universo todos os planetas eram povoados. Seres de diferentes locais viajando livremente pela imensidão escura e muda do espaço. A ausência de leis que regulamentassem as relações interplanetárias, porém, resultou em diversas guerras na busca pelo domínio do universo. Guerras que terminaram na extinção de quase todos os planetas, exceto um: A Terra.

"A presença de uma atmosfera muito forte e restritiva fez com que esse planeta abrigasse formas de vida únicas e ainda incapazes de reagir e entrar em guerra contra os outros planetas. O resultado disso foi a ausência total de vida no restante do universo no momento em que os primeiros Homo sapiens começaram a surgir no planeta.

"Mas o que parecia ser a salvação que levaria ao repovoamento do universo foi, na verdade, o responsável por desferir o coup de grâce. Quando viram que estavam levando o mundo ao colapso já era tarde demais para se arrependerem de seus pecados. Não havia mais salvação para a humanidade. Então, em uma tentativa desesperada de se manterem vivos, mesmo que indiretamente, deram sua cartada final; um último esforço na tentativa de deixar um legado neste planeta: Reconstruir o ser humano.

"Como eu sei tudo isso? Pois eu sei tudo, sobre a Terra e sobre o universo. Eu sou o resultado final dessa criação. Eu sou o último Homo novus. E a história a seguir é a verdade linda e cruel sobre como, a partir de tamanha maldade e destruição, vocês renasceram."

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