Capítulo 18 - A caminhada

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O Sol já se encontrava no meio do céu,espalhando seu brilho por aquele cenário cinza e abandonado enquanto os três cientistas se colocavam em marcha rumo ao local do encontro. Acostumados com a movimentação habitual do dia a dia, era estranho passar e encontrar a mesma paisagem de destruição completamente intocada. Os mesmos telhados caídos, os mesmos carros estacionados esperando por donos que nunca os buscariam, os mesmos postes de iluminação atravessados pela rua, enfim, nada diferente. Não eram apenas as pessoas que haviam morrido, era como se a própria cidade fosse um cemitério, com seus corpos espalhados pelo chão.

Os três haviam acordado cedo e passaram a manhã inteira discutindo sobre quais rumos tomar. Mesmo com desconfiança, todos concordavam que na falta de um plano melhor deveriam aceitar a ajuda que lhes havia sido oferecida. Sendo assim, terminaram de arrumar suas provisões e partiram no horário combinado. Agora se encontravam ali, frente a frente com os três novos espécimes que já haviam conhecido antes. Mesmo assim, a visão daqueles seres em constante mutação ainda era extremamente impactante. Seu caminhar seguro, como se o terreno se adaptasse a cada passo deles, por um momento hipnotizou os cientistas. 

Caminhavam todos os seis em direção ao sul,atravessando o coração da cidade. Por meio da neve e dos escombros à sua esquerda, Diana foi capaz de ver um telhado vermelho caído por cima do que parecia ser um balanço infantil. Imaginou que fosse uma escola, e por um momento pensou se as crianças estavam ali quando tudo ocorreu ou se haviam tido tempo para serem dispensadas para passar os últimos momentos de suas vidas com seus familiares. Imediatamente lembrou do filho e a memória a atingiu como um soco. Segurou o nó na garganta e a sensação foi ainda pior. Era como se algo dentro dela estivesse constantemente quebrando, mesmo que não houvesse mais nada para quebrar. Sentiu uma mão no seu ombro e virou a cabeça para ver Michael com toda sua compreensão e afeto a apoiando. Ele sabia que era um momento difícil e que não havia volta para aquele mundo, portanto entendia que demoraria um tempo significativo para que cada um vivenciasse seu luto. Sabia ler cada uma de suas companheiras e identificar o que precisavam, era o que o tornava o líder daquele grupo acima de tudo: a capacidade de se conectar e de estar presente quando necessário.

A caminhada continuou passando por construções destruídas, com o silêncio inundando a atmosfera. À esquerda, paredes brancas com janelas pentagonais marcavam o lugar onde aparentemente havia estado uma igreja. A cruz despontava deitada por meio da destruição, como se tentasse escapar dos escombros. Nenhum sinal de vida humana foi identificado em todo o trajeto. A paisagem urbana começou a gradualmente ceder lugar à arvores tombadas e quando se deram conta o cenário rural já havia dominado. Atravessavam uma estrada de terra cercada apenas por vegetação. Os cientistas já não sabiam mais onde estavam, mas os Seres Novos continuavam liderando como se tivessem o exato conhecimento de para onde estavam indo.

Talia, com toda sua desconfiança, foi a primeira a questioná-los:

– Com licença, eu achei que nós íamos por buscar por sobreviventes, que iríamos buscar alguma forma de salvar a Terra, mas parece que vocês têm outro plano de ação em mente e não informaram para a gente.

– Perdão, Talia – um deles havia se virado para falar com ela, não fazia ideia de qual deles. – Como eu expliquei para vocês nós possuímos e dividimos entre nós o conhecimento acumulado de todo planeta. Às vezes esquecemos que isso não se estende a vocês.

Talia esperava que toda essa inteligência deles fosse capaz de fazê-los entender oque aquela revirada de olhos significava.

– A cada momento que passa, – continuou o ser – conseguimos organizar melhor toda essa informação e enxergar coisas que antes eram turvas para nós.

– E ainda assim você ainda não respondeu minha pergunta – Talia já estava no seu limite com toda aquela chuva de informação vaga e desnecessária. – Para onde estamos indo?

– Como eu estava dizendo, nós fomos capazes de acessar essas informações e estamos indo para um local onde poderemos mostra-las para vocês de maneira mais didática.

– Olha – Michael interrompeu. – Vocês até agora não ajudaram em nada do que vocês tinham combinado. Não estamos buscando por sobreviventes e nem pensando em maneiras de sobreviver. O que quer que sejam essas informações eu espero que elas nos concedam alguma perspectiva de futuro para a humanidade.

O ser então parou e se virou diretamente para ele:

–Pode ter certeza Michael, vocês não apenas terão perspectiva para o futuro,como pleno conhecimento do passado. Um passado que foi escondido de vocês portanto tempo, e agora se torna mais importante do que nunca.

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