Capítulo 23 - O Futuro

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Talia acordou com a sensação de ter sido atropelada por um caminhão. O estresse retesava seus músculos, seu corpo inteiro doía, havia passado grande parte da noite em claro e sua imunidade estava tão baixa que seria capaz de pegar uma gripe só de olhar para alguém gripado. Isso é, se tivesse alguém no mundo para ela olhar. Estava novamente sozinha em seu quarto, remoendo seus pensamentos e torcendo para que tudo aquilo não passasse de um pesadelo, mas de certa forma sabia que era verdade. Em um sonho, por mais real que ele seja, por mais imersos que estejamos, por mais que uma grande parte do nosso corpo acredite naquela fantasia, uma pequena parcela do nosso cérebro está ciente de que tudo não passa de uma farsa. E esse pedacinho de massa cinzenta grita ao nosso corpo que tudo não passa de uma mentira, de forma que, no fundo, a gente sente que não é real, mas escolhemos acreditar mesmo assim. Entretanto, esse pedaço da nossa mente, que grita durante nossos sonhos para nos despertar para a realidade, estava em absoluto silêncio no momento. Então sim, por mais que não quisesse acreditar, Talia tinha certeza de que tudo aquilo era uma trágica realidade.

Com grande esforço, saiu da cama e desceu em direção à cozinha onde esperava encontrar Diana e Michael. Ao invés disso, se encontrou sozinha na escuridão artificial produzida pelos tapumes nas janelas. Ainda não estavam acordados. Ótimo, teria mais tempo para pesar suas opções. Não gostava da ideia de definir o futuro de toda a galáxia, detestava esse Complexo de Deus que aqueles seres exalavam a cada conversa, mas sabia que querendo ou não o destino a havia colocado naquela posição. Pensava em como a humanidade foi incapaz de conviver em harmonia com seu próprio planeta e como seria ainda mais caótico se tivessem que dividir a galáxia com outras inúmeras espécies de outros mundos. Diversos cenários, resultando em intermináveis guerras, passavam por sua mente quando Diana e Michael desceram as escadas e surgiram na entrada da cozinha.

– Pronta para mudar o futuro? – Perguntou Michael com certa tristeza na voz.

– Claro que não. Vocês estão? – A mesma tristeza havia dominado o ambiente e se mostrava presente na voz de Talia.

– Acho que ninguém poderia estar pronto para uma decisão como essa – disse Diana enquanto se encaminhava em direção ao armário para organizar suas provisões na mochila. – Não é algo que você possa voltar atrás caso dê errado. É uma chance para escolher entre o renascimento e a morte definitiva, e ninguém sabe qual é a resposta certa.

Por um momento ninguém disse nada. Agora que sabiam sobre o CPSE, haviam estabelecido que qualquer reunião que precisassem fazer seria realizada naquele prédio. Sendo assim, ficou combinado de se reunirem lá para decidir o que aconteceria. Michael colocou sua mochila nas costas e se encaminhou para a porta que dava para a rua:

– Vamos, ainda temos um longo caminho para percorrer e podemos aproveitar a caminhada para clarear nossa mente sobre nossas escolhas.

***

Voltando do Centro Russo de Lançamento de Foguetes, Prochnost caminhava tranquilamente pela imensidão branca dos campos cobertos de neve em direção ao Centro de Pesquisas Subterrestres do Exército. Tinha tempo de sobra até se encontrarem novamente com os humanos e ainda teria tempo para discutir alguns pontos importantes com Znaniye e Somneniye enquanto o trio de cientistas não chegasse. Precisava deixar claro para seus dois companheiros qual era seu ponto de vista e garantir que eles tivessem conhecimento da importância que essa decisão teria para o futuro de toda a vida no universo.

Atravessou a porta inclinada que descia até a sala de controle do centro de pesquisas e encontrou tudo novamente em funcionamento. Não estava em perfeito estado, apenas um ou dois computadores funcionavam por completo, não haviam cadeiras e a iluminação ainda não estava inteiramente restabelecida graças à falta de lâmpadas inteiras, mas a aparência já era novamente de um local capaz de funcionar. Encontrou seus dois companheiros no laboratório de Znaniye e deram início à conversa sobre o futuro da humanidade. A conversa não foi longa, pelo contrário, durou apenas o suficiente para que Prochnost esclarecesse seus pontos, enquanto os dois ouviam em silêncio.

***

Na sala de manutenções, a tela verde característica do computador agora exibia sete sinais piscando de maneira intermitente. Sete nomes que todos aqueles que estavam na sala um pouco acima conheciam. Sete marcações que definiriam o futuro de toda a vida no universo, e eles estavam lá graças a Prochnost.

Agora, não havia mais volta. O futuro estava traçado e nada seria capaz de mudar aquilo. Na sala de controle, três cientistas esperavam sem ter conhecimento das informações na tela daquele computador. Mais uma vez a vida mudava, mais uma vez o universo era reestruturado e mais uma vez ninguém sabia o que estava para acontecer. Ninguém, exceto Prochnost.

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