Doce-amargo

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Ouve-se uma pancada, uma pancada silenciosa, que apesar de forte, não se fez ouvir. Ninguém ouve, ninguém nota, mas a marca da pancada ali perdura. A cabeça dói-me, tento distrair-me, mas nem com distrações a dor passa, e mais uma vez ouço uma pancada. Nos cantos da minha mente ouço vozes a aproximarem-se dos meus medos e os passos delas mesmas a atormentarem-me. Coloco uma mão na testa numa tentativa vã de aliviar a dor e a outra mão no peito quando se ouve outra pancada. Sinto os olhos inundarem e afogarem o meu rosto enquanto tento inutilmente controlar rios de água salgada desaguarem no meu peito. Uma nova pancada, agora nas costas, uma pancada forte e covarde que me apunhala por trás fazendo-me imaginariamente jorrar sangue nas tuas mãos. Sinto tremores que percorrem o meu corpo e silenciosamente me calam os lábios agora gretados pelas tentativas vãs de fazer desaparecer a dor de cada pancada. Outra pancada faz-me abandonar os pensamentos dolorosos que teimam afetar o meu peito e a toda a força fazer-me sangrar. Por fim aceito as dolorosas pancadas com contempto. Sinto-me contabescer devido à dor semelhante a uma doença sem cura. E entre conclusões dolorosas e sentimentos turvos, aceito o som de uma nova pancada que inconscientemente tiveste vontade de sigilar no meu peito doce-amargo.

A minha vida em folhas de papelOnde histórias criam vida. Descubra agora