No fundo, cada vez mais fundo, sinto-me a afundar sem impedimentos e cada vez mais depressa. Caída no vasto oceano, sou engolida pelo vazio das profundezas. A água gélida abraça-me o corpo e arranha-me a pele com arrepios insuportáveis. Vou descendo até ao fundo, sendo puxada para o nada naquela dimensão assustadoramemte escura. Os meus olhos inchados fecham com a pressão do imenso e congelam com a ferocidade da temperatura. Vou sendo dissolvida como uma aspirina num copo de água, e cada vez mais fundo, vou desaparecendo sem deixar rasto. O pesar sentimento de morte enjaula-me numa invisível bolha de água onde me corta a pele cada vez mais lívida, marca-me e deixa-me a carne exposta entre cada ferida que arde com o sabor salgado do mar. O fundo do mar ainda está longe, mas eu continuo a afundar, tal como uma pedra perdida no correr de um rio, como uma pedra jogada na rua perdendo-se no negro de um beco onde ninguém ousa querer perder-se. O sangue começa a abandonar-me procurando dissolver-se com o nada e deixa o meu corpo cada vez mais sem cor, cada vez mais sem vida. A minha mente é assombrada pelo desconhecido da qual o meu olhar é cego, é assombrada com a vastidão de um sabor a salgado que me corre na garganta, é assombrada pelo vasto vazio da qual o meu peito tenta panicamente escapar. A escuridão assalta-me a alma e fá-la arder de medo. O outro lado espera-me ainda paciente, abrindo aos poucos o portão de uma vida onde ninguém vive, onde ninguém existe. Não é suficiente. Tenho que deixar o meu corpo pesadamente afundar e esperar o fim. A pequena luz da superfície já há muito se escondera e o escuro assombrava-me a carne consumindo-me aos poucos com negras sombras de nada. E no nada o meu corpo pousa. O chão de areia toca-me as costas feridas e nesse momento não passo de carne rasgada, onde o vermelho dos cortes contrasta com o vasto azul escuro. E é aí, é aí que o meu ser se engasga sem voz explodindo em aflição onde o oxigénio não lhe chega, onde a vida o abandonou.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A minha vida em folhas de papel
CasualeCada texto, foi escrito baseado em momentos importantes da minha vida. Momentos esses que hoje fazem de mim a pessoa que sou e que fui obrigada a ser. Que eu possa transmitir através de cada texto, toda e cada emoção e sentimento que eu senti ao lon...