A minha vida em folhas de papel

Preto no Branco

Fechada agora no meu quarto com apenaz uma luz que me aproxima da realidade recordo o que não devo recordar. Após fugas da vida que todos pensam que eu tenho, lembro-me fugir para um sonho que só eu podia sonhar e que por inveja me acordaram. Enquanto em tempos achei a minha alma atraente, agora sinto-me reservar perante a contraditória imagem a preto e branco que o espelho do meu simples quarto teima em me mostrar. Tu prometeste não me magoar, eu prometi ser capaz... nenhum de nós cumpriu. Porque não terei sido eu capaz de ceder? Porque terei eu esta insatisfação desgostosa depois de me ter prometido a mim e à minha alma ser fiel aos meus principios e às minhas tristes recordações sabendo que mais uma vez a frida se abriria como um buraco negro na minha consciência qe sugou toda a cor que antes o mundo que me rodeia possuia. Estaria mesmo destinado a ser este o nosso destino que agora a minha triste caneta tem pudor em contar enquanto se tenta equilibrar na minha mão trémula? Quero falar mas as palavras não saem, quero gritar mas a voz abandonou-me, quero chorar mas já não tenho lágrimas suficientes, quero mesmo chorar mas sinto que não o devo fazer, quero mesmo fazê-lo, mas o sentimento parece já não existir. Apenas o vazio me tenta preencher, e nem o facto de me sentir vazia parece ser suficiente para me fazer chorar. E mesmo no vazio da minha mente agora perturbada, sinto mãos que não conheço e ao mesmo tempo me são familiares tentando mais uma vez puxar-me para a dura realidade à qual aprendi a temer. Não quero ir, quero continuar a sonhar. Não quero abandonar o vazio onde me sinto vazia. Pois sei que do outro lado da realidade, a outra imagem de ti me espera cruel, fria e indiferente. Olhando mais uma vez para o espelho, vejo no olhar da imagem a preto e branco a repulsa que ela mesma sente pelo meu triste sonhar. E vingando-se rouba-me o calor que antes o meu corpo possuia dando-me apenas a liberdade de sentir o frio gélido que agora se apodera de mim e obrigando-me a admitir que juntos virámos um erro...