Entre temporais

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Lá fora cai a chuva, e eu observo à janela. Lá fora o vento abraça as árvores e assobia contra as folhas e os ramos despidos, e eu escuto à janela. Lentamente abro a janela e com brusquidão sufoca-me o tempo frio. Em agonia sinto-me ser engolida pela maré de emoções e as recordações passadas perdem a cor e a preto e branco ergue-se diante do meu olhar uma imagem. Coberta por um manto branco gravo os meus passos na areia. Ergo o olhar em direção ao pôr do sol e uma brisa calma afaga-me o rosto enquanto que com um sorriso singelo recebo o retrato escuro da noite e inutilmente conto as estrelas. Sentado numa rocha observas sem desviar o olhar, observas o meu caminhar em direção às aguas frias do mar. A brisa balança calmamente o meu manto branco, que aos poucos se vai molhando. De longe observas o meu corpo mergulhar e uns segundos depois ele voltar à superfície. Observas as gotas salgadas descerem em curvas lentas, imprecisas e desalinhadas a minha pele já fria e observas os meus fios de cabelo caírem nas minhas costas em cascatas escuras. Viro o meu rosto na tua direção e observo-te a observares-me, e no meio daquele observar o meu sorriso fica gravado na tua mente. Desperto com o meu rosto molhado e as cortinas do meu quarto a balançarem bruscamente de um lado para o outro. A janela ainda se encontrava aberta, mas a imagem desaparecera e as passadas recordações voltam a ganhar cor. Lá fora a chuva continua a cair e o vento continua a abraçar as árvores e a assobiar ruidosamente contra as folhas e os ramos despidos. Porém eu fechara a janela e não mais observava e ouvia.

A minha vida em folhas de papelOnde histórias criam vida. Descubra agora