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O celular tocou por volta das três da manhã

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O celular tocou por volta das três da manhã. Na tela piscando, identifiquei o número da minha . Um horário incomum para uma ligação, ainda mais para alguém que acordaria às cinco da manhã. Isso não era um bom sinal.

— Oi, mãe — atendi sonolenta, em meio a bocejos. — O que foi?

Chorando, ela me descreveu o cenário que encontrou pela casa, algo nada agradável para os olhos e menos ainda para o olfato.

— Filha, a sala, a cozinha e o banheiro estão com as paredes e os pisos manchados com fezes. — Ela relatou com a voz anasalada. — O chão... Está cheio de poças de urina. O cheiro é muito forte, insuportável. Estou quase vomitando aqui.

— Calma, respira devagar. Ou melhor, não, não respira esse ar fedido, sai daí e fica lá fora — aconselhei-a, enquanto trocava o pijama por short jeans e camiseta. — Daqui a pouco eu chego aí, não chora, por favor.

. Vou te esperar lá no quintal. Não demora, filha.

Naquela madrugada, meu pai chegou a casa trançando as pernas, minha mãe cansada apenas abriu a porta e voltou a dormir no quarto. Mas, um pouco antes das três, ela acordou com sede e levantou-se para tomar um copo d'água na cozinha. Foi então que ela se deparou com uma cena deprimente. Diante dos seus olhos, meu pai estava desmaiado no sofá da sala roncando e rangendo os dentes. Ele era vítima do bruxismo, que se intensificava quando ele ficava chumbado.

Cheguei meia hora depois da ligação da minha mãe. Entrei na sala e senti ânsia de vômito. Embrulhou tudo no meu estômago. Caído da mão dele, o prato de porcelana esmaltado com restos de comida no chão; grãos de arroz, de feijão e a sobra de bifes mordidos espalhados pelo tapete e por cima da barriga. O copo de alumínio virado no meio de uma poça. Na parede marcas de dedos impressas com dejetos fecais, que estavam traçados também no sofá e no batente da porta. E ainda havia um rastro amarelado de xixi do tapete à porta do banheiro. Ele estava tão alcoolizado que não conseguiu se segurar até chegar ao sanitário. Estava muito catinguento.

Não tinha como voltar atrás ou eu ajudava a minha mãe ou ela limpava tudo sozinha. Então, engoli a seco e suportei aquele fedor todo. A sensação que eu tinha era de estar dentro de uma privada entupida.

— Argh! Que nojo! Que nojo! — Murmurei, apertando minhas narinas. Cogitei a possibilidade de colocar um prendedor de roupa no meu nariz, sem brincadeira.

— A casa está podre, filha! — Reclamou minha mãe com a voz ainda chorosa.

Roaaar! Rawww! Ouvi da porta da cozinha os rangidos do meu pai. No tempo que levei para chegar lá, ele caiu do sofá, ficou deitado no meio do chão da sala de barriga para cima e com braços abertos. Minha mãe cobriu o nariz com um guardanapo de pano que ela amarrou em volta da cabeça, no qual ela respingou algumas gotas do seu perfume frutado, numa tentativa frustrada de proteger-se do mau cheiro. Meu pai conseguiu fazer um baita estrago, mas nós não tínhamos muita opção; ou limpávamos ou o lugar ficaria com o odor cada vez mais irrespirável.

A Menina do CasuloOnde histórias criam vida. Descubra agora