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   Estava pronta para virar a mão na cara do Théo, crente que ele confessaria que fez algum tipo de brincadeira comigo, mas fiquei surpresa quando ele disse:

— Há dois meses, eu cheguei aqui nessa cidade de carro. Num domingo de manhã, cansado para caralho. Parei bem ali — ele apontou na direção da calçada fora do parque. — Desci o vidro e fiquei observando as pessoas que estavam por aqui. De repente, eu ouvi uma risada muito gostosa. Fiquei procurando de quem vinha. Daí eu vi uma moça com a cara toda suja de tinta no meio de umas crianças. Tinham muitas crianças. Mas a gargalhada contagiante dela se destacou entre as outras.

— Espera aí. Essa moça aí era eu?

— Sim. Eu te vi correndo de um lado para o outro. As crianças estavam se divertindo e tu também. Fiquei de longe encantado com tudo aquilo.

— Dois meses? Ah, era uma ação do grupo de voluntários do João, eu participo já tem um tempinho. É sempre no segundo domingo do mês. — Eu falei animada. — O João se veste de palhaço ou mágico e se apresenta para a criançada que se diverte muito com ele. Eu sou mais envergonhada para essas coisas, então fico nas oficinas. E isso é muito legal, eu sinto que estou fazendo algo de útil. O João deu a ideia quando a gente trabalhava na mesma empresa, continuamos mesmo depois que cada um foi para um canto. Às vezes é no parque com crianças de bairros carentes, às vezes vamos aos hospitais também. Fazemos a maior bagunça. O João que fica com a organização e avisa o resto do pessoal.

— João, João, João... Hm!

— Ah, não. O João é gay.

— Tu estava falando tão empolgada, que eu pensei que tinha alguma coisa aí.

— Empolgada com o trabalho voluntário.

Se ele me vira tantas vezes como disse, era óbvio que queria saber onde foram essas outras vezes. Não era possível que eu não o tenha visto antes. Por isso perguntei a ele em que lugares me viu.

— Ah, na confeitaria. Uma semana antes do acidente com o teu pé.

— Como na confeitaria?

Não tê-lo visto nas ruas ou ali no parque tudo bem. Mas na Doces Sonhos. Como eu não o vi lá? Eu ficava só na área de produção. Para ele ter me encontrado lá, ele só pode ter entrado na parte dos fundos. Estranhos não ultrapassam os limites do balcão, no máximo vão até o escritório de Gabi.

— É esse o problema, tu está tão preocupada em se esconder que acaba não enxergando as pessoas à tua volta.

Théo contou que me viu trabalhando. Chegou para a primeira reunião com Gabi que acabou se atrasando. Ele estava sentado no escritório e ouviu a mesma risada daquele domingo no Pomar. Levantou e ficou me observando do corredor. Concentrada finalizava a decoração de um bolo. Antes disso, ele já havia me visto no supermercado e correndo algumas manhãs no parque.

A Menina do CasuloOnde histórias criam vida. Descubra agora