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Eu sempre quis dizer o que sentia. Sempre quis que me ouvissem e aquela era a oportunidade para que eles soubessem o quanto ruim foi aquilo tudo para mim. Não podia me acovardar. Eu queria e precisava falar. Coragem, Elisa!

— É meu! — Ergui um dos braços e disse num sopro.

Chorei. Não consegui segurar as lágrimas, que caíram carregadas de muitas emoções misturadas, algumas boas e outras ruins. Mais uma vez todos se olharam. Alguns abaixaram a cabeça. Quem sabe as lembranças voltaram às suas mentes. Outros tinham expressões de espanto. Espanto por eu ter me revelado.

— Nossa! Eu não sabia que... — alguém começou a falar, eu nem procurei saber quem. Apenas interrompi, porque aquela era a minha vez de falar. Era o momento de tirar o nó preso na minha garganta.

— Que eu me sentia mal, que eu sofria muito, que eu chorava sozinha — falei. — Que me doía muito ouvir as coisas que me diziam. Sabe, eu nunca compreenderei a apatia das pessoas com relação ao sofrimento alheio. Porque as pessoas me viam sofrer e ninguém fazia nada para me ajudar. Como se nenhuma dor fosse maior que a sua. Como se nenhuma história fosse mais importante que a sua. Ah, que o outro se ferre, é melhor ela se lascar do que eu, não é mesmo? Eu nunca entenderei a falta empatia com o próximo, como fizeram comigo. Todos os anos que eu passei dentro desse lugar foram desesperadores e solitários. Era muito mais fácil se juntar aos babacas que me apontavam o dedo e zombavam de mim. Era mais fácil rir da minha cara que era vista como bizarra por todos. Era mais fácil se unir aos que eram mais fortes do que dar força a quem era frágil. Eu era frágil.

— Mas você nunca disse nada... — Uma pessoa deixou escapar.

— E precisava? Sério? — Estreitei os olhos. — Ninguém nunca me viu encolhida num canto? Nunca escutaram alguém me ofender?

— Tinha muita gente na escola, não dava para ficar cuidando da vida de ninguém.

— É por isso que eu preferi a solidão. Como confiar em alguém que não enxerga um palmo além do seu nariz? Ninguém estava disposto a me estender a mão e eu precisava muito que alguém estendesse. Ninguém nunca me disse uma palavra amistosa, eu só ouvia que eu era feia, um E.T. E mesmo me refugiando no isolamento, eu conheci o pior lado do ser humano, que é aflorado quando ele tem uma poeirinha de poder nas mãos. Daí ele se acha forte o suficiente para manipular um grupo e destruir um alvo que ele considera fraco. Tritura e dilacera a alma da pessoa. Por muito tempo, eu fui o alvo. O alvo que resistiu e sobreviveu a convivência destrutiva com aqueles que eram pseudo-fortes. Sobrevivi... — Dobrei as mangas da camiseta e mostrei as cicatrizes dos meus braços. — Mas as marcas dos machucados que me fizeram ficaram cravadas pelo meu corpo. Os ecos dos xingamentos ainda estão presos aqui na minha mente. Ficam martelando e martelando na minha cabeça. A dor não passou, ela fez morada na minha alma por todos esses anos. E o medo construiu uma fortaleza em mim, com muralhas altas e grossas, que me cercavam e me impediam de ser feliz por todo esse tempo.

A Menina do CasuloOnde histórias criam vida. Descubra agora