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O gramado estava num degrade de tons de verde. Os arbustos no canteiro eram novidade. A cobertura de cor azul também era nova. Ao me aproximar da entrada ouvi as vozes vindas da quadra. Risadas e conversas aleatórias, das quais não conseguia compreender o assunto. Eram vozes de adultos, tons variados; do mais agudo ao mais grave. Desisti de entrar. Dei dois passos voltando para trás.

— Desde quando você é essa covarde, hein? — Estava com as mãos na cintura, olhando para o chão e dando uma bela bronca em mim mesma. — Entra lá agora e mostra para eles que você não é mais aquela garotinha frágil. Anda, vai!

— Elisa? — Perguntou a morena, de cabelos lisos e compridos, que caminhava na direção do ginásio.

— Angélica? — Reconheci a antiga integrante do grupo dos excluídos e respirei um pouco mais aliviada por reencontrar ao menos alguém com quem eu conversava naquela época. Ela chegou de braços abertos e sorriso largo. Foi logo me abraçando, não deu tempo de escapar, ela era um mulherão e eu miúda. A fragrância do perfume dela era adocicada, com notas de baunilha e avelã.

— Nossa! Quanto tempo, hein? Você sumiu, menina! — Ela disse com um sorriso cheio de alegria no rosto. A aliança dourada na sua mão esquerda era um sinal de que ela se casou.

Seguimos juntas até a quadra. A pintura mudou totalmente, dos tons acinzentados para o colorido: do vermelho, amarelo, verde e azul. As cestas de basquete eram novas, as traves dos gols também estavam diferentes. O vestiário foi parar do outro lado. Aquele em que sofri a tentativa de abuso não existia mais. Não havia muitas pessoas por ali, umas 40 como mencionou a funcionária na entrada. Na época da ideia da cápsula, três turmas participaram do evento, cada uma tinha 35 alunos. De 105 pessoas apenas 42 estavam lá contando comigo.

No centro da quadra havia um tapete de estilo indiano bem grande, com pequenos arranjos de flores dentro vasinhos de vidro, compridos e transparentes. A cápsula de pvc estava lacrada bem no meio. À sua volta algumas bandejas com sanduíches e sucos em cima de caixotes de madeira, desses de feira. Vários outros pequenos tapetes com almofadas, em cima de paletes, formavam um grande círculo. Um varal foi montado ao lado com várias folhas de papel penduradas com ganchinhos de prender roupa. E ainda tinha um enorme painel com fotografias, que me pareciam de eventos da escola nos últimos anos.

O grupo dos excluídos estava 100% presente. Os gêmeos não usavam mais óculos. Juliana estava luminosa com sua gravidez evidenciada pela barriga, já no final da gestação. Maurício estava em forma, devido a sua vida regrada de atleta. Acho que ele foi o único de quem tive notícias durante esses anos todos. Angélica nos reuniu num abraço coletivo. Formamos um círculo menor dentro do maior. Eles me apertaram, tentei afrouxar a pressão dos braços deles sobre mim.

— Bom dia, a todos! — Disse à voz vinda da entrada da quadra.

Era o nosso antigo professor, Paulo, que acabara de chegar. Ele parecia o Papai Noel: gordinho, baixinho, com cabelos e barba branca. De camiseta vermelha, calça jeans e chinelo de couro. Os óculos eram uma novidade no visual, que ainda apresentava resquícios do seu antigo estilo hippie, marcado pelo colar de sementes no seu pescoço. O sol forte fez o rosado do nariz e das bochechas ganharem destaque em sua pele clara. As linhas profundas em seu rosto indicavam a passagem do tempo. Os olhos dele brilhavam e sorriam alegres, diante dos seus antigos alunos que estavam aqui presentes ali. Carinhosamente, ele abraçou cada um dos que estavam na quadra.

A Menina do CasuloOnde histórias criam vida. Descubra agora