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2017.


 Aquela semana foi uma correria só. Tive que coordenar tudo sozinha na confeitaria. Cozinha e escritório. Tudo ao mesmo tempo. Cheguei a procurar farinha dentro do armário de documentos e a cobrir uma caneta esferográfica com chocolate derretido e granulado. Nenhum grande desastre aconteceu. Graças a Deus. Mas a minha cabeça e o meu corpo estavam cansados. Até um pouco confusos. Afinal, na cozinha trabalhava em pé e no escritório sentada. Os únicos momentos em que eu tinha um pouco de distração e de diversão eram aqueles nos quais conversava com Théo. Ele tornou-se a parte mais leve dos meus dias. Talvez, sem ele por perto tudo seria mais difícil e pesado para mim.

Nós trocávamos mensagens durante o dia. Conversávamos bastante antes de dormir. Ele me contou muitas coisas sobre a sua vida e eu fui me abrindo com ele também. Era uma raridade eu conseguir falar das coisas do meu passado com alguém, mas com ele me sentia bem à vontade. E pouco a pouco acabei dividindo com Théo a parte nebulosa da minha vida. Ele ficava chocado a cada nova história, a cada cicatriz que lhe mostrava. Isso de colocar para fora o que estava preso dentro de mim me ajudou bastante. A carga pesada se abrandava mais a cada dia. Era como se a cada vez que eu contasse o que me magoou, ou feriu, um balão cinza fosse desinflado e um colorido ocupasse o seu lugar no céu. Digamos que os balões coloridos já superavam a quantidade de cinzas.

Théo já sabia que as minhas respostas monossilábicas eram sinônimas de que algo não estava bem. Para me animar, quando eu ficava assim ele fazia de tudo para melhorar meu humor com piadinhas e fotos com caretas engraçadas. Por pior que eu estivesse antes de nos falarmos, depois de ouvi-lo terminava as noites sempre sorrindo.

Como Théo morava sozinho e não tinha nenhum familiar na cidade, no meio de uma dessas nossas conversas eu o convidei para almoçar comigo, na casa dos meus pais. Mesmo tendo receio do humor do meu pai, que não era dos melhores, eu acreditava que a companhia do Théo deixaria o clima mais ameno por lá.

Decidimos ir com o meu carro, ele passou o seu endereço para que eu o buscasse. Era numa região conhecida pelos prédios de apartamentos pequenos, onde moravam geralmente pessoas que permaneciam por pouco tempo na cidade. Théo morava num prédio de passagem. Quatro torres de quatro andares. A dele era azul e branco com minúsculas sacadas. Vi o seu carro estacionado numa das primeiras vagas da frente. Mandei uma mensagem avisando que chegara. Logo em seguida o vi atravessando a rua. 

— Bom dia!

Ele me cumprimentou assim que se acomodou no banco de passageiro, o seu perfume tomou conta do ar ali dentro.

— Espero que seja mesmo um bom dia para a gente — eu falei receosa, enquanto ele apertava o cinto de segurança.

— Por que esse ânimo todo? Hein!

A Menina do CasuloOnde histórias criam vida. Descubra agora