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1998.

Aos 10 anos de idade, eu sofri uma das maiores decepções na minha vida. A esperança que inundava o meu coração evaporou-se no ar em segundos, quando minha mãe me deu uma notícia numa manhã de abril. Alguns meses antes desse dia, mamãe chegou do trabalho com um recorte de uma revista. Ela estava sorrindo, pediu que eu sentasse ao seu lado, pois queria me explicar algo. O que ela tinha nas mãos era uma reportagem sobre o Centrinho de Bauru, o Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da Universidade de São Paulo. Ela disse muitas coisas que eu não compreendi a respeito desse lugar, mas quando olhei para aquele papel em suas mãos, eu disse:

— Eu vou ficar assim, mãe?

— Sim, minha filha, você vai.

Então, eu comecei a sorrir. Meu sorriso não cabia no meu rosto. Nós duas rimos como bobas uma para a outra. Os olhos dela estavam com um brilho especial, era o reflexo da felicidade, que provavelmente também emanava de mim. Na reportagem tinham muitas fotografias de antes e depois de pessoas que tinham nascido com o lábio leporino e que passaram por procedimentos cirúrgicos no Centrinho. Fiquei fascinada com as imagens naquela folha. Achei incrível a diferença. Visualmente dava para notar como a aparência deles tinha mudado para melhor. O meu sonho, de ser como as outras pessoas, era algo possível. Não precisava de um milagre ou que uma mágica acontecesse. Por meio de algumas cirurgias eu conseguiria ter um rosto normal. E saber que eu poderia ficar com a aparência similar a daquelas pessoas nas imagens trouxe uma paz para o meu coração. Eu não iria mais ser chamada daquelas coisas horríveis, ninguém mais iria me olhar com estranheza e isso me encheu de alegria.

— Quando eu vou operar? — Indaguei ansiosa.

— Não sei. Primeiro tenho que enviar os teus dados e fotos para eles — disse minha mãe — e teremos que esperar pela resposta. Não faço ideia de quanto tempo isso vai demorar.

— Ah, sim. — Respondi um pouco frustrada. — Fotos? Para quê?

— Para eles avaliarem o teu caso, filha.

Mesmo não gostando de tirar fotos, fiz as que precisavam para anexar a papelada. Eu faria qualquer coisa para me livrar daqueles insultos diários. Ela juntou tudo o que pediram e mandou para o endereço que estava na matéria. Foram dias e dias de espera. Alguns meses em que eu olhava o vão da porta da sala de manhã, de tarde e de noite. Até que um dia a resposta chegou. O envelope estava embaixo da porta. Eu vi a logomarca do Centrinho. Peguei-o com as mãos trêmulas, olhei para aquele papel e não tive coragem de abri-lo. Um pedaço de papel que poderia mudar a minha vida para sempre. Eu o deixei em cima da mesa. Mamãe só o encontrou no dia seguinte. Assim que ela abriu o envelope, eu perguntei:

— Então, quando eu vou para lá, mãe?

Minha mãe após terminar de lê-lo, colocou a mão nos lábios, abaixou a cabeça e vi seus olhos se encherem de lágrimas. Não eram lágrimas de alegria, ela não sabia o que me dizer, só que eu já tinha entendido qual a resposta dada por eles.

A Menina do CasuloOnde histórias criam vida. Descubra agora