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2017.

Estava igual uma barata tonta, indo e vindo de um lado para o outro da sala. Pensei em jogar o envelope na lata de lixo e por um ponto final naquilo. Fui até a cozinha, acionei o pedal e a tampa da lixeira se abriu, ao lado da pia. Quase joguei de uma vez, por cima de umas embalagens vazias, mas parei no meio do caminho. Analisando bem, o melhor era verificar do que se tratava. Senão ficaria com aquilo martelando na cabeça por dias. Criei coragem e rasguei o lacre do envelope, que fora trocado pela minha mãe já que o original fora aberto pelo meu pai. Dentro dele estava o convite para a reunião de ex-alunos, marcada para meados de dezembro. No papel cartão branco com letras pretas estava escrito:

CONVITE

A escola estadual Machado de Assis tem a honra de convidar os ex-alunos das turmas do terceiro ano, A, B e C do ano de 2004 para participarem da abertura da cápsula do tempo.

Data: 16/12/2017

Horário: 8h30min

Participação: professor Paulo Saldanha

Você é nosso convidado especial!

No terceiro ano, do ensino médio, o professor de história, um homem barbudo de meia idade e meio hippie, teve a brilhante ideia de fazer uma cápsula do tempo. Naquela época não existia essa imensidão de redes sociais na vida das pessoas, os antigos MSN e Orkut apenas engatinhavam na comunicação on-line. E o acesso era para poucos. Então, nas escolas essas cápsulas eram bem comuns. O mais tradicional era o intervalo de 10 anos, mas o professor Paulo era supersticioso e dizia que o número 13 era o seu número de sorte e que passaria a ser o nosso também a partir daquele evento.

A reunião era para abrirmos e lermos as mensagens que escrevemos para nós mesmos no final de 2004. Eu não fazia a menor ideia do que escrevera. Forcei a memória e nada de recordar. Mais fácil sair fumaça da minha cachola do que lembrar do que eu fizera naquele dia. Como eu sempre ficava de fora de tudo, talvez nem tivesse participado de nada, mas como meu nome estava no arquivo com a lista dos alunos daquelas turmas me chamaram por conta disso. O que me parecia a ideia mais plausível.

— Eu escrevi alguma coisa para mim? O que eu coloquei lá? Será que tem alguma coisa lá para mim?

Continuei caminhando de um lado para o outro da sala. Será que valia a pena voltar àquela escola? Encontrar aquelas pessoas? Ele? Eu não queria sentir tudo aquilo de novo.

Respirei fundo e joguei o envelope de novo na mesa.

Segui para o trabalho. O sol abraçara o asfalto e escondera a fachada da confeitaria com a claridade dos seus raios. Assim que coloquei os pés na cozinha senti a mistura de aromas no ar. O cheiro docinho da baunilha, o cítrico da laranja e do limão, além do torrado das amêndoas. A produção de cupcakes estava a todo vapor. Brownies, bombons e trufas embalados. Os bolos no forno, ainda levariam uns cinco minutos para assar. Peguei uma colherzinha e provei um dos recheios prontos, que tinha como base a compota de laranja que eu mesma fiz. Um segredinho de família que a minha avó passou para mim. Textura, aroma e sabor, eu fechei os olhos para senti-los melhor.

A Menina do CasuloOnde histórias criam vida. Descubra agora