Mãe..

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Senti a culpa remoer me a alma, por te ver ali e não poder dizer nem fazer nada.
Eu tentava, tentava não me esconder, eu queria mãe queria ter te ajudado, queria ter te tirado dos braços daquele homem horrível que tanto amaste e que tanto te magoou, queria ter percebido os motivos que o levam a magoar te tanto, eu queria, juro que queria, mas não entendo. Não percebo a razão que te levou a ficares numa vida assim, a falta de dinheiro? O amor? A esperança e a ilusão que um dia tudo mude? Sei que pedias desculpa quando entravas no quarto complemente morta e eu estava a chorar, dizias que eram coisas de adulto e era normal... normal...?
Será que é normal quando me chamavas nomes? Será que foi normal quando tu, "amor da minha vida", "meu primeiro e único namorado", dizias que eu não valia nada? Quando me dizias que eu era apenas mais uma com um bom corpo, que nunca ninguém me amaria de volta, quando me proibias de sair com certo tipo de roupa "É só para mim" é isso mãe?, é isso que é normal?.
Sei que não fizeste por mal mãe, entendo que apenas me querias reconfortar, mesmo depois de te ver quase morta, querias acalmar me.. mas as sequelas desta infância infernal finalmente apareceram. Mantive me presa a esta relação no pensamento de normalidade, acreditei, fiel e cegamente acreditei que tudo isto era normal.
Não te culpo, mãe.
Nunca na vida era capaz de te culpar.. nunca.. foste e és a mulher mais guerreira do mundo, foste e és a melhor mãe/pai do mundo. Não tiveste culpa, acreditas-te neste amor com unhas e dentes, e lutas-te, batalhas-te como uma mulher a sério, mas perdes-te. Grande parte da tua sanidade mental foi jogada para o lixo nas garras de um monstro qualquer.
Lembro me de no início te ouvir a chorar e a perguntar aos céus o motivo pela qual tudo isto, lembro me que coisas tão banais te magoavam, de nunca ouvires o quanto és bonita, de nunca te perguntar se precisas de alguma coisa, de nunca ouvires um amo-te vindo dele, qualquer coisa que te desse motivo para agarrar este amor, estavas presa a um vazio, presa num enorme e vasto vazio..
Vias a vida a preto e branco, vias te a ti a negro, e mataste-te, psicologicamente eras apenas um corpo morto a vaguear por aí, eras um zumbie de uma mulher que outrora estava cheia de vida, mas sei mãe, sei que nunca te arrependes de eu ter aparecido, talvez te culpes de muita da minha dor, talvez ainda penses nele, talvez ainda acredites que foste tu que não deste o máximo por esta relação, mas não meu amor, ele foi o culpado, e ele, ele foi-se.
Eu sei mãe, sei que o que mais te custava era quando ele ia embora, quando sabias que acabava a hora de almoço ele se levantava sem elogiar a tua comida, a tua maravilhosa comida, e ia embora, sei que o ele ir não te magoa tanto, mas no fundo, eu via o quanto te custava vê-lo ir embora sem te dizer "Adeus".
E no dia que ele finalmente se foi, no dia em que tu, minha mãe, ficaste livre deste homem, no dia em que eu e tu percebemos que iamos ser felizes, ele volta, volta para te dizer "Adeus".
E eu li, no exato momento em que ele virou costas para se ir embora, eu li nos teus labios a frase mais marcante de toda a minha vida.. "Agora dizes me Adeus?"

Agora dizes me Adeus? -CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora