O antes do começo.

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Viver não é fácil, nunca foi, pelo menos para mim, estou no auge dos meus 20 anos e a minha vida parece um filme de terror, nunca senti o gosto do amor, nunca vivi aquela história de amor clichê que sempre sonhei quando adolescente.
E aqui estou, enfiada neste café à espera que alguém monótono e desinteressante entra e decida dar lucro ao velho que me paga o ordenado ao final do mês, esta é a minha vida, quer dizer, este é o início desta história.

O sininho irritante toca e automaticamente já sei que está aqui alguém, esforço me para por o meu melhor sorriso e vejo-o, sim era ele, o velho chato que todos os dias aqui aparece com a desculpa de querer " passar o tempo", eu sei, ele sabe, todos sabemos que ele vem aqui na esperança que seja o dia de sorte dele, o dia que eu esteja de mini saia, nojento.
Mas coragem, sabes que precisas disto bia.

-Boa tarde Sr.João é o habitual?
-A tarde acabou de melhorar boneca, sim é o habitual.
-É para já! *Saio com a maior calma do mundo, e o sorriso mais cínico que consegui arranjar*

E assim se passou mais uma tarde, na esperança que a felicidade me entre pela porta a dentro, e ali eu veja a pessoa que um dia me vai fazer feliz.

Acreditar no amor para mim sempre foi difícil, cresci numa família um tanto quanto perturbadora, dizer que vivi a ver a minha mãe a sofrer de violência doméstica é muito drástico para mim, claro que usar eufemismos nunca tornou a situação mais branda mas no meu coração torna-a mais fácil de suportar, não me considero desafortunada, afinal a minha mãe sempre fez o papel de ambos, e no fundo sabia que tinha nela a minha família inteira.

Chego em casa e vejo-a ali sentada, mais uma vez com o olhar mais distante possível, às vezes imagino no que pensa, será que ainda lhe vem à memória os momentos horríveis que passara com papá?, ou talvez esteja apenas a pensar no que vai fazer de jantar, talvez nem pense em nada, quem sabe?

-Olá mamã o pai?
-No bar.
-De novo?
Não precisei que respondesse, já sabia, sempre soube e ela também.
Como eu disse não é fácil, nunca foi e acredito que por uns tempos não será, mas a vida é assim uns no auge da felicidade extrema, outros a lutar pela vida, alguns a afogar as mágoas e outros a aprender a suporta las, sinto que pertenço ao último grupo, ainda não aprendi literalmente a suportar a dor, mas ao longo dos anos vai se habituando a ela.

Agora que penso nisso tenho a sensação que foi exatamente isso que aconteceu com D.Carla, minha mãe, decidiu habituar se à "rotina", decidiu que a vida é assim, que o melhor a fazer era calar-se e aceitar aquilo que Deus lhe dera. Sinto me presa na mesma rotina, mas não tanto como ela, ainda me sinto capaz de dizer chega. Talvez, um dia, eu decida que é a hora de dizer já chega. Talvez..

Agora dizes me Adeus? -CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora