Dedico a ti esta carta.
Olá, olá a ti que me tiraste de mim, olá a ti que de forma egoísta usaste um corpo que nunca foi teu.
Achaste o quê? Que era estuprar me e ir embora? Que nada tinha consequências? Diz me na cara o motivo pelo qual decidis-te humilhar me e usar me desta forma?.
Tenho uma biblioteca inteira na cabeça cheia de perguntas a te fazer.
Que prazer te dá? Como é que consegues viver com a consciência que tiraste a inocência a uma menina de 14 anos? És um monstro. Nada mais que ninguém, alguém que se acha no direito de por não ser ninguém tirar a vida a quem é alguma coisa.
Por ti eu desisti, por tua causa eu morri.
E custa entendes? Custa olhar me no espelho tocar no meu corpo e sentir que ainda me tocas, ainda dói fechar os olhos e ouvir o teu grito de prazer a ecoar pela sala vazia, literalmente vazia, apenas dois corpos habitavam a sala onde me mataste, um sem alma e outro sem vida.
Passei a habitar um corpo que me era totalmente indiferente, não sabia quem era, e se algum dia fui alguma coisa.
Toda a minha vida deixou de fazer sentido, já nem sinto que a morte valha a pena, sinto que não mereço o perdão e os braços de Deus, mereço todo este sofrimento, toda esta dor que o mundo e a vida me causa.
Já não consigo dizer nada. Hoje fazem exatamente 5 dias que fui violada e nesta quase semana eu não comi, não bebi, não me levantei, não chorei, nestes 5 dias eu vivi em estado vegetativo, morta e cansada de tudo.
Eu sabia que a cada dia que passava desta forma caminhava para o fim do meu sofrimento, já estava cansada de ouvir que viver valia a pena, que a vida é uma dádiva que merece ser valorizada mas que vida?
A vida de quem viu a mãe ser abusada? A vida de quem não sente que viva? Diz me tu, que direito tens de me dizer que vale a pena?
Já senti coisas boas na vida, lembro-me perfeitamente dos momentos bons que vivi e com quem os vivi, mas valeu a pena? Diz me tu, agora que me conheces, se valeu a pena todos estes pequenos momentos de felicidade para no fim experimentar todo este sofrimento? Já não valia nada entendes? Depois de me teres estuprado eu já não valia nada, tiraste de mim não só a minha virgindade mas o meu valor. Não és ninguém.
Continuas-te a tua vida como se nunca tivesses arrancado a minha, pois a ti, nunca ninguém fez nada.
E eu estou cansada de sentir que um dia fui alguém, farta de me lembrar quem fui antes de ti, não mereço a vida, mas tu não mereces a morte.
Mereces pior.
Estava farta de perder coisas, de perder aquele que eu achei que era o amor da minha vida, de perder aquele que provavelmente era o amor da minha vida, de perder a minha melhor amiga, o meu avô materno e paterno, a minha mãe, o meu pai, e agora perco a minha alma?
Já chega Deus, não sei que coisa tão horrenda fiz mas já tive o meu castigo, a minha punição, não me mates mais, leva-me apenas para junto de ti.
Eu já desisti, continuei a viver na rotina que eu criei mas nunca mais fui capaz de sorrir, já não sei sorrir, a única vez que consegui sorrir foi quando vi aquele gato, sei que parece totalmente fora de contexto, mas aquele não era um gato normal, era eu, eu olhei lhe nos olhos e vi me, vi aquela que outrora eu fui, um ser meigo e puro. Na rapidez que o vi ele foi embora, tal como eu.No final desta carta espero que tu tenhas consciência do que fizeste, não que te importes, não que algum dia algo te vá acontecer, afinal a cadeia não é nada para cobrir aquilo que me fizeste a mim e a outras tantas. Nada é suficientemente capaz de cobrir o prazer que sentias ao violar nos, nada que seja humano pode magoar te na mesma intensidade que nos magoas te.
Que a vida se encarregue de te matar, filho da puta, que o ódio que nasceu em todas nós se vire contra ti e acabe contigo.
Morri por tua causa, e por tua causa muitas outras morreram.Adeus.
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Agora dizes me Adeus? -CONCLUÍDO
Literatura FaktuDeixei de acreditar em contos de fadas no dia em que me destruiste o corpo e a alma. Vivi uma história de terror ao lado de quem acreditava poder ser protagonista do meu conto de fadas. Não sei se me amas-te, mas sei que infelizmente te amei. Isto é...