Avô..

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Escrevo-te esta ultima carta de lagrimas nos olhos.
Nunca pensei que um dia estivesse a escrever-te, nunca imaginei um dia vir-me a despedir de ti, esperava que por um pequeno milagre te pudesse ter para o resto da minha vida, desejava que Deus te mantivesse ao meu lado, de forma egoísta queria te apenas para mim. Sabia que tinhas que ir, eu sabia, mas não achei que fosse de forma tão rápida, não imaginei que fosse tão cedo.
Desde pequenina que te imaginava a ver me casar, desde os meus poucos aninhos de idade te via como um super herói! Um super avô..
E eras, eras o melhor avô que Deus me podia dar, sabias quando estava mal, sabias quando precisava de ti, quando precisava chorar tu sabias.
Ajuda-me avô, porfavor, eu não aguento, eu peço te por tudo para voltares para os meus braços, eu dou-te avô, dou-te o meu coração para que possas ser tu a ficar aqui, eu faço um trato com Deus para te trazer por mais uns minutos, eu dou a volta ao mundo só para te ver por mais um segundo.. eu faço-o, por ti eu faço.
Eu não merecia perder-te, mas o céu merecia ter-te, eu sabia que tu tinhas ido embora por falta de anjo no céu, eu fui egoísta o suficiente para chantagear Deus a manter-te comigo, mas Deus foi egoísta suficiente para te ter só para ele.
Foste para junto da minha melhor amiga, foram os dois embora para longe de mim, eu já não tenho nada Deus, não me tires mais nada porfavor.
Escrevo-te isto na esperança que o leias e que voltes para me deixares chorar no teu colo, escrevo-te isto na ilusão que voltes e me dês aquele abraço quando sabias que as coisas lá em casa estavam mal, eu fugia para ti quando já não tinha ninguém, e tu abrias os braços como se soubesses que sem ti eu caía, e mesmo nos últimos dias da tua vida, sem eu saber, tu fizeste-me aprender a continuar sem ti, tu já sabias que irias partir, mas não me avisaste que ias para longe de mim.
Escrevo-te esta carta na certeza que nunca a vais ler, mas é a carta mais sincera que já algum dia te escrevi.
Eu ligo-te, já te liguei uma.. duas.. três.. quatro.. vezes e tu não atendes porquê?, tu sempre me atendes-te avô, demorava sempre dois "bips" a atender, por seres fraquinho e precisares de ajuda a chegar ao telefone, mas atendias, e no momento que dizias "Estou?" Eu sabia que estava completamente protegida.

Neste momento estou perdida, com vontade de ir ter contigo, estou a olhar para mim no reflexo deste espelho, e já não vejo absolutamente nada, apenas um corpo que outrora foi cheio de vida.
Morreste mas continuas completamente vivo em mim, continuo a sentir o calor dos teus braços, continuo a ver o brilho dos teus olhos, a sentir o teu cheiro que como um analgésico me acalmava a alma, continuo a ouvir a tua voz, que como um canto de sereia me enfeitiça e me leva para outro mundo, um mundo onde existia apenas eu e tu.
Despedir me de ti é a coisa mais difícil que fiz até hoje, sempre que me ia embora dizia te até já, olhava para ti e sorrias, esse sorriso que me levava a acreditar que tudo estava bem. Sabia que me esperavas chegar pela janela da cozinha, sabia que me amavas porque sempre que lá ia tinha o meu chocolate preferido à minha espera, sabia que lhe custava andar até à mercearia do lado para o comprar, mas ia, e ia na certeza que eu  chegaria na imensa vontade de o comer, na certeza que isso ia me deixar feliz.. e era assim que eu sabia que me amava, quando me acolhia, quando me abraçava, quando me ensinava, nunca disseste que me amavas e eu nunca disse que te amava, mas tu e eu sabíamos do amor que tínhamos. Um amor maior e mais puro que tudo.

Eu lembro-me de tudo. Lembro-me de atender o telemóvel e saber que algo se passava, lembro-me de atender e ouvir "Bia, o avô morreu", lembro-me de partir o telemóvel a gritar que era mentira, de ir até tua casa a correr como nunca as minhas pernas tinham corrido antes. Vem me à memória ver todos à tua volta, a chorar, e eu sem aceitar que eras tu que lá estavas, entrei dentro de tua casa, e no momento que vi que o meu chocolate não lá estava, nesse momento eu soube com todas as certezas que Deus te tinha tirado de mim, e gritei, chorei como uma menina ao lado da tua cama, enquanto todos estavam à volta do teu corpo sem vida, eu estava morta a chorar ao lado de onde, outrora, tu foste mais feliz.
Amo-te avô, como nunca amei ninguém.
Dorme bem.
Obrigada!.

Agora dizes me Adeus? -CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora