Olhar me no espelho era das coisas mais difíceis da minha vida, sentia me presa num corpo ao qual eu odiava, olhava o meu reflexo na esperança de não ser eu, não podia ser.
Todos aqueles anos aos quais me matas te refletem-se em mim agora, eu já não me amo, eu já não me quero, eu já não me sinto, eu já não..
Eu tinha medo de olhar num espelho, medo de olhar em algo ao qual refletisse uma imagem minha, tinha medo de olhar no espelho e ver-te em mim, ver tudo aquilo que me deixaste preso no meu corpo.
E quando me tocavas sem eu permitir, quando dizias que me tocavas para meu prazer, quando dizias que me amavas enquanto estávamos lá, era.. arrepiante?
Não no bom sentido, no fundo eu sentia-me usada, cega a este amor que me levou ao fundo da minha vida e me manteve trancada lá, estava presa a este amor que me retirou cada pedacinho de mim, sem dó, nem piedade.
Eu acreditava que quando fosses embora tudo ia voltar a ser bom novamente, toda a dor ia embora junto contigo, todos os teus toques a minha pele ia esquecer ao longo do tempo, mas para meu maior desgosto ficaste mais que nunca preso a mim.
Eu via-te, a cada sitio que passava, a cada memória que vinha, a cada toque a cada arrepio que sentia eu via-te e eu estava condenada a ver-te.
Eu pedia a Deus para te levar embora da minha vida e ele levou, mas nunca lhe falei nada de ele te tirar da minha própria pele, eu era o diabo que tu deixaste preso em mim, eu era a dor que tu causas te, eu era o teu próprio monstro.
E eu tinha nojo, nojo de olhar para mim, nojo de olhar para ti, nojo de olhar para todos os lugares aos quais tínhamos memorias juntos, nojo de me tocar de qualquer forma por saber que tu já me tinhas tocado e chorava, chorava como um menino mimado, chorava sem motivo, mas chorava.
Eu já não aguentava olhar para mim e ver me daquela forma, eu não aguentava passar horas e horas escondida com medo do mundo, com medo que o mundo inteiro veja aquilo que deixas-te em mim..
Eu enjoava ao pensar em ti novamente, eu já não te amava, mas ao mesmo tempo que me fizeste perder todo o amor por ti, fizeste me perder todo o amor por mim também.
E queria, queria voltar a olhar me no espelho com o mesmo amor que tinha antes de apareceres na minha vida, queria voltar a ver-me a mim, e não a ti, no reflexo do meu espelho, aquele pedaço de vidro que tantas memorias de mim guardou. Tu foste embora, fisicamente foste embora, mas eu nunca achei que conseguisses deixar marcas tão grandes e tão negativas em mim, psicologicamente eu já não existia, e agora fisicamente também já não me via.
O que me restava? O que me resta? Resta me ser reduzida a nada e aceitar uma vida dessa forma?
Tu não me bates-te, mas as marcas que me deixaste, são, a coisa mais feia que eu tenho em mim.
Fizeste me passar de menina a mulher em três tempos, fizeste me crescer da pior e mais dolorosa maneira, fizeste de mim uma mulher, uma mulher que já não aguentava mais a dor da vida.
E pela segunda vez, eu pensei..eu pensei e pensei bem.. refleti comigo mesma se a vida tinha tanto valor assim..
Não importa, nunca ninguém vai conhecer as minhas dores, nunca ninguém vai voltar a amar me, nunca ninguém vai voltar a olhar para mim, até porque eu já não sou ninguém.
E no dia que eu me for, eu de ti, não levo nada.
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Agora dizes me Adeus? -CONCLUÍDO
Non-FictionDeixei de acreditar em contos de fadas no dia em que me destruiste o corpo e a alma. Vivi uma história de terror ao lado de quem acreditava poder ser protagonista do meu conto de fadas. Não sei se me amas-te, mas sei que infelizmente te amei. Isto é...