Corre.

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Eram 3h da tarde quando decidi que ia sair, já à imenso tempo que não passava um bom bocado na minha companhia.

Num ápice do momento decidi amar me e cuidar de mim, pus a minha melhor maquiagem, o meu melhor conjunto, uns saltos bonitos e saí.

Ao sentir o vento fresco na cara por momentos achei que estava prestes a entrar numa nova etapa da minha vida, até o mundo me provar exatamente o contrário, não saí com intenções de nada, mas levei com tudo, quando eu pensei inocentemente que o mundo não era assim tão mau, algo aconteceu.

Um carro, preto, de vidro esfumado, parou ao meu lado, de inicio achei que fosse alguém que precisasse de ajuda e prontamente me aproximei, mas quando o olhei nos olhos eu sabia que o que ele queria não eram informações, e um frio congelante me passou pelo corpo, uma reza baixa começou a ecoar pela minha cabeça, e tudo à minha volta ficou preto, era eu e ele, e eu estava em desvantagem.

De início apenas perguntei o que desejava, e após ouvir a voz rouca daquele ser que se chama de homem eu tinha a certeza que algo estava por vir, "Quero-te a ti, boneca", um silêncio atormentador reinou naquele espaço e eu esperava não o quebrar, afastei me lentamente, quase como automático comecei a andar pela direção contrária à do carro, eu sabia que não era assim tão fácil e ele estava a adorar, parou o carro e deu marcha atrás, parou à minha frente e como num flashback tudo aconteceu de novo, "Queres ir tomar café linda?", mais uma vez disse que não, mais uma vez tentei lentamente me afastar, estava a tremer, a suar, mas no fundo esperava que nada daquilo passasse de um pesadelo.

Era quase como um jogo de rato e gato, eu fugia e ele vinha atrás, eu virava na esquina e ele virava na próxima, e no final, eu não tinha capacidade de fugir, o jogo já estava ganho antes mesmo de eu aceitar jogar, eu desisti, educadamente pedi para parar, e disse que não estava interessada, ele sorriu, um sorriso que de início parecia puro e sincero, até eu me lembrar que lidava com o próprio diabo, ele abriu a porta, inclinou o corpo para fora e tentou tocar-me, um turbilhão de memórias apareceu na minha mente, e o enjoo e o medo de voltar a ser tocada sem o meu consentimento consumiu me, as pernas já não andavam, a cabeça me pesava, os olhos já so viam preto, e eu estava num estado de total desespero.

Eu não conseguia acreditar, não era real, não conseguia ver nem entender a razão pela qual a vida me escolheu para isto, eu não conseguia continuar a fingir que a vida era perfeita, ou até fácil, até hoje só ganhei sofrimento, um menos doloroso que o outro, mas nunca felicidade.

Quando senti a mão dele quase a tocar na minha eu acordei, num choque absoluto eu despertei, pus de lado todo o sentimento de nostalgia e angústia e fugi, corri como uma maratonista perto da meta, corri como alguém que corre para salvar a vida, e talvez estivesse, não a vida mas o resto do meu bom senso, aquele que me era essencial e que tanto me faltava.

Corri, corri mais veloz e mais rápido que uma leoa, corri a uma velocidade desumana, corri para esquecer, para me libertar, para que tudo aquilo que não pertence a mim caísse, pelo menos era assim que me sentia, uma leoa, um animal selvagem que corre pela sua vida, pelo seu bom senso, pela sua felicidade.

E foi aí que percebi que talvez não estivesse a correr na velocidade certa, que provavelmente eu preciso ir mais e mais rápido atrás do que me faz feliz, talvez essa felicidade esteja a uns quilômetros de distância e eu esteja a correr demasiado devagar..
É altura de correr!

...

Nunca mais te vi, sei que eu não fui a primeira nem a tua última "vitima" sei que não fui a primeira nem a última que te dei tesão e à qual tentaste algo, não fui a primeira, mas no que depender de mim serei a ultima.

Eu lembro me do teu rosto, do teu nariz forte, da tua barba rasa, do teu cabelo negro em perfeita sintonia com o frio e sombrio dos teus olhos, a tua cor escura como a noite a condizer perfeitamente contigo.

Podes até te esquecer de mim, mas eu, eu nunca me esquecerei do teu rosto, escumalha.

Agora dizes me Adeus? -CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora