Capítulo 6

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Tainá arregalou os olhos castanho-claros quando me viu entrar pela porta do consultório.

- Eduardo?! Achei que não voltaria mais hoje! – exclamou, retirando os fones de ouvido e deixando o celular sobre a mesa. – Estava ouvindo música. Sabe como é... Não tivemos pacientes, então...

- Tudo bem – eu disse, ofegante, e gesticulando para que ela não se justificasse. – Pode ir para casa, Tainá.

- Tem certeza? – pela parecia curiosa. – O senhor está com uma aparência... estranha.

- Estranha? – encarei a moça de brancura pálida, braços e pulsos finos, que me fitava como se eu fosse um extraterrestre.

- Desculpe – ela disse, mordiscando os lábios. – É que o senhor não parece nada bem. Quer que eu passe um café?

- Sim... – respondi, coçando a testa. – Pode passar, sim. Depois, vá para casa.

Fechei-me na sala e fui ao lavabo lavar o rosto. Eu precisava raciocinar; recolocar os pensamentos no eixo.

Nas últimas horas, eu não estava me comportando como eu mesmo. Como terapeuta, pelo menos em uma primeira instância, eu deveria saber o que estava havendo. Contudo, gradualmente estava se tornando mais e mais difícil controlar aquela... coisa... que parecia crescer e querer explodir dentro de mim.

Peguei o celular. O aparelho já havia identificado automaticamente o sinal da rede wifi do consultório. Algumas mensagens enviadas via Whatsapp apareceram; quatro, todas de Flávia.

Vc poderá me ver esta semana. Preciso muito.

Meu marido me ligou. Disse que vai viajar para Miami de novo. Ficarei sozinha. Quero morrer.

Preciso de sexo. Meu corpo está em chamas. O que faço?

Sexo? De que adianta sexo? Tenho medo da dor e do vazio que vêm depois. Vc poderá me atender? Sim ou não?

Suspirei, esfregando as mãos no rosto.

- Por que você não deixa em paz? – murmurei, largando o celular sobre a mesa.

"O que estou falando? Ela é minha paciente! Se estivesse em paz, não precisaria de mim. É assim que as coisas funcionam na profissão de terapeuta. Algumas pessoas têm problemas, e, outras, ganham dinheiro com isso".

Peguei novamente o aparelho e procurei o número de Amanda, minha supervisora. Assim que pressionei sobre seu nome, a foto de Amanda com chapéu de sol e óculos escuros surgiu, juntamente com o sinal de que a ligação estava sendo feita.

Uma vez por mês, normalmente numa sexta-feira, nós nos víamos. Todo terapeuta tem seu supervisor; talvez, uma forma de também manter a sanidade diante de tanta sandice. Contudo, de verdade, eu precisava da ajuda de Amanda.

- Vamos... – murmurei, esperando ser atendido.

O bipe da caixa postal indicou que ela não atenderia a ligação.

- Mas que merda! Amanda, estou precisando falar contigo... – eu desabafei, olhando para a tela do iPhone.

Tentei novamente e, outra vez, surgiu o bipe da caixa postal.

O MonstroOnde histórias criam vida. Descubra agora