A voz de Alberto era tensa, apesar de ele tentar parecer relaxado. Ele iniciou a conversa perguntando sobre futilidades; coisas acerca do trabalho, Nataly e sobre a nova data em que iríamos fazer trilha de bike. Por fim, desembuchou, falando que precisava conversar algo sério comigo.
Marcamos de nos encontrarmos na Padaria Nova Roma, um lugar um tanto requintado, mas, ao mesmo tempo, discreto.
Quando estacionei o carro, avistei, através da janela ampla, Alberto já sentado em uma das mesas. Aproximei-me da mesa e notei que ele já se servira de um expresso. A me ver, ele se levantou e me deu um abraço apertado. Uma sensação incômoda tomou conta de mim, e o primeiro pensamento que me veio à mente foi o de que ele havia descoberto que estava doente; algo como uma doença grave e terminal.
- Obrigado por ter vindo, e desculpe-me pela insistência – ele disse, voltando a se sentar. – Pede um expresso. Vou pedir outro também.
Aceitei e ali ficamos por alguns segundos, um olhando para o outro.
- O que está havendo, Alberto? Você está tenso! Eu...
Meu amigo soltou um longo suspiro. Enfiou a mão no bolso da camisa e jogou seu celular sobre a mesa.
- Olha, Edu, o que vou te dizer dói muito em mim. Acredite.
- Está me deixando nervoso – falei, abrindo espaço na mesa para que a atendente colocasse as duas xícaras de expresso sobre a mesa.
- Vou direto ao assunto, porque não tem jeito fácil de falar uma merda como essa para um amigo. Você sabe que eu e Sílvia trabalhamos juntos há muito tempo, não é?
- Há pelo menos dez anos, pelo que me lembro – falei, experimentando o café.
- Pois bem – ele continuou. – Não trabalhamos no mesmo departamento, mas nos encontramos vez ou outra nas reuniões gerais. Acontece que, de uns tempos para cá... eu não saberia precisar exatamente quando... comecei achar Sílvia estranha.
- Sílvia? Achei que você queria falar de você! - fui pego por uma sincera surpresa. – Não estou entendendo.
- Deixa eu terminar – Alberto olhava para o vazio. – Perguntei a ela o que estava havendo, mas ela dizia que era cansaço. Inicialmente, eu aceitei, mas logo minha esposa começou a ficar estranha também.
- Valéria? Mas o quê...?
Valéria e Sílvia eram muito próximas. Por não poder ter filhos, a esposa de Alberto dirigia toda a sua atenção e cuidado para Sílvia que, por sua vez, gostava de ser tratada de modo diferenciado, com um carinho especial. Isso unia ainda mais as duas.
- Achei coincidência demais – ele disse. – Ela evitava ficar sozinha comigo, parecia temer que algum assunto sobre o qual ela não desejava falar surgisse. Então, um dia, eu pressionei. Havíamos saído com um casal de amigos e bebemos um tanto a mais de vinho. Aproveitei e...
Alberto esfregou a testa, como se procurasse pelas palavras certas.
- Eu já estava de saco cheio do joguinho que Valéria estava fazendo e cheguei a pensar que algo estava errado com nosso casamento. Você sabe, estamos longe de seremos um casal de contos de fadas.
- Casais de contos de fadas não existem.
- Pois é. Mas eu não podia nem em sonho imaginar o que estava perturbando Valéria.
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O Monstro
Mystery / ThrillerO que você faria se soubesse que tem somente sete dias de vida, e tivesse acabado de descobrir que sua esposa é infiel? Meandros da mente humana e o potencial destrutivo que todos possuímos são abordados em "O monstro", publicado exclusivamente no...