Capítulo 11

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QUINTO DIA - 25 DE AGOSTO


A mulher de pele horrenda da recepção do pequeno hotel inicialmente me olhou com desconfiança. A pobrezinha devia ter sofrido com espinhas e acnes da juventude, uma vez que tinha o rosto todo marcado por problemas de pele mal cuidados. Seus olhos espertos, cravados num rosto redondo, me fitaram de cima a baixo.

- Temos quartos, sim – ela respondeu, diante de meu questionamento sobre se havia vagas no lugar. – Só não entendo por que alguém como o senhor iria querer se hospedar aqui.

Deixei a mochila cair sobre o tapete velho e encardido e sorri.

- Trabalho com vendas – eu disse. – Na verdade, me pagam uma merreca de ajuda de custo, então, tenho que economizar no que posso.

A mulher suspirou, aparentemente convencida, mas ainda pensando o que um sujeito como eu, visivelmente estudado e vestido com roupas de marca, fazia numa espelunca como aquela, cujos hóspedes variavam entre homens acompanhados de prostitutas e drogados que procuravam por um lugar solitário para se picarem.

Ela girou a cadeira e, num único impulso, fez com que seu enorme corpo fosse conduzido até uma pequena prateleira onde várias chaves estavam penduradas.

- O senhor tem preferência? – ela perguntou, me encarando por cima do ombro esquerdo.

- Tem algum quarto com vista especial?

Ela sorriu, entendendo minha ironia.

- Fique com este – disse, me estendendo a chave, presa a um chaveiro de plástico retangular onde se lia "Hotel Adriane". – É o que tem melhor banheiro.

Peguei a chave e agradeci.

- Só não beba água da torneira. Nosso encanamento é velho – ela disse, ainda me observando. – Não que o senhor tenha cara de quem faz esse tipo de coisa, mas não custa avisar.

- Obrigado – agradeci, tentando ser gentil.

Subi o lance de escadas, contando os degraus; doze, no total. Cheguei a um corredor mal iluminado, cujo único ponto de luz era uma lâmpada presa por um fio. As paredes estavam manchadas de bolor e o piso rangia a cada passo meu.

Parei diante da porta que tinha o número 7. "Estranha coincidência", pensei. No quarto ao lado, de número 6, um casal gemia e ofegava como animais no coito.

- Não se surpreenda – eu murmurei. – Afinal, no fundo, todos somos animais.

Enfiei a chave e a porta abriu. O interior do cômodo parecia limpo, se comparado a todo o resto naquela espelunca.

Deixei a mochila sobre a cômoda e esparramei-me na cama. O colchão velho cedeu com meu peso e pude sentir o incômodo de minhas costas se chocando contra o estrado.

Ergui o braço, suspendendo a mão na altura dos meus olhos. Meu relógio marcava uma e meia da manhã.

Depois de deixar Sílvia sobre nossa cama, certamente pensando e arrependida por todo mal que havia me feito, saí de carro e rodei sem rumo por horas a fio. Precisava colocar algumas ideias no lugar, principalmente, definir os rumos a tomar; rumos que fossem condizentes com o novo eu que brotava dentro de mim.

Estacionei em um modesto posto de beira de estrada e desci. Estava faminto. Pedi um sanduíche e uma coca e me acomodei em uma mesa no fundo do estabelecimento. Enquanto esperava pela refeição, deixei meus pensamentos rodopiarem a toda velocidade.

O MonstroOnde histórias criam vida. Descubra agora