Capítulo 9

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QUARTO DIA - 24 DE AGOSTO


No meio da manhã recebi alta. Os exames confirmaram que meu coração voltara a bater de modo ritmado, mas isso se devia à medicação. O doutor Sérgio Matos insistira para que, na segunda-feira, eu agendasse, com urgência, uma consulta em um cardiologista de modo ter um acompanhamento próximo do problema.

Concordei com o doutor, sem esboçar reação. Como prometido, na primeira hora da manhã Sílvia chegara ao hospital, e ficara ao meu lado até receber alta. Ela estranhou o fato de eu estar calado e taciturno, e eu justifiquei, culpando os medicamentos e o sono ruim.

Minha mãe me ligara algumas vezes também, marcando de ir em casa pela tarde.

- Você está estranhamente quieto, Edu. Estou preocupada – frisou Sílvia, diante do volante do carro e olhando para mim com um misto de curiosidade e apreensão.

- Não é nada, não se preocupe – respondi de modo vago. – São os medicamentos. Me deixam grogue.

Mal sabia minha querida esposa que, tudo o que minha boca não falava, minha mente processava e gritava a um som ensurdecedor.

Ela pareceu aceitar a desculpa e deixou o estacionamento do hospital rumo a nossa casa. No trajeto, liguei para Tainá e pedi desmarcasse as consultas de segunda e terça-feira. Expliquei, brevemente, que estava com problemas de saúde; nada grave, porém, o médico havia pedido repouso de alguns dias e não havia outro jeito, senão desmarcar as consultas.

Minha secretária pareceu preocupada, questionando-me sobre meu estado. Isso, de algum modo, me deixou feliz; ela se importava comigo.

- De qualquer forma, vá até a clínica e cumpra seu horário – eu insisti. – Pode ser que algum paciente apareça ou ligue. Você tem que estar lá para atender.

- Pode deixar, senhor Eduardo – ela respondeu. – E o senhor se cuide, hein. Trabalha demais, precisa relaxar.

Fechei os olhos e refleti sobre o tom de voz da garota. Era um tom amistoso, terno. Ou seria convidativo? Estaria aquela jovem com péssimo gosto para combinações e roupas se insinuando para mim? Ser objeto de desejo de duas mulheres numa mesma semana era algo raro para alguém como eu. Flávia, depois Tainá. Quem sabe, no final da vida, eu havia ganho a sorte grande?

- Vou tentar – eu disse, me despedindo e desligando o celular.

- O que é esse sorriso de canto de boca, Edu? – perguntou Sílvia, olhando de soslaio para mim. – O que sua secretária te disse?

- Nada. Somente para eu me cuidar.

- Sei... não é o que sua expressão diz – disse Sílvia, fazendo a curva. Diante de nós, estava a portaria do condomínio.

Acenei para o porteiro como sempre fazia e seguimos. Notei que meu carro estava na garagem – possivelmente, alguém o havia tirado do estacionamento do shopping e levado para lá – e Sílvia estacionou o Sedan dela no espaço vago.

- Pedi para Nataly preparar algo para o almoço. Espero que ela tenha obedecido – disse, saltando do carro como se estivesse pronta para ir ao trabalho, cumprindo horário em um dia qualquer.

- Falando em Nataly, precisamos conversar sobre ela – eu disse, saindo do carro. Sentia-me um pouco grogue ainda, mas, de modo geral, estava fisicamente bem.

O MonstroOnde histórias criam vida. Descubra agora