Capítulo 8

35 5 1
                                    


TERCEIRO DIA - 23 DE AGOSTO



Acordei em um quarto claro e silencioso. Minha primeira reação foi olhar para minhas mãos e mexer os dedos. Quando o fiz, notei que, na ponta do meu dedo indicador, havia um tipo de oxímetro. Os bipes de ritmo constante e a luz clara foram me dando dicas perfeitas do local em que eu me encontrava.

- Que bom que o senhor acordou – disse uma voz feminina, vinda de algum lugar do quarto de hospital em que eu estava. – Vou chamar o doutor Matos.

Fiz um esforço hercúleo para conseguir pronunciar uma palavra, mas só saíram gemidos inaudíveis. Ergui o pescoço e olhei em volta. Eu estava sobre uma cama coberto até a cintura com um lençol verde claro. Minha camisa e calça haviam sumido, dando lugar a uma camisola com o logo do Hospital São Camilo.

"Deve ter sido grave", pensei. A última coisa de que me lembro foi de um grande cansaço e, em seguida, sentir minhas pernas amolecerem até toda energia se esvair de meu corpo.

- Como vai, senhor Bernardi? – perguntou um senhor de barba branca e cabelo escuro, físico avantajado e camisa coberta por um avental com o logo do hospital. Segurava uma prancheta e um envelope saco branco. – Eduardo Bernardi. – disse, ao ler o que pareceu ser meu prontuário – Esse é o nome do senhor?

Não respondi.

- Podemos conversar uns minutinhos?

Qual opção eu teria?

O médico puxou uma cadeira, que, originalmente, estava junto a uma mesinha sobre a qual havia m vaso com flores roxas de plástico.

- Sua esposa e filha estão aí fora, mas gostaria de conversar a sós com o senhor primeiro. Pode ser?

Meneei a cabeça positivamente.

- O que houve comigo? – perguntei, finalmente.

- Do que se lembra?

- Estava no shopping. Com minha filha. Depois, tudo ficou escuro.

- O senhor desmaiou – disse o médico. – Meu nome é Sérgio Matos; fui eu quem atendeu o senhor.

Balbuciei algo sem nexo, e o médico continuou:

- Lembra-se do que sentiu antes de perder os sentidos?

- Membros adormecidos, cansaço súbito. Acho que foi isso. Depois, não me lembro de mais nada – falei. – Quem me trouxe para cá?

Os socorristas do shopping prestaram os primeiros-socorros; em seguida, o paramédico do Corpo de Bombeiros de lá trouxe o senhor. Fizeram um bom trabalho. O senhor teve sorte – o doutor deu uns tapinhas leves no meu braço.

- O que aconteceu?

- O senhor teve uma síncope. Tivemos que reanimá-lo – disse o médico, olhando novamente o prontuário. Só então notei que, através de meu braço esquerdo, algum tipo de medicamento estava sendo ministrado. A bolsa, suspensa por uma haste, já estava quase vazia.

- Ministramos alguns analgésicos para que não sinta dor. Mas eles podem deixar o senhor um pouco sonolento. É normal – disse o médico. – Fizemos exames preliminares, e, claro, teremos que realizar mais. Constatamos uma séria arritmia cardíaca, senhor Bernardi. Sabe o que significa?

- Meu coração não está batendo direito?

- Mais ou menos isso – o médico explicou. – Sua esposa explicou-me que o senhor é terapeuta. Então, tem conhecimento na área da saúde, não?

O MonstroOnde histórias criam vida. Descubra agora