― Desculpe... Eu entendi? Ela está grávida de você? ― ainda congelada no lugar. Achei que meu peito seria esmagado, estava doendo demais.
—Sim, ela está grávida e diz que é meu ― o encarei. Ele estava com um olhar tão triste no rosto que me deixou mais dolorida. Não podia com aquilo. Por que caralho eu achei que daria certo essa porra de se comprometer e se apaixonar? Tudo mentira, dava mais dor de cabeça mais do que valia a pena. Pelo menos para mim.
—Então é isso, Edu? Vocês voltaram e vão casar? ― olhei pro chão. A reação da menininha apaixonada e agora super fodida querendo tomar conta. Levantou-se rápido, segurando meus braços e me fazendo encará-lo naqueles olhos que me fizeram perder o rumo... e o juízo.
—Não, eu não estou voltando com ela. Eu nem sei se esse filho é mesmo meu! ― parecia desesperado. Mas pra mim era demais tentar entender. Eu não conseguia nem formar uma palavra. ― Lú? Pelo amor de Deus, isso foi antes de conhecer você! Eu a deixei em Amsterdã porque ela estava me traindo ― aquela declaração me fez encará-lo em descrença. Eu podia ser inexperiente nessa coisa de compromisso, mas eu era mulher.
—E essa vaca diz que é seu? Você é o quê? Burro?! ― comecei a alterar a voz e ele me soltou, em choque.
—Você me chamou de burro? ― encarei-o, furiosa. O que ele queria? Era um idiota mesmo.
—Chamei, sim. Você pensa o quê? Vai assumir filho de outro? Isso soa como burrice pra mim ― não me abalei por sua expressão de raiva e ele continuou me olhando, com as mãos no quadril, estreitando os olhos. ― O que, Edu? Na boa! Nunca assistiu novela, leu livro ou algo assim? Mais antigo que o mundo ― não disse nada. ― Ah, quero que se foda! ― me virei, indo para a porta. Ele me agarrou no segundo seguinte, me fazendo encará-lo com aquele corpo delicioso colado no meu. E o cheiro, me anestesiando. Ah, droga, eu nem conseguia raciocinar.
—Você me chamou de burro? ― repetiu. Além de tudo, era surdo o maldito. Eu balancei a cabeça em positivo, porque aquela proximidade me deixava mentalmente incapaz. ― Você sabe... eu queria te dar uma surra e depois te fazer gritar meu nome por causa disso. ― falou baixinho, com uma covinha se espreitando no seu sorriso de lado, e eu comecei a ofegar. Fechei os olhos. Aquilo estava fodidamente fora de lugar. Achei minha língua e um pouquinho do juízo.
—Me solta, quero sair daqui ― o sorriso sumiu no ato, e seu olhar mudou para aquele de desespero.
—Vamos conversar mais. Eu quero você, Lú, quero que seja minha. Eu não vou deixá-la atrapalhar, eu juro.
—Eu realmente preciso sair daqui ― enfatizei, porque, caralho! Eu passei aqueles dias todos querendo ser dele, do jeitinho que ele dizia, mas a equação tinha mudado e eu não estava pronta, ainda não. Eu só queria ir pra casa chorar e gritar, e depois eu veria. Depois... Não naquele momento.
― Lú...
—Por favor, eu não posso. Não agora ― me soltou e se afastou. Eu só queria pular nele.
—Não vou desistir de você ― fechei os olhos e respirei fundo, antes de responder algo que penderia a balança da minha vida.
—Por favor, Edu... Não desista ― me virei para sair e não fui impedida daquela vez. Eu precisava pensar melhor. Se possível, quebrar a cara daquela vaca assim que eu descobrisse o nome e onde estava, porque eu não podia entregá-lo de bandeja. Mas eu precisava daquela pausa, eu tinha o direito de avaliar, e nada melhor do que uma reunião da corte suprema. Cheguei ao carro, e as duas pararam de falar quando me viram. Eu as impedi de perguntar, porque eu desmoronaria se fizessem.
—Só me tirem daqui... Por favor ― elas eram mulheres e entenderam... Às vezes, espaço é tudo que precisamos, porque mulher é foda. Você é derrubada e aí se levanta, mas no processo se torna mais forte e decidida. No momento, eu estava na fase "derrubada no chão", e o tombo ainda doía.
Eram duas e meia da manhã, eu não estava em uma festa, nem na praia com ninguém e ainda estava acordada! Minha cabeça girava tanto. As meninas foram unânimes: "não larga o osso". E eu não iria. Mas como bater de frente com um filho? Um possível filho do Edu com uma tal de Bruna? O nome da vaca arranquei do Fernando depois de imprensá-lo na parede e ele confessar que sabia que o Edu estava indo à praia naquele dia. Maldito, eu podia arrancar as bolas dele e jogar para os cachorros. Desgraçado.
Levantei chutando os lençóis e andei até a cômoda, pegando o gatinho de papel. Voltei, sentando na cama. Tinha tudo para dar certo... "A Lú que eu conheço vive tudo, não fica pensando no que teria sido. E isso é o que eu mais admiro em você". As palavras de Flávia estavam repetindo na minha cabeça. Estava na hora de começar a lutar, e a Lú não entrava pensando em perder. Christina Perri cantando baixinho no meu som "Thousand Years" me fez renovar o pensamento.
"Toda a minha dúvida de repente se vai de alguma maneira Um passo mais perto (...)"
Daria aquele passo. Peguei meu celular, pouco me lixando que eram quase três da manhã, e mandei uma mensagem para o Edu.
"Quando acordar, preciso que me envie três palavras..."
Esperaria a resposta e iria atrás dele. Mostraria para aquela vaca que ele era meu... O resto eu podíamos viver. Me assustei com o celular vibrando na minha mão.
"Eu quero você."
Pela primeira vez desde que aquela merda começou, me permiti um sorriso. De verdade. Ele estava acordado... queria e me teria. Eu não respondi. O dia seguinte seria diferente, e eu lutaria pelo meu deus das covinhas pirocudo.
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AMORES DE LÚ
RomanceLuciana, mais conhecida como Lú, é uma jovem desencanada com a vida. Ela curte tudo o que pode e se recusa a se prender em um relacionamento convencional e se tornar, como ela diria, "uma menininha". Sua vida está toda no lugar e se classifica livre...