Nostalgia.

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Suas pernas tremiam quando Patrick se viu em frente a casa de seus pais.

Sua antiga casa.

Ele havia ligado determinado a contar tudo para os seus pais.

Conversa vem, coragem se vai e quando o rapaz se deu por aí já estava aceitando ir almoçar em um domingo na casa deles.

Ao invés de sair de uma confusão, Patrick só entrava cada vez mais.

Seus pais moravam no interior de São Paulo, a casa era enorme e estava da forma como ele se lembrava da última vez que havia posto os pés ali. Era como se o tempo não houvesse passado para ela, o rapaz até sentia o cheiro da comida de sua mãe.

Ah! Como ele queria ter apenas sete anos, sua vida não era tão bagunçada assim.

Patrick tocou a campainha e esperou, logo Dona Vera a governanta da casa o atendeu.

-Patrick! -Ela sorriu e beijou suas bochechas. -Mas que saudades de você, meu rapazinho! Como você está lindo!

-Como a senhora está, Dona Vera? -Ele disse entrando e a abraçando.

-Eu estou ótima, mandarei José pegar as suas coisas e...

-Eu não trouxe nada além dessa mochila...

Dona Vera franziu as sobrancelhas ao olhar a pequena mochila toda surrada.

-Só ela?

-Não vou ficar muito tempo, Verinha! Amanhã já tenho que ir embora!

-Pois é, meu filho! -Dona Vera abriu um sorriso como se entendesse tudo. -Vida de Pastor não é nada fácil!

Patrick sorriu coma sua voz sumindo em dia garganta. Se eue não conseguia nem contar para a governanta da casa, imagine para os seus pais.

Os dois entraram e logo Paula veio correndo até Patrick juntamente com Antônio.

Patrick era filho único. A gravidez que o gerou foi muito complicada, sua mãe já havia perdido dois bebês, e o nascimento do rapaz foi um milagre. Paula já estava beirando a faixa dos quarenta. Tinha os cabelos tão loiros que pareciam fios de ouro, era uma mulher pequena, com a pele clara, parecia até de porcelana.

Já seu pai era totalmente oposto, enquanto Paula parecia ser tão frágil, Antônio era o porto seguro. Alto com a pele marcada pelo sol, os cabelos negros e os olhos tão azuis quanto o céu. O porte em boa forma mostrava que mesmo em uma idade já difícil para a maioria dos homens, ele não dava o braço a torcer.

E eram assim, os pais de Patrick eram ótimas pessoas, e fizeram de tudo para que Patrick tivesse um futuro ótimo, quando o rapaz avisou que queria ser Pastor uma alegria imensa surgiu entre ambos, e o jovem se lembrava quando seu pai havia conversado seriamente com ele, e ah quem dera se Patrick o houvesse escutado!

Mas naquele tempo o garoto só se importava consigo mesmo e satisfazer a si mesmo.

-Patrick, antes de você ir a fundo nessa sua vontade de ser Pastor, precisamos conversar. -Antônio falou em uma noite de sexta-feira. Patrick havia acabado de chegar da igreja e os dois se sentaram próximos a lareira.

-Pode falar, pai. -Patrick respondeu, mas em sua cabeça se perguntava o que seu pai falaria, afinal ele já sabia tudo!

-Você sabe que ser Pastor não é brincadeira, não é meu filho?

-Sei sim.

-Não é porque o Lucas e o Vitor querem ser Pastores que você precisa ser!

Lucas e Vitor eram os melhores amigos de Patrick, os três eram inseparáveis, e não seria um título que os separariam.

-Eu sei, pai. -Patrick disse respirando fundo.

-Ser Pastor não é uma profissão que você simplesmente escolhe! -Antônio continuou falando, mesmo percebendo a cara de cansaço de Patrick. -Ser Pastor é...

-Dar a vida pela das outras pessoas, é priorizar o problema do povo crendo que Deus irá resolver o seu. É não pensar em reconhecimento, não se colocar a cima de ninguém, antes o povo, por último você. -Patrick completou o que seu pai falará.

-Vejo que você sabe. -Os olhos azuis de Antônio pareceu escurecer de repente. -Eu espero que não seja apenas um texto decorado, Patrick. Espero que você saiba de verdade o peso dessas suas palavras.

Patrick sorriu:

-Fique calmo, senhor Saturnino, não há nada que você precise se preocupar. Eu sei de tudo!

Ah! Que grande mentira! Patrick quase sentiu vontade de chorar, se ele tivesse escutado a voz de seu pai e não o seu orgulho idiota! Ele não teria quebrado a cara!

-Filho! Que saudade eu estava de você! -Os olhos escuros de Paula se encheram de água.

-Mãe, por favor...

-Eu já disse para a sua mãe! -Seu pai sorriu. -Ela tem que deixar de ser mole! Vida de Pastor é assim mesmo!

-Eu ainda sou humana, Tom! Eu ainda choro pelo meu bebezinho!

Patrick sorriu tristemente.

-O que foi, meu filho? Aconteceu alguma coisa? -Antônio perguntou.

Patrick acenou com a cabeça com a garganta se fechando:

-Eu preciso contar uma coisa para vocês.

Os dois olharam apreensivos para seu filho:

-Eu não sou mais, Pastor.

Feito de OrgulhoOnde histórias criam vida. Descubra agora