Basta estar vivo.

441 58 1
                                    

"Querido, Patrick,

Queria que você soubesse que foi o único rapaz que eu amei verdadeiramente, assim como você, não faço ideia se Valéria é ou não a sua filha, mas eu torço muito para que seja, ela merece alguém como você.

Já eu? Eu não merecia, Patrick. Eu sei que você tentou me ajudar, eu sei que tem solução, mas eu sei que Deus não vai me aceitar. Patrick eu sou uma pessoa horrível, e por mais que eu tente voltar, eu não consigo.

Acho que não tem esperança para mim.

Acho não, enquanto eu escrevo isso, eu tenho certeza.

Você disse que Deus poderia mudar a minha vida, mas eu não consigo mais acreditar em nada, Patrick. Eu só vejo como uma nuvem preta ao meu redor.

Essa nuvem me afasta das pessoas e afasta as pessoas de mim.

Cuide que a Valéria fique bem.

Eu te amo.
Ass: Jennifer Garcia."

Patrick ficou abraçado ao corpo de Jennifer até os bombeiros chegarem. O rapaz não chorava mais, talvez não tinha mais lágrimas para escorrer dos seus olhos, ele apenas soluçava sem saber o que fazer.

Mesmo que ele estivesse ali abraçado ao corpo, o rapaz sabia que naquele momento, Jennifer estava longe e ele não poderia fazer mais nada em relação aquilo.

Isso partia o coração de Patrick profundamente. Era uma dor que não parava e ele só sabia encarar a parede branca do hospital e repetir para si mesmo para que a realidade fizesse sentido.

Jennifer está morta.

Jennifer se suicidou.

Jennifer fez a escolha dela, mesmo sabendo das consequências.

Dona Lina apareceu no hospital alguns minutos depois, Patrick não conseguiu conversar muito com a mulher, ela apenas pegou Valéria e levou para sua casa. Foi difícil fazer a garotinha ir, ela sabia que tinha algo errado com o seu pai e não queria deixá-lo sozinho, mas depois de um tempo, a menina deixou ser levada.

Patrick respirava fundo. Eram três horas da manhã quando Larissa chegou e se sentou ao seu lado.

-Patrick... -Ela sussurrou e o rapaz apenas a abraçou.

Ele se sentia como um garoto de sete anos novamente, assustado, triste e precisando de alguém para cuidar de si.

-Ela se foi, Lari... -Patrick falou com a voz abafada no ombro de Larissa. Instantaneamente, as lágrimas vieram com toda a força e novamente Patrick estava chorando.

Larissa esperou pacientemente Patrick se acalmar enquanto acariciava suas costas em um gesto de consolo. Quando finalmente o rapaz levantou o rosto, a jovem limpou as lágrimas e sorriu:

-Está tudo bem.

-Eu molhei sua camiseta inteira. -Ele sussurrou rouco.

-Não importa, amigos são para essas coisas, né? -Ela falou e sentiu que os dois estavam próximos de mais um do outro. A respiração quente de Patrick batia em seu rosto. Larissa fechou os olhos e se afastou do rapaz.

Não era o momento.

-Sim, amigos são para essas coisas. -Ele respirou fundo. -Sabe, eu não entendo...

-O que você não entende?

-Jennifer estava na igreja desde de adolescente, ela sabia que o suicídio não é a solução e mesmo assim ela fez...

-Patrick. -Larissa colocou as mãos nos ombros do rapaz. -Enquanto a pessoa não tiver o Espírito Santo, ela está sujeita a isso. Mesmo que ela não esteja no pecado, mesmo que ela tente andar na linha. Por mais que ela não tenha coragem, chega uma hora que chega. Está escrito que a pessoa que não tiver o Espírito Santo, esse tal não é dEle. Por isso, precisamos reconhecer que pela força do nosso braço não conquistamos nada, precisamos nos entregar a Deus, de corpo, alma e Espírito. Cem por cento, não noventa e nove vírgula nove... -O celular dela começou a tocar. -Preciso atender, é a minha mãe.

Patrick concordou e Larissa se levantou.

Ao contrário das outras pessoas, Larissa não havia dito palavras de consolo para Patrick. Havia dito palavras que o incomodaram.

Ele sabia o que faltava ainda. Ele ainda tentava resolver as coisas do jeito dele.

Patrick pensou em esperar o horário para ir até a igreja, mas ele sabia que poderia ser tarde de mais. O rapaz não tinha coragem de cometer o suicídio, mas sabia que para morrer bastava apenas estar vivo.

E ele não estava pronto.

Patrick se levantou e foi até o banheiro.

Feito de OrgulhoOnde histórias criam vida. Descubra agora