O acidente.

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-Jesus? Por favor, Teresa! Cadê a Bela Adormecida que namorei alguns meses atrás? -Patrick gritou olhando para ela e ainda continuando a andar de costas.

Era óbvio que as palavras da moça o havia atingido, mas Patrick tinha que continuar se fazendo de forte.

Ele havia dito que não se arrependia de nada... mas só Deus sabia o quanto ele queria voltar. Mesmo que sua vida não fosse totalmente entregue a Deus, ele podia dizer que tinha um pouco de paz, tinha conforto, tinha pessoas que poderiam ajudar... Agora ele não tinha ninguém.

Teresa olhou para o lado, mas Patrick continuava a encarando. A garota se virou assustada para ele, mas o rapaz não entendeu nada.

Ela correu até ele desesperada no meio da rua, tudo parecia correr em câmera lenta, e Patrick só entendeu uma coisa: "Olha a moto!"

O rapaz olhou para o lado e a luz do farol da moto era cegante. Ela vinha a toda velocidade em direção ao rapaz, e Patrick sabia que se não saísse dali, iria morrer, mas suas pernas não lhe obedeciam.

Dizem que quando estamos a beira da morte toda a sua vida passa em frente aos seus olhos. Mas Patrick não pensou em nada, só no medo que se instalava em seu peito de que não estava pronto para morrer.
E por apenas três segundos antes que a moto o atingisse em cheio o rapaz sentiu as mãos longas de Teresa contra o seu peito o empurrando.

Patrick sentiu suas costas baterem com toda força contra o asfalto molhado da avenida. Dor fez com que seus olhos se enchessem de lágrimas misturando com a chuva que caia sem trégua.

Ele sentiu novamente ser dono de seu corpo e se obrigou a se colocar de pé analisando toda a situação.
Várias pessoas já vinham ao encontro dos dois. Um homem alto segurou o seu cotovelo e perguntava incansavelmente se Patrick estava bem, mas ele não estava.

Ele tinha quase sido atropelado.

Algumas pessoas também ajudavam o outro rapaz que pilotava a moto a ficar de pé, pelo visto ele também não havia se machucado. E aí seus olhos se desesperaram, onde estava Teresa?
Mesmo com a chuva atrapalhando e a iluminação péssima, ele a achou encolhida do outro lado da Avenida. Patrick correu até ela e mesmo que soubesse que era arriscado mexer no corpo de alguém após um acidente o rapaz não se conteve, virou o corpo da moça e sentiu um aperto no coração.

-Teresa?

Os olhos da moça se mexeram devagar. Seu peito subia e descia lentamente.

-Chamem uma ambulância, temos um ferido! -Marcos gritou. Patrick reconheceu o Obreiro, mas duvidava que ele o reconheceria.

-Patrick... -Ela sussurrou e começou a tossir. -Eu vou morrer?

-Teresa, eu... -Ele ficou horrorizado só em pensar na possibilidade. -Não! Você não pode...

Ela tossiu mais uma vez e sangue escorreu da sua boca.

-Olha, Patrick...

-Fica quieta, Teresa! -As pupilas dos olhos de Patrick estavam dilatadas de medo. -Para de falar se não você vai morrer!

-Eu não me importo... -Ela sorriu.

Patrick a olhou incrédulo, como a garota poderia ter paz em um momento como aquele. -Se fosse alguns meses atrás eu estaria da mesma forma que você...

-Já liguei para a ambulância, eles estão a caminho! -Alguém gritou.

-Teresa para de brincar com a morte! Isso é algo sério!

-Então por que você brinca com ela? -Os olhos dela se fechavam e sua respiração ficava mais rápida.

-Eu não... -Patrick ia negar, mas era verdade. Por que então ele brincava com a morte?

-Prometa para mim que vai buscar ajuda. Antes que eu morra, prometa!

-Você não vai morrer!

-Prometa! -Ela falou mais alto o que acarretou mais uma onda de tosse e sangue.

-Prometo. -Ele disse entre lágrimas.

-Jesus ainda quer você... -Ela sussurrou e fechou os olhos.

As lágrimas quentes se misturavam com as gotas frias da chuva. Todo o corpo de Patrick parecia adormecido, mas sua mente estava a milhão.

Levaram Teresa para ambulância, logo todos foram embora, e antes que alguém desse por falta do rapaz ele se escondeu nas sombras. Mexeu nos bolsos em busca de seu cigarro e quando ia acender se lembrou da pequena promessa. O sol já despontava os seus primeiros raios e Patrick não fazia a menor ideia de quanto tempo ficará ali olhando para o cigarro em suas mãos. Era domingo, e ele resolveu ir até a porta da igreja.

Feito de OrgulhoOnde histórias criam vida. Descubra agora