Lágrimas.

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Por melhor que fosse a roupa que Patrick escolhesse, ele sabia que nada melhoraria a sua aparência interior. A tristeza era nítida em seu rosto, mas pela primeira vez, o rapaz não sentiu necessidade em esconde-la.

Várias pessoas passavam por Patrick, davam bom dia e entravam na igreja sem se darem conta de quem ele realmente era. Ou que ele havia sido, talvez não fosse tão ruim, talvez ninguém se lembraria dele, talvez...

-Pastor Patrick! -Dona Vera cumprimentou o jovem amigavelmente. -Quanto tempo!

-Ahh, oi Dona Vera! -Ele forçou um sorriso.

-Aonde o senhor está agora? Em que igreja? Fiquei muito triste com a sua partida!

Patrick engoliu em seco e abriu a boca para responder, mas nenhum som saiu. Como explicar para aquela senhora que sempre esteve presente em suas reuniões, que cuidava dele como um filho, que ele não era mais Pastor? Que pior, ele tinha não só saído da Obra, mas havia tirado uma Obreira também?

Mas antes que Patrick precisasse responder, uma outra senhora chamou Dona Vera que com um pesar se despediu do rapaz, não sem antes prometer que após a reunião voltaria a falar com ele.

A reunião que Patrick nem sabia se iria participar.

-Ora, ora! Vejam se não é o príncipe perfeito, Pastor Patrick... Quer dizer, só Patrick. -Ícaro o cumprimentou fazendo a boca de Patrick se amargar.

Ícaro era um Iburd que Patrick havia feito de sua vida um verdadeiro inferno. Tudo que acontecia de ruim o rapaz arranjava um jeito de colocar a culpa nas costas de Ícaro. Sempre Patrick se sobressaia em qualquer coisa, fazendo com que o jovem ficasse de escanteio.

-Olá, Ícaro.

-Achei que você iria para qualquer outra igreja, menos a nossa.

-Resolvi fazer uma visita.

-Você não tem vergonha na cara? -Ícaro perguntou sem sarcasmo nenhum. -De verdade! Depois de tudo ainda voltar! -Patrick engoliu em seco. -Sabe, eu pensei em muitas vezes delatar você para o Pastor, mas eu não o fiz. Acreditei mesmo que você poderia mudar! Mas não! E aí eu vi que eu não precisava cutucar, fruta podre cai sozinha! Só que o pior foi você ter levado a Jennifer com você! Não ficou contente em ir para o buraco sozinho, tinha que levar a garota! Graças a Deus que Teresa se despertou e viu que ficar com você seria um tiro no próprio pé! Por que você fez isso?

-Eu não preciso dar satisfação do que eu fiz para você. -Patrick sussurrou com a garganta se fechando.

-Olha para você! Não precisa ser nenhum gênio para enxergar que você nunca conheceu a Deus! Você só estava para atrasar a Obra! Mas agora teve o que mereceu! -Ícaro o olhou de cima a baixo. -Seu estado é lamentável. Só espero que você não venha fazer mais pessoas caírem, se você quer ir para o inferno, vá sozinho!

Patrick sentiu os olhos arderem.

-Ícaro? -Um rapaz moreno o chamou e sua expressão não era a melhor como se tivesse escutado a conversa.

-Sim, senhor Pastor. -A cor fugiu do rosto de Ícaro.

-Todos os Iburds, na sala de campanha. O Pastor quer falar com todos vocês.

Ícaro abaixou a cabeça e seguiu para dentro do salão.

-Eu sou o Pastor Auxiliar, Ricardo. -Ele estendeu a mão e o cumprimentou.

-Ricardo? Onde está o Pastor Rafael?

-Ele mudou de igreja.

-Ahhhhh...

-Está tudo bem?

-Sim.

-A reunião já vai começar, vamos entrar?

-Eu não sei se vou entrar.

-Por quê?

Patrick tentou engolir as lágrimas, mas não tinha forças. Ele queria dizer que ele não era digno, ele queria dizer que sabia o quanto ele havia sido ruim, que se ele pudesse voltar atrás ele não teria acabado com a vida de Jennifer, que ele queria concertar o erro... Mas ele não conseguia.

-Eu... Não posso entrar lá... -Ele falou chorando.

-Por quê?

-Ninguém me quer lá.

O rapaz colocou a mão no ombro de Patrick.

-Não importa o que você fez, Jesus quer.

Patrick olhou para a porta.

-Eu já vim aqui tantas vezes, mas eu não consigo entrar.

-Eu não vou te obrigar. Você já fez tantas escolhas ruins, acho que está na hora de fazer algumas boas.

Patrick concordou e andou até a porta.

-Bom dia, antes de entrar eu preciso que você tire seus sapatos, para que eu possa lavar os seus pés... -A voz tão amigável de Teresa sumiu ao olhar para Patrick.

O rapaz engoliu em seco ao encarar aqueles enormes olhos esverdeados. Teresa vestia uma camisa branca e uma saia preta que indicavam que ela havia sido levantada a Colaboradora da Igreja. E pensar que ela no mesmo tempo que Patrick saiu, ela entregou o uniforme, mas estava ali, como se nada tivesse acontecido.

Teresa havia escolhido ficar. Ela havia escolhido a boa parte.

-Lavar os meus pés? -Ele perguntou e Teresa se ajoelhou. -Não, Tess. -Ele sentiu a garganta se fechar novamente. -Eu não acho justo que você faça isso.

Ele queria gritar falando que ela deveria era chutar ele por todo o mal que ele havia feito, mas mesmo em meio aos protestos de Patrick o rapaz foi obrigado a tirar os sapatos e Teresa os lavou e enxugou.

Descalço sem olhar para a garota o rapaz se sentou no último banco.

Feito de OrgulhoOnde histórias criam vida. Descubra agora