Meus pais.

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-Eu não sou mais Pastor. -Patrick falou e esperou a decepção nascer no rosto de seus pais.

O rapaz se lembrava claramente da primeira vez que havia decepcionado os dois, era um motivo besta, mas ele havia jurado que nunca mais faria algo assim.

Prova de português que Patrick odiava, ele nunca ia entender o porquê de ter que estudar aquilo. Conclusão, seus pais foram chamados pelo péssimo desempenho escolar nessa matéria e a expressão de decepção no rosto de ambos pareceu partir o seu coração em dois.

Depois disso ele sempre procurou ser perfeito, não importa o que ele precisasse fazer, ele não os decepcionaria.

Patrick esperava que os dois o olhassem como se ele tivesse entregando a prova com a nota baixa, mas os olhos de ambos não demonstravam decepção, demonstravam pena, como se eles já esperassem que aquilo acontecesse.

-Oh meu Deus. -Antônio sussurrou quebrando o silêncio.

-Eu sei, pai. Pode falar "eu te avisei que a obra de Deus não era brincadeira!" Eu mereço! -Patrick falou sem se importar com a lágrima que escorria em seu rosto.

Ele não tinha mais nada para se orgulhar.

-Eu não vou falar isso. -Antônio o olhou preocupado. -Venha, vamos nos sentar, e aí você pode nos contar o que houve.

Então Patrick contou tudo, ele podia sentir os suspiros de seus pais, mas em nenhum momento eles o interromperam para julgar ou coisa parecida.

-E então eu fui tirado da Obra. -Patrick falou por fim.

-Já faz quanto tempo isso? -Antônio perguntou por fim quebrando o silêncio.

-Quase um ano.

-E por que você não veio até nós, meu filho? -Paula perguntou. -Como você ficou? Você não tinha nada! Aonde você está morando? Aí meu Deus!

-Eu achei que vocês não me aceitariam...

-Somos seus pais, Patrick! -Antônio o olhou surpreso. -Somos Obreiros também, mas acima de tudo somos seus pais! Nós te amamos!

Patrick sentiu mais lágrimas virem, como ele odiava chorar! Como ele poderia ter pensado que seus pais eram monstros?

-Me perdoem... -Ele abraçou ambos. -Por favor, me perdoem.

Os dois o abraçaram fortemente.

-Nós nunca iríamos desistir de você, meu filho. -Antônio sussurrou.

Como Patrick era sortudo! Não era todas as pessoas que tinham pais como os dele. Silenciosamente ele agradeceu, Patrick não aguentaria mais julgamentos.

Assim que os três se separaram, Patrick respirou fundo e sorriu:

-Eu estou bem... Eu aprendi muita coisa, sofri bastante, mas estou me erguendo! Não estou usando mais drogas, nem nada...

-Drogas?! -Paula o olhou horrorizada.

-Sim, mãe. Quando eu fui morar na rua eu acabei me envolvendo com drogas... Foi a pior fase da minha vida, mas eu finalmente resolvi parar de lutar com a força do meu braço, e eu aceitei a ajuda de Deus. -Ele respirou fundo. -Mas eu estou bem agora, estou caminhando, comecei a fazer um curso para melhorar profissionalmente...

-Você está morando aonde?!

-Na igreja, pai. Mas não vai ser por muito tempo, o Pastor Ricardo está me ajudando!

-Filho, você pode vim morar com a gente, pega as suas coisas! -Antônio já estava se levantando. -Seu quarto ainda está lá, eu só irei mandar a governanta arrumar, e...

-Eu não vou voltar a morar com vocês. -Patrick falou.

-O que você disse? -Os dois o olharam assustados.

-Não tem como eu bagunçar a minha vida toda e deixar que vocês arrumem tudo sozinhos. Eu já tenho vinte anos, tenho que me virar!

-Mas...

-Sem mais, pai.

Os dois se olharam em silêncio. Eles sabiam como Patrick era decidido em suas opiniões, dificilmente eles conseguiram o fazer mudar de ideia.

-Tudo bem. -Ele falou derrotado.

-Mas e a ex-Obreira que saiu com você? Como ela está? -Sua mãe perguntou e sua boca amargou.

Como explicar para os seus pais que ele havia simplesmente rejeitado a garota sem saber se o filho era ou não seu?

Feito de OrgulhoOnde histórias criam vida. Descubra agora