A Herdeira do Conde

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  Castelo de Bran. 1462, Romênia.

— Um dia... Um dia eu juro por Deus... Que ainda conseguirei me livrar dessas benditas amarras que espremem-me as costelas do corpo! — Dizia Rachel gemendo com a dor enquanto uma das servas do castelo apertava o corset ajudando-a à entrar no vestido roxo extravagante deixando-a completamente sem ar.

— Eu sei que é desconfortável milady, mas é necessário, a corte proíbe que a filha do conde ande desajeitada. — Sorriu a serva educadamente mantendo uma distância adequada de Rachel.

— Desculpe, mas tu és a nova moça daqui não é mesmo? Refresque-me seu nome novamente por favor? — A voz de Rachel era desta vez suave, bem feminina e frágil. 

  Ela é uma moça completamente inocente e entusiasmada, de longos cabelos ondulados de cor castanho combinando com os olhos penetrantes, e sorria com o ar inocente de uma adolescente da nobreza em busca de problemas ao perguntar para a moça tímida qual era o seu nome.

— Eu sou a serva daqui senhorita, meu nome é Johanne Dubravka. — Respondeu olhando para baixo.

— Bom Johanne. Eu odeio a palavra "serva" então enquanto estiver aqui, irei chama-la pelo nome, e portanto, me chamará de Rachel, tudo bem? — Perguntou lhe dando um sorriso calmo e condescendente.

— M-Mas milady, se o conde Alucard...

— Meu pai não precisa saber de nada. Ele quase não fica em casa, e eu não saio por ordens dele. Se for pra ficar aqui presa, prefiro fazer amizades. Portanto na minha frente me chame Rachel. Me sinto mais confortável assim. Odeio me sentir sendo a proprietária de alguém, prefiro me sentir próxima. — Respondeu piscando para a moça de cabelos castanhos escondidos através de um fillet branco. — Agora é sério... Eu quero muito um dia poder andar nua sem ser chamada de meretriz! — Respondeu caminhando desconfortavelmente pelo quarto para olhar-se no espelho e despertando um sorriso tímido da boca da serva.

  Johanne era uma moça de postura elegante, e muito bem educada. Trabalhar para a corte deveria de fato ser bastante exaustivo, especialmente para a família Alucard, tendo como patrão o próprio conde, que era conhecido pelo seu ar de seriedade. 

  Alguns, mencionavam ele como um demônio por tamanha maldade em sua forma de destruir seus inimigos. Já Lilian Alucard, mãe de Rachel era exigente. Possuía um ar de superioridade em relação as servas, algumas das moças do castelo espalhavam rumores de que Lilian queria ter outro herdeiro, desta vez um homem para que governe o castelo. Porém Vlad estava sempre fora do castelo e nunca tendo olhos para nada além de sua filha e acabou por ignorar o pedido da esposa em querer ter um segundo filho. Vlad queria Rachel no trono. Porém ela não. O que deixava Johanne completamente confusa, afinal qual dama não se sentiria honrada de assumir tamanha responsabilidade? Era tão raro que uma mulher tivesse no comando de algo, e mais raro ainda que um membro da corte não ansiasse por ter outro filho e desta vez um filho homem!

    Então como assim Rachel não queria?

***

  Enquanto isso nos aposentos do famoso e sanguinário Conde Alucard, estava lá sentado de pernas cruzadas enquanto analisava a situação atual frente a frente com o rei da Prússia. Frederich II.

— Deixe-me analisar corretamente. — Disse o conde alisando sua barba escura vagamente enquanto entregava ao rei um olhar maligno de rancor. — Eu prometi a minha filha... Ao teu filho. — Respondeu respirando fundo logo em seguida. —Minha ÚNICA menina, ao teu filho... Para que venha me dizer que pretende cancelar o casamento, vossa majestade? É isso mesmo?

— Escute Vlad. Eu sei que ama a Rachel de todo o coração... Mas convenhamos, ela frágil demais. Tão frágil que nem sequer permite a menina de sair do castelo! Como vou permitir que meu filho se case com alguém que no momento em que respirar o ar imundo da Romênia, se torne completamente afugentada a adoecer e morrer?! Meu filho será rei, Vlad! E uma rainha saudável é o que ele precisa. Rachel infelizmente não é tão saudável assim não é mesmo?

— Rachel pode ser uma garota frágil, mas ela seria uma ótima rainha. — Sua voz era como uma bomba, mantendo a paciência até o prezado momento em que explodiria na frente do rei.

— Eu tenho a mais completa certeza disso, mas não é a correta para o meu filho. Sem contar que Valáquia está perdendo o poder Vlad. A corte fugiu. E o único corajoso o suficiente para enfrentar o reino da Inglaterra, foi... Você! Logo a Romênia irá cair! E então o que? Irá dar ao meu filho uma esposa doente e um reino falido? Sinto muito Vlad. Não posso permitir que tal barbaridade aconteça. — Respondeu se levantando e conquistando a atenção do conde que o observava saindo de seus aposentos e levando os seus olhos até Rachel que ninguém havia notado sua presença até então.

  O rei a encarou um pouco embaraçado, curvou-se em sinal de respeito, porém Rachel não se curvou de volta, apenas olhou para seu pai que se levantou de sua poltrona apto a se explicar, entretanto, ela já havia se voltado contra a porta e deixado os seus aposentos.

— Rachel! — Chamou Vlad inutilmente ao seguir a filha que estava chateada o suficiente para não se importar com o andar desfalecido e desajeitado. — Rachel, pare! — Ela parou antes de subir as escadas. — Me perdoe, e-eu... Não queria que tivesse escutado aquilo.

— O que meu pai? Que sou "frágil "demais, e que nunca irei conseguir me casar? Que sou inútil para o senhor já que não nasci um homem? Se eu fosse o conde, tentaria um novo herdeiro antes que seja tarde demais. — Respondeu se virando, mas seu pai a agarrou pelo braço engrossando a voz ao falar.

— Você é a minha herdeira! Pare de falar bobagens! E daí que seu casamento foi desmarcado? Isso não tira sua autoridade como futura condessa, ou rainha da Romênia! — Respondeu largando o braço de sua filha vagamente e respirando fundo. — Sei que as coisas não estão como planejado ultimamente Rachel, mas vai melhorar... — Disse soltando um leve sorriso. — Vamos! Seu aniversário está chegando! O que vai querer de presente? — Entusiasmou-se enquanto arrumava sua espada em sua armadura.

— Sair daqui. Ver o mundo. Ver gente. Conhecer gente... — Respondeu e logo o conde fechou a cara. Era claro a resposta, isso seria impossível.

— Sinto muito... Me peça qualquer outra coisa e trarei à você minha filha. Eu faço qualquer coisa por você. Sabe disso! Mas não me peça para sair...

— Então prefiro passar meu aniversário dormindo e conversando com as paredes. — Deu-lhe a sua resposta entre os dentes ao se virar e subir as escadas largando seu pai completamente sozinho.

Alucard: O Início - Vol 1 - Uma história Renegados do Inferno - Vol 1Onde histórias criam vida. Descubra agora