O Homem Encapuzado

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  O cantarolar de uma música clássica do século XV saia da garganta do homem encapuzado. Ele parecia calmo e tranquilo, sem se preocupar ou gritar por socorro. Na verdade, ele parecia não se importar muito em estar naquela situação.

— Visitantes, isso é uma surpresa. — Ele respondeu ainda com a cabeça baixa escondida através do capuz acinzentado de pano velho.

 — Quem é você? — Perguntou mantendo a distância.

— Alguém. Assim como você.

— Por que está aqui?

— Por que o seu... Amigo, me mantém aqui.

— Sim, eu percebi isso. Mas porque ele te prendeu aqui? — Ela perguntou franzindo o cenho da testa desconfiada.

  O homem hesitou em responder, mas por fim, soltou um sorriso de canto e ergueu um pouco a cabeça revelando os olhos azuis e a barba mal feita de um homem sério e rústico.

— Por que ele acredita que fui o responsável pela morte de sua família. — Respondeu ele com aquela voz grave e medonha. Ao contrário de Rachel que mantinha uma voz sexy e vampírica.

— Foi você? — Perguntou com um tom agressivo na voz.

— O tolo aponta dedos e o sábio fica quieto. — Respondeu encarando Rachel enquanto os fios de cabelo caiam por cima do seu rosto. — Não. Eu não fiz nada. Mas como pode notar. — Desviou o olhar para encarar todo o quarto repleto de passagens da bíblia. — Eu sou um demônio poderoso. — Sorriu de novo.

— Se é tão poderoso, por que não sai daqui sozinho? Por que deixou que um humano lhe capturasse e lhe torturasse?

— Pelo mesmo motivo que você deixou. — Rachel franziu o cenho da testa mais uma vez confusa.

— Como...

— Sei que é um demônio? Tu não sente que sou um demônio também?

  O sangue dele era mesmo diferente. Rachel notou que o cheiro dele não era ruim, mas era diferente. Não era nem humano e nem animal. Era demoníaco.

— Não somos iguais, estou aqui por motivos bem diferentes do seus. — Disse Rachel e ele fez que sim com a cabeça claramente não acreditando muito bem sem suas palavras.

— Estou deixando um homem me torturar para aliviar a culpa que ele tem nas costas. — Respondeu a pergunta anterior de Rachel do motivo de estar ali.

— Mas não é culpa sua da família dele ter sido massacrada!

— E nem é culpa sua, estar se matando para encontrar uma "cura". 

— Como sabe disso?

— Eu vejo o desespero em seus olhos minha jovem. Você é igual a mim. Procurando por respostas nos lugares errados.

  Rachel refletiu sobre mais de uma vez. Se ele era mesmo um dos demônios da qual Johanne comentou... Então ele veio do inferno e...

— Talvez...

— Hum?

— Conhece a pessoa que fez isso comigo?

— Quem sabe se me der um nome eu não conheça.

— Elizabeth Bathory Karnstein. — Respondeu sem hesitar e o homem encapuzado se calou com aquela expressão séria exalando o medo em Rachel. — Ela me transformou em uma vampira... E desgraçou toda a minha vida.

— Vampira? O que é isso?

— Uma espécie de... Morto-vivo? — Perguntou mais do que respondeu fazendo o demônio rir. — A conhece ou não?!

— O inferno é um lugar grande menina. Mas se tem algo que eu conheço, é que o habita. Meu dever como um dos sete grandes. — Sete o que? — Sim. eu a conheço. Elizabeth consegue ser a pior das megeras até mesmo no inferno.

— Sabe onde posso encontra-lá? — perguntou Rachel finalmente confiante.

— Não ainda. — Respondeu tirando a esperança da vampira a sua frente. — Porém eu também estou a procura dela. Planejo arrumar um jeito de devolver os demônios ao inferno. Tirar a dor que foi causado com a invasão deles. Elizabeth é a principal e a primeira da lista.

— Porque?

— Por que ela tem planos um tanto... Diabólicos.

— Que planos são esses? — Perguntou Rachel e o demônio encapuzado sorriu.

— Já deve ter se perguntado o motivo de Elizabeth ter feito o que fez com você não? — disse ele e Rachel abaixou a cabeça completamente entristecida. — Assim como todos nós. Os demônios já foram anjos. E no caso, Elizabeth e diversas outras eram anjas inteiramente lindas, tão lindas que abusavam do poder da beleza para causar nos anjos um dos pecados proibidos. Luxúria, desejo. Isso fez com que ela e outras anjas que abusavam de sua beleza fossem expulsas do céus e terem sua face completamente deformada, e a aparência de uma bruxa negra. De poderes angelicais, passaram ter poderes negros. E então nasceu a sua obsessão pela beleza eterna.

— Espera um momento... — Rachel fez sinal de pare com a mão e franziu o cenho da testa indignada. — Está me dizendo que... Essa mulher destruiu minha vida INTEIRA. Para obter... Beleza eterna? — Perguntou e o homem fez que sim com a cabeça.

— Provavelmente.

  O choque foi tanto que Rachel apenas conseguia arregalar os olhos sem entender o motivo de tanta... Injustiça...

— A vítima perfeita... — Disse Rachel em voz alta. — Jovem bela e... Morrendo... Fraca ao ponto de fazer com que um pai desesperado busque ajuda a qualquer um que diga ter uma cura para uma doença incurável...

— Exatamente. A vítima perfeita. — Um barulho saiu da garganta de Rachel despertando a curiosidade de Belzebu. E de um barulho aumentou-se para uma risada. Completamente diabólica.

  Dava para ver que ria de trauma. De ódio, de cada vez mais ânsia por vingança...

— Agora imagine outras como ela. — Disse ele e aquilo despertou o olhar da vampira. — Outras ansiando pela beleza eterna. Outras vítimas perfeitas assim como você. — Rachel ficou séria desta vez. Aquilo seria um desastre. — Imagine se ela tivesse o poder absoluto nas mãos, se ela pudesse não só fazer mais demônios como a ti, mas também poder controlá-las como marionetes para o próprio feitio.

— Ela tem esse poder?

— Ainda não. Mas terá. No momento em que ela achar o que procura, e é por isso que preciso achar Elizabeth antes que isso aconteça.

    Porque será que a condessa estava sentindo cheiro de parceria no ar?

— O que me diz? Eu te ajudo enquanto tu me ajudas.

— Como posso confiar em ti?

— Do mesmo jeito que terei de confiar em ti.

  Rachel encarou o homem encapuzado pensativa. Não conseguia focar o bastante devido a fome que lhe chamava. 

— Volto depois com uma resposta, preciso subir, Van está voltando... — Respondeu ela se virando. 

— Como sabe? — Perguntou o homem curioso.

— Por que eu sinto o cheiro do sangue dele e de mais alguns demônios se aproximando pela mansão. O que só me dá mais vontade de matar de novo... — Respondeu bufando em ódio ao subir de novo as escadas e fechar a porta. Aquele lugar estava deixando Rachel cada vez mais afadigada.




Alucard: O Início - Vol 1 - Uma história Renegados do Inferno - Vol 1Onde histórias criam vida. Descubra agora